Amor de criança.

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Sem perceber, Tânia começou a pegar firme no FTU. Thomas e Daniela sempre iam para as reuniões e aos poucos a garota foi fazendo amizade com os outros adolescentes.

Claro que a situação do casal não melhorou da noite para o dia, mas a mudança havia começado dentro deles. Thomas e Daniela pareciam mais motivados e as coisas pareciam que iam dar certo.

Angelina ajudava de mais o casal, sempre estava conversando com os dois, orientando e aconselhando.

-Fico tão feliz por Deus ter colocado a Obreira Angelina para nos ajudar. Ela sempre me aconselha, até mesmo se ofereceu pra montar uma cesta básica para nós. -Daniela pendurou os brincos em sua orelha enquanto se arrumava para a virada do ano novo na igreja. -Mas no dia cinco eu já tenho uma entrevista de emprego, e Thomas no dia onze. Sei que a nossa situação vai mudar, Tan! -Ela se agachou em frente a menina e começou a passar um batom nos pequenos lábios. -Gosto muito dela.

-Eu também gosto dela. -Tania sorriu. -Só não gosto da filha dela.

-A filha dela? A Teresa? -Tânia concordou. -Por quê?

-Acho que ela não gosta de mim.

-E o irmão dela? Também é assim?

-Não. -E Tânia não entendia o porquê do nada ter ficado tão envergonhada.

Não era que Teresa era uma pessoa chata, mas era uma duplinha da qual Tânia não fazia parte e duvidava que faria. Teresa e Jennifer andavam pra cima e para baixo juntas e sequer faziam questão de conversar com Tânia.

Larissa também era amiga delas, mas ao contrário, sempre estava ao lado de Tânia como se a conhecesse por longos anos.

E tinha os meninos, Júlio e Mateus eram simpáticos, e engraçados. Sempre faziam brincadeiras de meninos e dificilmente Tânia entendia.

E Eduardo... Até aquele momento, Tânia nunca tinha visto os meninos como alguém que podia ser bonito, Eduardo havia sido o primeiro.  Mas era só aquilo, até que nesse dia, era virada de ano, os adolescentes iam apresentar uma peça durante a concentração, Tânia não iria participar, tinha muita vergonha de aparecer em público, todos estavam nervosos e ela ajudava com os figurinos, a música e os pequenos detalhes.

-Gente! -Mateus apareceu sem fôlego tropeçando em sua roupa de rei. -Cadê Jesus?

Todo mundo olhou confuso para Mateus:

-O EDUARDO, GALERA! Ele nunca se atrasou!

Todo mundo olhou assustado e Júlio tirou seu celular de sua bolsa:

-Tânia? Você pode ligar para ele? Eu ainda preciso amarrar o cinto da minha roupa e as meninas estão ocupadas se vestindo!

Tânia não teve como recusar, o garoto apenas entregou o celular e correu para o banheiro junto com Mateus.

A garota ficou nervosa enquanto apertava os dígitos e esperava ele atender do outro lado da linha, parecia até mesmo que era ela quem ia apresentar a peça das dez virgens junto com as meninas.

Não atende, não atende... Ela sussurrava.

-Fala Júlio! -Ele atendeu e Tânia podia imaginar seu sorriso perfeito em seus lábios. -Julio? -Eduardo esperou enquanto Tânia não conseguia pronunciar uma sílaba sequer.

-Eduardo, oi... É-é-é a Tânia...

-Ah, oi Tânia!

-Oi... -Outro silêncio, a garota se sentia muito besta por estar tão aflita daquele jeito. -Cade você?

-Eu já estou chegando, fui buscar o Leandro para a concentração.

-Tudo bem... Vem rápido!

-Sim senhora.

Ela sorriu:

-Então ok... Tchau...

-Espera... Não desliga.

-O que foi?

-Sua voz é muito bonita. Gosto de ouvi-la. -Tânia achou que seu coração ia sair pela boca. Depois de um breve silêncio, Eduardo por fim disse. -Já estou aqui na rua da igreja tchau.

Ela havia escutado direito?

Tânia evitou contato com Eduardo durante a vigília inteira. A peça havia dado tudo certo, tirando a parte que Mateus, o rei, tropeçava em suas vestes reais, e Rebeca havia derrubado a sua lamparina, havia sido uma peça e tanto.

E mesmo que todos os adolescentes tivessem que sentar juntos, Tânia fez o máximo possível para ficar longe de Eduardo, tentou se concentrar na vigília, mas se sentia incomodada a todo instante.

Quando foi a busca do Espírito Santo, ela só conseguia repetir para si mesma, Deus não deixe eu gostar dele.

Seu plano de ficar afastada até então estava dando certo, parecia que Eduardo havia se esquecido do que havia falado ao telefone, Tânia tava quase se batendo e se chamando de ridícula por pensar que poderia haver alguma, até a hora que a vigília acabou e foi inevitável ela não olhar para Eduardo.

E como se percebesse que ela o estava olhando, Eduardo a encarou de volta. O coração de Tânia pareceu se esquecer de como batia.

Ah, amor de criança, alguns diriam. Se fosse apenas isso...

Feita de DorWhere stories live. Discover now