Não julgue.

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[06/10 16:46] Obreira Rose: Estou aqui no hospital, com meu filho e a Larissa. Graças a Deus que eu estava de carro, Pr. Não acho que a ambulância chegaria a tempo. 😔

[06/10 16:46] Pr Luís: Me mantenha informado sobre o estado da garota, obr.

[06/10 16:46] Obreira Rose: Sim, sr.

[06/10 16:47] Pr Luís: Sabe, obr. Depois conversaremos com mais calma, mas está na hora tanto da Tânia como da outra jovem irem para o grupo dos jovens, elas já têm idade suficiente para ir, assim como seu filho e os outros foram.

[06/10 16:47] Obreira Rose: Mas Pr! As duas não estão preparadas! Tânia acabou de perder um filho.

[06/10 16:47] Pr Luís: Isso só mostra o quanto elas precisam de um alimento mais sólido, elas precisam amadurecer na fé, obr. Precisamos fazer elas caminharem por si só...

[06/10 16:48] Pr Luís: Mas isso conversaremos depois.

[06/10 16:48] Obreira Rose: Sim, sr.

A mulher bloqueou a tela do celular e o guardou na bolsa respirando fundo.

-Mãe? -Seu filho a chamou quando Larissa se levantou dizendo que ia ao banheiro enquanto os três esperavam o médico vim dizer como Tânia estava. -A Tânia estava grávida?

Rose olhou para o seu filho e não soube o que aquele olhar significava. Ambos tinham um bom relacionamento, Mateus sempre conversava com sua mãe sobre diversos assuntos e mesmo que nunca houvessem falado sobre a garota em questão, Rose sabia que o filho tinha uma aproximação maior.

Mas Mateus sabia como ser discreto, sabia que Tânia o via apenas como um amigo.

E agora ele podia ver que os dois tinham objetivos diferentes. Mateus tinha sede do Espírito Santo, tinha sede em ajudar as pessoas que estavam perdidas naquele mundo.

Tânia estava perdida.

-Filho... -Rose colocou a mão sobre o ombro de seu filho. -Você já mentiu alguma vez?

-Sim, senhora. -O jovem franziu as sobrancelhas pensando no que aquela conversa resultaria.

-E é pecado também, não é? -Ele concordou. -Não podemos julgar alguém por pecar de uma maneira diferente da nossa. Eu imagino que as pessoas lá fora já devem julgar Tânia, nós fomos chamados para sermos imitadores de Cristo, e o que Jesus fazia?

-Ele não julgava, Ele ajudava. -Mateus respondeu pensativo.

Larissa voltou a se sentar com eles e a enfermeira voltou com uma prancheta em suas mãos.

-A garota voltou a consciência. -Ela sorriu. -Se a senhora quiser entrar...

Então Daniela chegou assustada na sala e veio correndo abraçando Rose:

-Obreira! Meu Deus! Meu chefe não quis me liberar antes, me segurou até o último minuto.

-Não tem problema.

-Onde ela está? -Os olhos de Daniela se encheram de lágrimas.

-A senhora é a mãe da jovem? -A enfermeira perguntou.

Sem pensar duas vezes, Daniela respondeu de prontidão:

-Sim.

-A senhora poderia me acompanhar?

-Dani, eu vou indo. -Rose sussurrou.

-A senhora já fez até de mais, obrigada, Obreira! -As duas deram um abraço rápido e Daniela seguiu a enfermeira para a sala que Tânia estava.

-A senhora precisa saber antes de entrar... -A enfermeira anunciou antes que as duas entrassem. -A garota perdeu o bebê. O feto não estava desenvolvendo em seu útero, foi um aborto espontâneo e isso é normal de acontecer, logo a garota estará liberada para ir para casa, mas ela deve retornar até que tenha alta por completo, pois quando a mulher sofre essas complicações, nem sempre o restante do aborto é expelido, às vezes leva semanas. Por isso o acompanhamento psicológico, pelo emocional dela é um dos principais motivos para não darmos alta de imediato.

Daniela concordou pensativa quando ambas adentraram no quarto. Não era apenas o estado físico de Tânia que estava detonado, mas Daniela conseguia ver além, conseguia ver no olhar da jovem a sua frente que ela já tinha passado por muitas coisas em poucos anos.

-Oi, Tân. -Ela se aproximou da cama.

-Eu estou bem?

-Vai ficar...

-Todo mundo na igreja me viu sangrando, eles sabem que estou grávida...

Um caroço se formou na garganta de Daniela.

-Sobre isso, você precisa ser forte. -A mulher engoliu em seco. -Você sofreu um aborto espontâneo.

Tânia ficou em silêncio. Não sentiu vontade de chorar, mas também não estava feliz como era de se esperar. O vazio e a angústia ainda estavam dentro de si, talvez por alguns breves momentos a garota queria ter tido aquela criança, talvez ela se sentiria menos solitária...

Tânia se odiava, queria poder fugir de si mesma, mas não tinha para onde ir.

Finalmente uma lágrima escorreu pelo seu rosto e um soluço despontou de sua garganta, seguido por outros vários incontroláveis.

Daniela tentava consola-lá achando que a garota chorava pela perda, mas o problema era bem maior.

Tânia pensou no feto que havia morrido e desejou ter o mesmo fim.

Como uma garota cheia de amigos tão especiais desejava morrer?

Infelizmente, Tânia ainda não havia entendido que precisava ter um Único Amigo, e mais uma vez ela não recorreu a Jesus.

Feita de DorWhere stories live. Discover now