Capítulo 50

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Enquanto assistia meus amigos retornando a Nova Iorque, ouvi um barulhinho estranho de algum lugar próximo a mim. Parecia ser água.
Comecei a andar em direção ao barulho e descobri, bem no centro de uma avenida, uma fonte. Enorme e muito linda.

— Ah... Você achou. — Dalila disse aparecendo ao meu lado de repente, me dando um susto.

— Não faz mais isso, por favor.

— Desculpe. — Ela dá de ombros.

— Que lugar é esse?

— A Fonte do Tempo. Através de suas águas você pode rever o seu passado. Mas com relação ao futuro...

— O que? O que tem o futuro?

— Ela não pode lhe mostrar o futuro porque o mesmo é algo inconstante, mudável. Ela só pode mostrar-lhe fragmentos, eventos que já estava destinados a acontecer. Como doenças e até mesmo a morte. Sugiro que não o veja.

Olhei para a fonte.

— Posso ver qualquer coisa da minha linha do tempo até esse momento?

— Exato.

— Então... Quero ver a minha mãe.

Dalila se aproximou da fonte e tocou delicadamente na água com a ponta de seu dedo. Alguns círculos se formaram antes de aparecer uma cena onde uma mulher, loira, segurava um bebê em seus braços. Papai estava ao seu lado, radiante.

— Mãe...

Aproximei a passos curtos, até que meus joelhos pudessem tocar a parede. Sentei-me e olhei aquela cena por algum tempo. Minha mãe era linda e tinha um sorriso doce. Ela me segurava com doçura enquanto cantava uma canção de ninar, e papai apenas nos observava com um sorriso bobo nos lábios. Senti meus olhos se encherem de lágrimas ao ver tudo aquilo.

— Queria poder ter conhecido ela...

— Sua mãe era uma mulher doce e gentil. E forte. Lutou contra o câncer com toda sua força, até seus últimos momentos.

— ... Câncer?

— Ela teve o que os médicos chamam de melanoma. Um câncer de pele muito perigoso e muito raro de ser curado quando em seu estado avançado. Sua mãe, infelizmente, não teve essa sorte.

— Meu pai disse que ela estava doente, mas não que fosse tanto.

— Ele queria te poupar do sofrimento.

Dalila voltou a tocar na água e uma nova cena apareceu. Nela, minha mãe estava numa cama de hospital com dificuldades para respirar. Os médicos faziam de tudo para salvá-la, enquanto papai me segurava no colo com uma de suas mãos em meus cabelos, tentando impedir que eu visse tal acontecimento. Ele estava chorando.

A última coisa que vi foi o eletrocardiograma mostrando que não havia sinais vitais.

Eu estava congelada. Meu coração parecia que tinha parado também de bater no meu peito. Eu sempre sentira falta de minha mãe, mesmo quando Helena entrou em minha vida. E agora, vendo-a naquele estado, a dor só piorou.

Dalila viu meu estado e tocou uma última vez na água. Dessa vez, mamãe estava viva. Ainda na cama de hospital, ela estava comigo em seus braços me contando alguma história. Ela tocou gentilmente meu rosto e me prometeu que nunca iria me abandonar e que sempre cuidaria de mim. Aquilo me trouxe um conforto repentino diante da dor que estava sentindo.

— Sua mãe cumpriu com a palavra dela.

— ... Como assim?

— Como você bem sabe, aqui é o lugar para onde seres como Karn e sua família são jogados quando são mortos. Não só eles, como os seres que eles matam. Pessoas que morrem por causas naturais ou por seus semelhantes, como os humanos, vão para outro plano. Vocês conhecem como paraíso, inferno e até mesmo purgatório. Mas o verdadeiro nome é Reino das Almas. E a guardiã de lá, também minha irmã, chama-se Pandora.

— Onde você quer chegar?

— A sua mãe estava lá quando morreu. Pediu a Pandora que pudesse de algum jeito zelar por você e minha irmã deu uma outra oportunidade a ela. Diga-me, Gwen, acredita em reencarnação?

Levantei-me sobressaltada agarrando Dalila pelos ombros.

— Não faz isso comigo! Minha mãe está viva?!

— Praticamente. Mas uma das regras da reencarnação é que você não lembrará de sua vida passada de forma alguma. Então, sua mãe não lembra de você. Mas o amor que ela sente continua o mesmo.

— Me fale quem é! Eu preciso saber!

— O nome da sua mãe era Helen Stacy. Isso deve ajudar.

— ... Helen? — Dei um passo para trás atônita — Helena...

Dalila me olhava sem expressão.

— Minha mãe é a Helena?

Dalila assentiu com um sorriso.

— Minha mãe é a Helena!

— Agora você entende o porquê de seu pai ter se apaixonado por ela depois de tanto tempo. Do porquê você se deu tão bem com ela e do carinho que vocês sentiram uma pela outra desde o início. Espero que suas dúvidas estejam esclarecidas.

— Ah, com certeza, estão — Sorri. — Mas e meu pai?

— George está bem no Reino das Almas.

— Ah, Dalila, muito obrigada!

Dalila sorriu. Essa era uma parte da qual ela gostava de seu trabalho. Ajudar uma alma a encontrar sua paz.

***

Nova Iorque...

Peter e seus amigos chegaram ao Sanctum de Strange. Todos cansados da longa viagem, mas dispostos a ir até o fim. Infelizmente o mago não estava presente, mas seu amigo Wong os recebeu, pois vira em seus rostos que algo grave havia acontecido.

— Strange deu uma saída, mas deve voltar logo. Em que posso ajudá-los?

— Você pode me fazer aquele copão de cerveja que o seu amigo fez pro Thor no filme dele? — Wade perguntou, juntando as duas mãos num gesto de súplica.

— Não sei do que você está falando.

Wade se jogou em uma das poltronas, parecendo aborrecido.

— Wong, nossa amiga teve o corpo possuído por uma doida em um ritual bizarro e a única forma de trazermos ela de volta é matando a doida que está com o corpo dela — Explicou Ava — Deu pra entender?

— Um ritual de substituição. Hm... Não é fácil matar alguém sem danificar o corpo. É preciso um feitiço nesse caso. Deixe-me ver nos arquivos.

Wong saiu apressado do local, deixando-os sozinhos e nervosos. Do outro lado da sala, Brix e Bora espreitavam os amigos de Gwen, tentando descobrir seu paradeiro. Eles não tinham a intenção de atacá-los, uma vez que sua pioridade era Karn e sua amada Kasiya.

Spider-Gwen - Skrull Invasion - Livro VIOnde as histórias ganham vida. Descobre agora