Pessoas que estão ao seu lado.

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Depois da dor das palavras de sua amiga Camile, Tânia se sentiu sozinha, perdida e sem direção.

O que ela faria? Quando sua barriga começasse a crescer, quando não desse mais para esconder aquilo das pessoas, o que ela falaria?

A garota socou a mesa que estava na sua frente e sussurrou:

-Eu queria que você morresse! -Ela colocou a mão sobre sua barriga. Lágrimas de raiva ardiam seus olhos e pensou nas palavras de sua amiga.

Abortar? Tânia sentiu os pelos do braço se levantarem.

Com uma pesquisa rápida no computador da Lan house, Tânia pode ver que as clínicas que eram autorizadas a fazer eram muito caras, e para você conseguir aquilo, tinha que abrir um processo na justiça. Tânia não tinha dinheiro, idade ou tempo para fazer aquilo.

Procurando ainda mais a fundo, descobriu clínicas clandestinas.

Não precisava de processo e o dinheiro, talvez ela conseguisse em parcelas.

Mas abortar... Matar o que estava crescendo dentro de si.

A garota se levantou e começou a andar sem rumo pelas ruas de seu bairro e sem perceber, seus pés a levaram para o lugar que ela sabia que não a julgariam.

Tânia se sentou na última fileira e olhou para o Altar que estava lá na frente, ela não era digna nem de olhar para aquele Altar. E por mais que soubesse que Deus não a julgaria, seus pensamentos a estavam matando por dentro.

-Tânia? -Larissa apareceu ao seu lado tocando afetuosamente suas costas.

-Oi, Lari. -A garota tentou limpar as lágrimas, mas Larissa já havia visto e antes que a garota pudesse esboçar alguma reação, Larissa se sentou ao seu lado e a abraçou.

Era tudo que Tânia precisava, aquele abraço! A garota se desmanchou em lágrimas e quando só restavam soluços, Larissa se afastou um pouco, colocando os cachos de Tânia atrás da orelha e limpando as suas bochechas.

-Me conta, o que está acontecendo? -Seus olhos mostravam total compreensão e compaixão.

Tânia hesitou. Se Camile que fazia coisas erradas a havia julgado, imagine Larissa que era perfeita!

-Anda, Tân. Não vou te julgar, na verdade, eu não tenho poder para isso, erro todo santo dia!

Tânia quis discordar. Aquilo era impossível! Larissa era tão perfeita! Não falava palavrão, não dava ousadia para os garotos, sabia se comportar, sempre sabia o que falar e era líder de tribo no grupo dos adolescentes. Ela era contada com todas as obreiras...

A garota respirou fundo e sussurrou:

-Eu fiz besteira.

-Talvez eu possa te ajudar!

-Não, não pode.

-Por quê?

-Porque eu estou grávida. -Tânia fechou os olhos com medo da reação que Larissa iria ter. Ela esperou pelas palavras de condenação, mas tudo o que ouviu foi um silêncio. Um silêncio que parecia gritar.

Como um silêncio gritava?

Tânia não sabia, só conseguia escuta-lo.

Hesitante ela abriu os olhos e viu o rosto de Larissa impassível, talvez um pouco branco por conta da notícia, mas não mostrava que ela ia a crucificar.

-Oh, meu Deus, Tân! -Ela passou as mãos pelo rosto.

-Eu sei, pode me chamar de lixo, de idiota, de qualquer palavra que possa tentar falar o que eu sou.

-Para com isso, Tân! -Larissa segurou suas mãos a repreendendo, não pelo seu pecado, mas pela atitude de se condenar. -Nós vamos arranjar uma solução!

-Eu já encontrei. -Tânia falou determinada.

-E o que é?

-Eu vou abortar.

Tânia esperou novamente que Larissa falasse algo, mas a garota só a encarou. Naquela momento, Larissa não parecia apenas uma garota de quatorze anos, ela parecia ter muito mais. Não que sua aparência mostrasse aquilo, mas seu espírito mostrava uma sabedoria difícil de se encontrar.

-Tân, antes de você decidir qualquer coisa. Que tal conversarmos com seus tios?

-Não! Eles me matariam! -Tânia choramingou.

-Então vamos conversar com a Obreira Rose.

Tânia concordou derrotada. Sua amiga tinha razão.

Tomou coragem e contou tudo para a Obreira Rose.

Rose a abraçou e disse séria:

-Tânia, o que você fez foi errado, e você sabe disso. Você precisa contar para os seus tios porque eles são responsáveis por você.

-Eu estou com medo!

-Você deveria ter medo de outra coisa, Tânia. A sua salvação! Você não pode perde-la!

-Eu já a perdi há muito tempo. Deus não vai me querer assim.

-É aí que você se engana! Deus deu Jesus por você, Ele da oportunidade todos os dias para a gente se arrepender de verdade. Mas precisa ser de verdade, quando o dom do arrependimento vem sobre nós, criamos nojo do pecado e não vamos comete-lo mais consciente. Falta isso em você, Tânia. O dom do arrependimento! Veja como somos necessitados! Até para se arrepender precisamos de Deus. Peça para Ele isso.

Tânia concordou com a cabeça, ela precisava tomar providências. Mas falar o que iria fazer e realmente fazer eram coisas totalmente diferentes.

A garota pensava nisso enquanto observava Daniela lavando a louça.

-Dani, preciso conversar com você.

Pronto, ela havia falado e não tinha mais como voltar atrás.

Feita de DorWhere stories live. Discover now