Dia 09 de junho de 2005

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No outro dia eu estava acabado. Minhas costas doíam, meus olhos ardiam e a cabeça latejava. Me envolvi num roupão, peguei uma caneca de café na cozinha e, chegando na sala, me lamentei pelo estado do meu sofá. Peguei uma cadeira, liguei a TV e esperei o tempo passar, com uma coberta por cima, já que de manhã fazia um frio terrível onde eu morava. Toda aquela bagunça, minha solidão e um filme, que eu não lembro o nome, passando na TV, traziam um ar sombrio ao momento. Eu parecia o Pica-Pau sem dinheiro e, como ele, eu queria muito ter uma boa ideia e me dar bem no final. A ideia que surgiu não era a que eu esperava.

O papel com o lugar e o horário estava em uma mesinha ao lado do sofá. Pensando em desistir, levei o papel até a cozinha e peguei um fósforo. Acendi e me preparei para queimar todo aquele projeto em cima da minha pia, em nome de toda a raiva e solidão que eu tinha na minha vida, pronto para jogar Baltazar, o governo e todos os seus submissos em cinzas pelo ralo. Mas não consegui. Atrás do papel estava escrito "Siga sua intuição". Eu jamais queimaria um conselho. Então eu pensei "que droga, mãe", apaguei o fósforo e levei o papel até o meu quarto. Me vesti com a mesma roupa de ontem, peguei meu rádio e olhei o relógio. 7 e 40. A reunião aconteceria às oito.

Cheguei lá de táxi mais rápido do que imaginava, mas me deixou na frente de um beco escuro, as ruas mais próximas estavam vazias e as poucas pessoas que passavam por ali ainda estavam bêbadas ou vomitando. Nenhum ponto comercial estava aberto, nenhuma dona de casa passava com uma sacola com pães frescos e suco de uva, nenhum acidente, nenhuma discussão. Nada.

O beco era um ponto de destaque, formado pelo encontro de uma casa abandonada com os vidros quebrados e a porta lacrada por tábuas e teias de aranha, uma velha locadora de cartuchos de vídeo games, que estava fechada, e um edifício ao fundo. Fedia a podridão, cocaína e toda sorte de coisas horríveis. Estava cheio de drogados mais para o fundo e um homem com a cabeça dentro de um esgoto de tampa aberta, que pensei que estivesse vomitando, mas quando cheguei mais perto, percebi que conversava com alguém lá de baixo.

- O nosso convidado especial chegou! – Era Benito lá dentro, que entregou uns trocados para o homem – Desça aqui rápido.

O homem que guardava o esgoto abriu espaço, eu desci por uma escada e logo depois ele fechou com a tampa. Parecia um esgoto comum: fedia, uma água estranha corria por um canal e não era confortável. Exatamente como deveria ser. Esperava algo colossal ali dentro, então fiquei bem surpreso quando não vi nada. Benito olhava para as águas malcheirosas como se quisesse se lembrar daquele momento para o resto da vida.

- É aqui mesmo?

- Claro que não, seu tolo. – Riu e olhou para mim – Vou te levar até lá.

Segui ele até um alçapão e depois que ele desceu foi minha vez. Realmente estava muito bem guardado, poucas pessoas desconfiariam de algo assim debaixo de um esgoto. Lá embaixo era bem cheiroso apesar de tudo, vários homens e mulheres de jaleco, alguns com máscaras outros sem, mas a maioria trabalhando em uma espécie de líquido verde. Martini, algemado, com dois guardas o segurando, Lins e Baltazar também estavam ali, além do general e de vários homens do governo. Eu não parecia estar em uma missão boba para salvar milhões de pessoas que eu nem mesmo conhecia. Eu me sentia em uma reunião mafiosa com meus primos italianos, falando sobre a ameaça que representam as novas drogas artificiais para os nossos negócios.

Tudo aquilo me lembrava uma grande caixa de sapato, com exceção das lâmpadas e das pessoas. Mas a atração principal estava mais à frente. Uma estrutura colossal, bem maior que a plataforma em que estávamos, talvez com uns quatro ou cinco metros de altura contando apenas a parte acima da plataforma, porque ela se estendia até mais abaixo. Preenchia todo o subterrâneo até perder de vista, e, ligando ela à plataforma, uma câmara quadrada transparente, com mais ou menos uns dois metros por lado. Era mesmo incrível e resolvi me aproximar, mas antes que pudesse chegar perto o suficiente, Tomás me cutucou.

Depois de NósWhere stories live. Discover now