Tentativas e mudanças.

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-De novo esse assunto, Júlio? -A Obreira Teresa reclamou impaciente enquanto todos ali se preparavam para ir evangelizar. Tânia estava perto dos dois e não pode evitar de escutar a pequena discussão. Já fazia algum tempo que os dois andavam discutindo. -Poxa vida, você sabe qual é a minha opinião sobre isso!

-Eu também tinha uma opinião igual a sua! Mas Deus falou comigo... Não acha que ele quer falar com você? -Júlio sempre calmo tentava falar brandamente, mas Tania via a veia querendo saltar de seu pescoço.

-Eu não quero mais falar sobre isso, ok? -Teresa falou determinada enquanto pegava alguns jornais.

-Mas nós temos que falar sobre isso, Tess! É o nosso futuro! -Júlio suplicava enquanto a garota sequer olhava para ele.

-Você quer falar sobre o seu futuro! -Ela finalmente olhou para ele e empurrou os jornais contra o seu peito. -Você vai com a Tânia, eu vou com o Mateus.

-Mas...

Teresa não olhou para trás, apenas caminhou até Mateus e pra dois foram juntos evangelizar.

Tânia limpou a garganta:

-Obreiro? Vamos?

-É claro.

Os dois caminhavam pela rua em silêncio. Tânia queria ajudar o Obreiro, mas não sabia como falar sem parecer intrometida.

-Você e a Teresa... Estão se estranhando ultimamente? -Tânia perguntou.

-Oh, você escutou...

-Desculpa, eu não quero ser intrometida, Obreiro. Mas é que vocês dois se dão tão bem, que é estranho ver vocês dois brigando.

-Sabe, Tân. Eu e a Teresa somos amigos desde a infância, começamos a namorar cedo, lá atrás tínhamos uma visão, e hoje eu tenho uma completamente diferente. Eu não sou o mesmo Júlio de antes, a Obra de Deus, meu relacionamento com Ele e com as almas sofridas diariamente tem me feito ver o quão pouco eu ainda estou fazendo. Eu preciso fazer mais, Deus precisa que eu faça mais.

-E o que você está pensando em fazer?

-Quero ser Pastor se Deus permitir.

-Pastor?

-Eu não quero só um título, Tân... Eu quero de verdade que Deus conte comigo cem por cento, não quero ter que me preocupar com essas coisas que eu vou deixar aqui quando eu morrer, eu quero me preocupar, dar a minha vida ao que é eterno! A salvação das pessoas.

-Isso é muito legal, Obreiro.

-É... Mas quem deveria achar, infelizmente pensa o contrário.

Tânia não sabia mais o que falar, mas os dois foram interrompidos por um carro que passou abuzinando.

-Você conhece? -O Obreiro perguntou.

-Não sei, mas ele está parando o carro...

Ambos olharam atentamente para o carro e o rosto de Eduardo apareceu pela janela:

-Olha só se não é o meu cunhado preferido!

-Você só tem eu de cunhado, era meio óbvio que eu seria o preferido. -Júlio sorriu se aproximando e cumprimentando Eduardo.

Tânia apenas acenou com a cabeça e mesmo fazendo algum tempo que não via Eduardo, seu coração balançou em seu peito.

-Hum, faz sentido...

-Você tá bêbado? -Júlio perguntou preocupado por causa do carro.

-Ainda não... -Ele deu uma gargalhada. -Daqui a pouco, talvez.

Júlio parecia não saber mais o que falar para Eduardo e uma coragem súbita explodiu na garganta de Tânia:

-Você não está realmente feliz com isso, está? -Tânia perguntou e ambos os rapazes ficaram em silêncio. -O Eduardo que eu conheci sabia que isso é tudo ilusão.

-O Eduardo que você conheceu foi embora, baby. -Os olhos de Eduardo faiscaram.

-Sim, porque agora eu só vejo um rapaz cheio de tristeza, mas que está se escondendo atrás dessas coisas, usando as bebidas, as amizades e as drogas só para disfarçar. Mas eu conheço o seu olhar, Edu. Dá pra ver que você está tão perdido quanto. -O queixo de Eduardo endureceu, Tânia havia atravessado as paredes que ele havia levantado. -Eu passei por isso, Edu. Você sabe, todo mundo sabe, e por mais que eu ainda não tenha vencido completamente, eu sei que esse não é o caminho, na verdade isso é apenas ladeira a baixo. Da tempo de voltar ainda, Edu.

Eduardo a olhou, por alguns momentos ele realmente pareceu tocado pelo que a garota havia dito, mas apenas pareceu. Pegou um cigarro do bolso e o acendeu na frente dos dois.

-Se é pra descer ladeira a baixo que seja sem freio. -E deu partida no carro.

Tânia suspirou e Júlio colocou a mão em seu ombro:

-Ele pareceu que havia dado importância.

-Não adianta ele dar importância ao que eu falo se não quiser realmente mudar. -Ela estava realmente triste, por mais que estivesse focada em receber o Espírito Santo, seu coração ainda doía um pouco em saber que talvez, ela nunca fosse ficar com alguém que havia gostado por toda a sua vida.

-Tânia, um dia, quando você estiver pronta, Deus vai te mostrar alguém que estará pronto para você. -Júlio falou e Tânia sentiu suas bochechas queimarem com vergonha, será que era tão óbvio que ela gostava de Eduardo?

Mas Tânia não precisou responder nada, Rafael se aproximou dos dois sorrindo:

-Sabe, é bom ir evangelizar. Assim como eu estava, existem muitas pessoas que não sabem que Jesus pode ajuda-las.

Júlio sorriu e os dois começaram a conversar e Tânia os acompanhou sorrindo também.

Feita de DorWhere stories live. Discover now