Feita de Dor

Beijar alguém.

Tânia sabia que deveria se afastar de Camile e Erika, mas assim que entrou na sala e ambas a chamaram para se sentar ao seu lado, ela não hesitou duas vezes.

As duas garotas conversavam animadamente sobre festa e como tinham se divertido, às vezes Tânia sorria, mas de fato seus pensamentos não estavam ali, por mais que ela tentasse tirar Eduardo de sua cabeça, ele não saia.

-Tânia? Está tudo bem? -Camile perguntou.

-Uhum. -A garota abriu um sorriso pequeno.

Camile não insistiu, e Tânia agradeceu silenciosamente. Pensava como um garoto tinha tanto poder assim sobre ela?

Diziam que as coisas só tinham puder sobre nós, quando dávamos isso a elas.

Será que Tânia estava dando para ele?

O sinal que alertava os alunos para irem pro intervalo foi acionado. Erika foi a frente e quando Tânia terminava de fechar sua bolsa para ir também, Camile segurou seu braço:

-Tân? Me conta, o que está acontecendo?

-Nada. -Ela abaixou os olhos.

-Eu sei que está, posso ver nitidamente em seu rosto. -Tânia a encarou engolindo em seco. -Confia em mim.

Tânia sabia que Camile não faria mal a ela, afinal elas eram amigas! E certamente havia uma diferença enorme entre Camile e Larissa, se Tânia contasse para Larissa que gostava pra valer de Eduardo, certamente a garota não a apoiaria... Mas Camile, bem ela não iria te julgar.

-Eu gosto de um menino. -Tânia falou antes que perdesse a coragem.

-Sério? -Camile abriu um sorriso malicioso. -Quem é?

-Você não conhece, ele é da igreja.

-Hummmm, já falou pra ele?

Tânia balançou a cabeça negativamente.

-Por que não?

-Eu... Eu nunca gostei de um menino assim.

Camile entendeu exatamente o que Tânia queria dizer:

-Você nunca beijou?

-Fala baixo! -A garota a repreendeu olhando para os lados para verificar se alguém tinha escutado.

-Tânia, calma! É normal que você ainda não tenha beijado alguém e esteja nervosa por conta disso... Afinal, imagine só! Você for beijar esse Eduardo e fazer feio!

Tânia olhou compadecida para Camile que entendia exatamente seu desespero.

-Mas graças aos céus que você tem uma ótima amiga como eu! -Camile abriu um sorriso maldoso. -Que vai solucionar esse problema!

-Como?

-Vou te ensinar a beijar. -Tânia fez uma careta de nojo. -Não eu literalmente, sua boba! O Daniel te achou muito bonita e queria ficar com você na festa... Mas você recusou! E tenho certeza que ele também nunca beijou alguém, então não vai se importar se o beijo sair meio estranho.

-Não sei...

-Anda, Tânia! Vai ser rápido. Depois da saída, ninguém vai ver.

Tânia havia se batizado.

Na verdade, havia só tomado um banho de água de piscina.

Quando somos adolescentes, buscamos uma personalidade, buscamos a aprovação de um grupinho, não queremos ser excluídos, queremos ser aceitos. Mas essa busca por aprovação alheia dos homens, te exclui da aprovação para entrar no reino dos céus.

Ainda custaria um tempo para Tânia entender isso.

Se ela dissesse não naquele momento, Camile ia perguntar o porquê. Falar que era por conta da igreja automaticamente ia taxar ela de antiquada e sem graça.

Tânia aceitou. Daniel era quase da mesma altura que ela. Na hora da saída, ele a esperava na esquina atrás da escola. O garoto estava visivelmente nervoso e Tânia também. O beijo foi rápido, e o peso na consciência de Tânia também foi.

Mesmo que Camile dissesse que ninguém havia visto, Tânia se sentia incomodada. Ela achava que tinha visto uma menina os observando de longe.

Tânia torcia que fosse apenas coisa da sua cabeça.

Quando Larissa chegou em casa, colocou seus materiais em cima da mesa e respirou fundo.

Ela não sabia se Tania havia a visto, mas a garota tinha visto tudo que havia acontecido.

Tânia havia beijado Daniel, um garoto do sétimo ano.

Larissa não queria julgar as pessoas, não queria apontar o dedo para Tânia, mas sabia que aquilo era errado.

"Deus, por favor! Me dê sabedoria!" Ela sussurrou.