26.

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MALU


se passaram 6 anos mas foi como se fosse ontem.

Doí como se fosse ontem.

Eu não sei a quanto tempo eu estou sentada aqui em frente ao tumulo dos meus pais. Todos os anos no dia de suas mortes eu venho pra cá e fico em silêncio. No meu silêncio tento relembrar de tudo e qualquer coisa sobre eles.

Quando meus pais sofreram o acidente de carro e faleceram eu tinha apenas 10 anos. 10 anos parece muito tempo, mas não é tempo suficiente para conviver com seus pais. Eu queria tanto ter mais tempo com eles. Queria saber o que eles acham do Eros, queria eles na minha formatura, queria tanto saber o que eles acham que devo fazer do meu futuro, queria tanto que a Fernanda fosse só minha irmã.

Não que eu reclame por ela ter assumido o papel do meu pai e da minha mãe mas eu queria ter uma irmã que fosse só minha irmã. Desde os 18 anos que minha irmã carrega o nosso mundo nas costas. As vezes eu acho que ela se priva de muita coisa querendo ser perfeita por mim. Eu só queria a jovem e leve Nanda que eu tinha na minha infância de volta...

Ela nunca vem comigo pras minhas visitas anuais aos nossos pais. Ela não entra em cemitérios de jeito nenhum e eu respeito a vontade dela.

Lágrimas caem descontroladamente do meu rosto. Eu queria conseguir guardar todos os pequenos detalhes que vão se apagando com o tempo. Eu não lembro mais do cheiro da minha mãe, ou como era a voz do meu pai, ou como era abraçar eles...

Droga. Parece que eu estou sufocando em minha dor.

Levanto devagar e vou em direção a saída. Todos os anos saio por essas portas me sentindo só e perdida. Mas não posso deixar de vir aqui, seria como se eu abandonasse a memória deles e eu os amo demais pra isso.

Quando saio vejo o Eros encostado em uma grande árvore. O que ele está fazendo aqui? Eu não disse que viria aqui, só a Nanda sabe disso. Queria perguntar isso a ele mas estou muito engasgada com meu choro para perguntar quando ele se aproxima.

Ele vem e me abraça forte como se não tivesse me visto a anos em vez das poucas horas em que realmente não nos vemos. O cheiro masculino e limpo dele me acalma. Não sei porque ou como ele chegou aqui mas não poderia pensar em lugar melhor para eu estar agora que em seus braços.

- Eu estou aqui pra você - ele sussurra em meu ouvido - sempre.

Nesse momento eu não posso negar, pelo menos pra mim mesma, o quanto eu amo esse garoto. Eu não disse isso ainda a ele mas eu realmente sinto. Torço pra que ele perceba meu amor mesmo sem eu falar.

- Como você sabia que eu estava aqui? - pergunto quando consigo controlar melhor meu choro. Ele me puxa para perto da árvore que estava encostado antes e se senta me colocando entre suas pernas e apoiada em seu peito.

- Eu fui te procurar na sua casa e a Nanda disse que você estaria aqui - ele fala calmamente - Desculpe não entrar pra te procurar lá mas.. eu não gosto de cemitérios desde que minha mãe morreu.

- Me fale sobre ela - digo e o sinto enrijecer. Espero não o ter empurrado além de sua capacidade - se você não quiser..

- Não - ele me interrompe - eu quero falar sobre ela pra você, só é difícil...

- Eu lembro que minha mãe era muito parecida com a Fernanda - eu falo - Ela era linda e tão cheia de vida. Queria ter a conhecido melhor... a maior parte das minhas memorias sobre ela são coisas que a Nanda me conta. Eu me sinto tão mal por não lembrar muito da minha própria mãe.

Escondo meu rosto em seu pescoço quando sinto o rio de lagrimas incontrolável me lavando.

- A minha mãe era tão chata... - o Eros fala rindo enquanto passa a mão pelos meus cabelos - Ela não me deixava sair por cima nenhuma vez, ela tinha respostas pra tudo. Ela nos mantinha unidos e não deixava o meu ego ficar muito fora de controle. Nisso você me lembra ela.

É tão bom ver esse tipo de sorriso em seu rosto, seus olhos brilhantes e ver o carinho que ele demonstra em suas palavras..

- Ela era uma força da natureza sabe? - ele fala cada vez mais animado - Era sempre tão alegre e brilhante. Nós eramos cinco garotos fodões depois dos portões de casa mas lá dentro.. - suspiro - eramos seus cinco meninos.

- Eu consigo imagina-la colocando vocês cinco em seus lugares - falo rindo.

- Ela era a única que conseguia nos controlar - ele dá um sorriso triste - Quando ela ficou doente foi tudo tão rápido sabe? Pouco tempo depois nós cinco estávamos em um lugar como esse - ele aponta o cemitério com a cabeça - enterrando nossa mãe. Foi o pior dia da minha vida.

- Eu sinto muito Eros. Queria a ter conhecido.

- E eu queria que você a conhecesse - ele fala e beija minha testa carinhosamente - Depois que ela morreu eu, Paco e Perseu ficamos com nossa vó paterna. O Apollo já tinha se formado e dava aula em uma academia aqui na capital e o Thor já tinha um estúdio de tatuagem com o DJ numa cidade vizinha. Nós nos separamos, mesmo eu e meus irmão que vivíamos na mesma casa mal nos víamos. A Perséfone foi quem mudou isso... Quando nosso pai voltou do nada com aquela menininha, que era sua filha com alguma mulher que ele conheceu pelo caminho, nós voltamos a ser uma família por ela. Minha avó tinha falecido pouco tempo antes e o Thor voltou pro velório. Foi pra ele que nosso pai entregou a Pê, ele disse que a mãe dela também tinha morrido. Nós eramos tudo que aquela garotinha tinha.

Eu não conseguia parar meu choro quando imaginava a Pê bebê já perdendo a mãe e sendo abandonada pelo pai com seus irmãos. Eu queria perguntar mais sobre a relação do pai com a mãe deles mas acho que não devo pressiona-lo.

- Nós temos mais em comum do que eu imaginava princesa. - ele fala me olhando triste.

Ele se levanta depois que eu paro de chorar e me ajuda a levantar. Nós damos um abraço desesperado e aliviado. Eu queria não queria soltar esse abraço jamais.

Hoje eu conheci melhor o Eros do que em todo nosso tempo de namoro. E isso me fez chegar a uma conclusão:

- Eu te amo - falo ainda abraçada a ele.

Eros me olha com um olhar assustado e me beija até ficarmos sem folego.



EROSWhere stories live. Discover now