Capítulo 46

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Infelizmente, ninguém conseguiu achar o último pedaço da jóia. Quando decidi voltar para o quinjet, Laranja apareceu a minha frente dizendo que iria indicar o local. Seguimos ela para fora do templo, indo até a base da escada. Lá havia uma cabeça de serpente feita de pedra, onde bem escondida e cheia de poeira, estava a pedra. Estava cravada no olho da serpente.

Ava utilizou suas garras retráteis para tirá-la de lá, mas assim que retiramos ela, tivemos de correr para não sermos pegos pelas guardas locais.

Quando chegamos ao quinjet ninguém queria perder tempo. Juntei todos os pedaços da jóia e a coloquei na coroa. Uma tontura repentina tomou conta de mim, mas foi algo muito rápido e segundos depois eu já estava bem de novo.

— Loira, tudo bem? — Perguntou Ben.

— Huh, sim. Acho que é só cansaço.

— E agora? — Perguntou Ava.

Todos olhamos para Laranja, mas a mesma estava perdida em pensamentos.

— Laranja?

— Uh...? Ah, claro. O próximo passo de vocês é retornar ao Egito e adentrar a Câmara da Rainha Kasiya. Apenas a escolhida e seu parceiro devem entrar.

— Isso foi estranhamente específico. — Comentou Carol com sua típica expressão desconfiada.

— Laranja, explique, por favor. — Pedi.

— A Rainha Kasiya fora a amada do mestre no passado. A coroa pertencia a ela. Tudo começou com ela e com ela tudo terminará. Com sua coroa, eu quero dizer.

— Certo. Então, eu tenho que ir até lá e colocar a coroa na câmara da rainha Kasiya. Mas o que isso tem a haver com a professia?

— Assim que a escolhida colocar a coroa, os Herdeiros serão lançados ao Reino das Sombras para sempre. O local contém grande quantidade de poder para fazer com que isso seja possível.

— A gente não podia... Sei lá, ter pego as jóias antes? — Perguntou Ava.

— Vocês acharam a pedra que me permite me materializar junto com a coroa. Como poderiam achar as outras jóias sem mim?

— Faz sentido.

Olhei para a coroa em minhas mãos. Estávamos tão perto de terminar aquela missão contra os Herdeiros e eu estava feliz porque não teríamos nenhuma morte. Mas algo estava errado, eu pudia sentir.

A equipe decidiu que tiraria um dia de folga. Fomos para uma hospedaria a alguns metros do templo e pedimos alguns quartos para podermos descansar. Peter e eu pedimos um para nós dois e enquanto Pete tomava banho, decidi tirar um cochilo rápido. Deixei a coroa em cima de uma escrivaninha e me deitei na cama, segurando com os dedos o rastreador que Tony havia me dado. Pensei nele e em todos que estava sentindo falta, e acabei apagando.

Não sei por quanto tempo eu dormi, mas assim que acordei, me vi em uma sala estranha. Era toda de pedra e empoeirada. Havia uma mesa de pedra no meio. Percorri a sala em busca de uma saída, mas não encontrei nada.

O que estava acontecendo? Como fui parar ali?

De repente, uma voz feminina ecoou pelo lugar. Era estranha, falava em uma língua desconhecida mas pelo seu tom pude perceber que coisa boa não era. Apesar de não entender nada, percebi que ela repetia a mesma frase.

Não, isso não pode estar acontecendo!

Fechei os olhos com força e quando os abri novamente, vi que estava no meu quarto na hospedaria. Peter não estava comigo.

— Argh, como odeio esses sonhos!

Me levantei da cama e fui em direção ao banheiro tomar um bom banho quente.

***

Algumas horas depois...

Estava deitada em minha cama quando Laranja aparaceu. Ela estava com um semblante triste, como se algo a estivesse incomodando.

— Laranja? 'Tá tudo bem?

— Não sei. Eu... Eu fiz uma coisa ruim.

— O q... Que coisa?

— Eu... Hm.

— Tudo bem. Pode me contar.

— Uh... Você sabe que meu mestre é o Karn, certo?

— Sim, claro.

— Nós, Tulpas, somos criadas para servir ao nosso mestre. Quando concluímos nosso objetivo, nós desaparecemos ou somos libertadas. Karn disse que eu serei libertada quando você cumprir a professia.

— Certo. E...?

— E eu estou enfrentando um dilema terrível e qualquer decisão que eu tome, vai acabar prejudicando um dos dois lados.

— E esses dois lados são Karn e eu?

Ela assente, concordando.

— Que dilema é esse?

— Não posso dizer. Ele não permite.

Nossa.

— Posso te pedir uma coisa? — Ela pergunta em um tom baixo de voz.

— Claro.

— Me promete que, independentemente da decisão que eu tome, você não vai me odiar?

— Eu não sei se posso. Nos conhecemos a pouco tempo, eu não sei nada sobre você.

Ela abaixa os ombros tristemente.

— Entendo.

— Mas posso prometer que tentarei entender o seu lado.

— Obrigada. — Ela sorri — Fico mais tranquila.

— Ótimo. Agora sente aqui e me conte mais sobre essa Kasiya.

Laranja se aproximou a passos curtos de minha cama e se sentou próximo a mim. Parecia desconfortável em falar do assunto, mas mesmo assim concordou em me contar.

— Kasiya era uma mulher forte e determinada. Ela conheceu o mestre depois que seu pai faleceu. Ele a ajudou em muitos momentos difíceis de sua vida e ela acabou se apaixonando por ele.

— É meio difícil imaginar Karn se apaixonando. Ainda mais por uma humana.

— Apesar de tudo, ele ainda tem um coração.

— Bem lá no fundo, né?

A Tulpa sorri, concordando.

— Os irmãos de Karn não gostaram nada de vê-lo compartilhando seus dons com uma humana e optaram por matá-la. Com ela ainda em seus braços, Karn jurou por um fim as crueldades de sua família. E, que somente assim, ele e sua amada poderiam ser felizes.

Franzi o cenho.

— E como isso seria possível? Ela está morta há o quê? Milhares de anos? Ele pensa em se juntar a ela ou algo assim?

— Mais ou menos isso.

— Contanto que ele fique longe do Aranhaverso.

— Uma vez que os Herdeiros estiverem presos no Reino das Sombras, não há escapatória. O Aranhaverso estará seguro.

— Que bom — Voltei a olhar para a tela de meu smartphone — Vou ver como meus amigos estão. Te vejo depois.

Ela assente, desaparecendo diante meus olhos.

***


Laranja reaparece há alguns metros dali ao lado de seu criador, Karn.

— O último pedaço já foi encontrado, mestre. Eles estão retornando ao Egito.

— Impecável como sempre, Laranja. Falta pouco para eu rever minha amada Kasiya.

Laranja voltou-se para Karn.

— O senhor não voltou com sua palavra, não é, mestre? Eu ainda serei libertada.

— É claro. Como prova de que cumprirei com o que eu lhe prometi, deixo que escolha seu nome e aparência para quando for libertada.

— Jura, mestre?

Karn assente.

— Eu... Eu quero que meu nome seja Ísis.

— Como a deusa egípcia?

— Sim. Ela era vista pelos egípcios como uma mulher forte e corajosa. Na minha nova vida quero ser assim.

Karn tocou o rosto de Laranja em uma demonstração de afeto. Ele, como criador dela, podia fazer isso.

— Está bem, pequena — Disse o caçador totemico — Que seja Ísis. E quanto a aparência? Não pode manter o rosto da Gwendolyn para sempre.

— Eu não me importo muito.

— Pois devia. Como agradecimento por sua lealdade, te farei uma bela mulher.

— Fico muito agradecida, mestre. O senhor me permite só mais uma pergunta?

Karn assente.

— Nunca mais veremos a Gwen? Não há um jeito de vê-la enquanto Kasiya estiver aqui?

— Gwen se mostrou a mulher certa quando seu coração ficou mais leve que uma pluma naquela balança. Que outra pessoa poderia ter esse mesmo êxito? Além disso, não encontraremos outra mulher com o mesmo rosto de Kasiya, assim como Gwen possui. Por isso não a matei quando a vi pela primeira vez. E quando ela me fez a inusitada, porém, corajosa oferta de eu me alimentar ao pouco de sua energia vital, eu soube que era ela. Como se Kasiya estivesse me dando um sinal.

— ... Mas há um jeito de os amigos dela a reverem, não é?

— Não. O único jeito é matando Kasiya e isso eu não vou permitir.

A Tulpa baixou seus ombros tristemente. Ela queria contar a verdade a seus novos amigos, mas estava amarrada aquele ser.

Spider-Gwen - Skrull Invasion - Livro VIWhere stories live. Discover now