Rafael é transferido.

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Os dias iam se passando e era inevitável Tania não se sentir pressionada por algumas coisas, por mais que ela apenas repetisse para si mesma que só namorava com o Rafael e que aquilo não era nada de mais, as pessoas já tinham outra visão dela. Ela não era namorada do Rafael, ela era namorada de um pastor. Com isso, ela precisava sempre dar o seu melhor em tudo, e tudo que ela já fazia antes era cobrado em uma proporção maior, pois quanto mais era dado, mais era cobrado.

Ela acabava de voltar de algumas visitas junto com Eleanor quando Rafael apareceu no salão e veio ao seu encontro. Ele andava rápido e falava no celular, por mais que tivesse sorrido ao ver Tânia a garota franziu as sobrancelhas ao notar que os ombros do rapaz estavam tensos. Ela conhecia Rafael bem demais para notar que havia alguma coisa errada.

-Tân, eu preciso conversar com você. –Ele a encarou, mas por fim desviou o olhar.

-Está tudo bem? –Ela tentou ficar calma, mas não adiantou a preocupação saiu em cada sílaba.

-Acho que sim, mas preciso conversar com você.

-Pode falar.

-Depois conversamos. –Ele acenou com a cabeça e saiu andando enquanto resolvia alguma coisa no celular.

Tânia não queria ficar preocupada, mas ficou. Rafael era uma pessoa tão tranquila que para se comportar daquele jeito, alguma coisa tinha acontecido, mas por mais que a garota tentasse adivinhar o que era, nada vinha em sua cabeça.

Durante o restante do dia sempre que encontravam um momento para conversarem, um deles tinha alguma coisa para resolver, se não era o pastor chamando Rafael, era alguma das obreiras chamando por Tânia.

Com tantos afazeres, Tânia por breves momentos até se esqueceu que Rafael tinha algo importante para dizer a moça, até que estava passando pelo salão e o rapaz a chamou. Ele vestia roupas comuns, nada de social como sempre ela o via e a garota estranhou:

-Podemos conversar agora?

-Eu tinha que dar uma olhada nos banheiros que a obreira Lucia havia pedido...

-Tân, se não conversarmos agora, duvido que vamos conseguir conversar depois.

Ela se sentou assim que ele terminou de falar aquilo.

-O que houve?

Ele se sentou também na poltrona ao seu lado:

-Eu vou ser transferido.

Tânia ainda continuava sem entender porque tanta preocupação, desde quando havia começado a namorar com Rafael, sabia que cedo ou tarde aquilo iria acontecer, afinal, aquela era a vida de um pastor.

-Está tudo bem, Rafael. –Ele ainda não a encarava. –A gente já conversou sobre isso, sabíamos que um dia você iria trocar de igreja, isso não é um peso, pelo contrário, é uma benção porque você está cumprindo aquilo que Deus tem pedido para que você faça. Não precisa ficar tão nervoso assim.

-Tân, não estou preocupado com isso.

-Então o que é?

Finalmente Rafael a encarou. Desde quando havia anunciado que precisava falar com ela ele não havia levantado os olhos para encarar a garota, e naquele momento Tania observou o quão escuro estava seus olhos e o quão serio estava seu rosto.

-Eu vou ser transferido para a nossa antiga igreja... –Tânia ia abrir um sorriso de felicidade, pois era tão bom poder voltar ao lugar onde tudo havia começado, mas logo sua ficha caiu e um nome veio como se perfurasse seus pensamentos e naquela hora foi ela que não conseguiu encara-lo.

A preocupação de Rafael tinha um nome.

Teresa.

Não era segredo nenhum que no passado Rafael havia gostado da garota e que só não haviam ficado juntos porque Teresa não queria, e agora o rapaz voltaria para o mesmo lugar e tinha medo do que Tânia pensaria.

Por breves minutos Tânia ficou em silencio. Sabia por cima tudo que havia ocorrido com Teresa durante aquele tempo, sabia sobre o pastor com quem ela havia se envolvido e que a garota não era mais obreira, infelizmente aquele tipo de notícia corria rapidamente, e junto com elas vinham muitos comentários maldosos. Entretanto a questão era, Teresa estava voltando, havia começado novamente a frequentar as reuniões e havia se decidido começar do zero. Se ela realmente fosse sincera, sequer pensaria em arranjar alguém naquele momento, pois todos seus esforços seriam para cuidar de si mesma.

Ela olhou para o rapaz que ainda esperava por alguma resposta sua apreensivo. Por mais que as inseguranças tentassem entrar no coração de Tânia a garota sabia que havia muito mais do que um sentimento que Rafael tinha no passado. Acima de qualquer coisa, a garota confiava no caráter e na fidelidade que ele tinha para com Deus. Mesmo que fosse uma tarefa difícil, Tânia precisava confiar, pois do que adiantaria namorar sendo que ela não confiava nele?

-Olha, Rafa. –Ela segurou as mãos do rapaz entre as suas. –Eu confio em você, sei que não trocaria sua salvação por qualquer coisa. Sei o quanto você sofreu no mundo e que você não quer voltar para lá, então não fará nada que coloque em risco a sua salvação, mas do que nós dois, eu confio no pacto que você tem com o Nosso Deus.

Rafael sorriu e foi como se todo o peso e a tensão que existia em seus ombros saísse. Ele se inclinou para Tânia e a abraçou:

-Obrigado por confiar em mim. Não vou te decepcionar.

-Eu sei que não vai. –Ela retribuiu o abraço.

Feita de DorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora