Feita de Dor

Rafael de volta ao Brasil.

O bairro que seus tios escolheram, era um bairro nobre, perto da Avenida Drummond e agora Tânia seria obreira de uma catedral.

Logo de cara ela havia amado a sua igreja, era linda e havia muitas pessoas, muitos obreiros, muitos pastores e muitos grupos que sua igreja antiga ainda não tinha estrutura para ter, mas por mais que estivesse encantada por sua nova família, ela sabia que sentiria falta de sua antiga igreja.

Seu tio estacionou o carro e a garota entrou no salão segurando os papéis da transferência para entregar para o pastor responsável pelos obreiros. Foi algo tranquilo, o pastor era muito simpático e Tania não poderia se sentir mais acolhida do que já estava.

-Seja bem-vinda a nossa igreja, obreira Tânia! –O pastor deu a mão para ela e a garota aceitou o cumprimento de bom agrado.

-Obrigada.

Ela agradeceu e saiu da salinha de campanha enquanto arrumava os papeis dentro da sua pasta, seus documentos e algumas fichas novas que teria que preencher. Sem olhar para frente, a garota percebeu que tinha alguém vindo em sua direção rapidamente, mas não conseguiu desviar a tempo, o rapaz que vinha bateu com força em suas mãos, derrubando todos os papéis que Tânia segurava.

-Oh, me perdoe... -Ele se agachou e começou a pegar as folhas. Olhou para os sapatos que brilhavam de tão limpinhos que estavam. -Eu sou um completo desastrado.

Tânia conhecia aquela voz, ou talvez achava que conhecia, estava muito diferente do que se lembrava, mais grossa e mais firme...

O rapaz que estava no chão agachado recolhendo as folhas se levantou e seus olhos se encontraram com os de Tânia. Rafael imediatamente sorriu para a moça, por mais que os dois estivessem surpresos, a garota não pode deixar de notar o quanto que Rafael parecia ter mudado em algumas coisas.

Seus cabelos castanhos estavam mais curtos, seu terno se encaixava perfeitamente em seu corpo como se o tempo que estivesse fora, Rafael houvesse malhado em favor da saúde. Ele estava até mesmo mais bonito...

Imediatamente a garota se repreendeu em seu interior. Era Rafael, seu amigo. Somente isso.

-Tânia?

Ela sorriu, era tão bom ver alguém conhecido.

-Rafael! Quer dizer... -Suas bochechas ficaram levemente avermelhadas. -Pastor Rafael.

Agora foi a vez de Rafael sorrir:

-Sabe o que eu nunca liguei muito para título, não sabe?

-Sempre o mesmo. Não mudou nada.

-Se mudei, foi para melhor.

-Não duvido nada! –Ela falou tentando evitar que seus olhos o observassem melhor.

Ambos riram timidamente.

-O que você está fazendo aqui? -Ele perguntou.

-Vou mudar de igreja, meu tio irá se mudar por conta da nova filial da empresa.

-Então acho que ainda iremos nos esbarrar muito, em obreira Tânia. -Ele começou a se despedir da moça.

-Acredito que sim.

Os dois seguiram seu caminho, mas Tânia se sentia estranhamente feliz.

Por favor, Deus. Que isso seja somente porque ele é meu amigo e que eu estava com muitas saudades, nada de mais!