Parte 2 Diego

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Fiquei parado, olhando para o cartão ponto

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Fiquei parado, olhando para o cartão ponto. Naturalmente eu não precisaria passar por essa etapa. Mas se não fizesse isso, era mais um motivo para que o meu tio Augusto, dono da empresa, dissesse que eu levava vida boa no Brasil. O que não era exatamente verdade. Eu trabalhava, e trabalhava muito. Foi por isso que dei um jeito de conseguir um crachá para mim. Agora eu era apenas mais um funcionário. Um funcionário com benefícios, mas funcionário.

Estava pensando sobre isso. Sobre as vantagens e desvantagens de estar no Brasil. E lembrei-me do que o meu tio havia falado há poucos meses.

- Você vai se arrepender de ir para o Brasil. Você pode não lembrar-se direito como as coisas são; mas posso afirmar para você que é um péssimo país.

Não acreditava realmente que o Brasil fosse um país ruim. Apenas as brasileiras. Ou apenas grande parte das brasileiras. Primeiro meu pai que havia sido enganado. Agora eu. Mas, parando para pensar, eu não tinha muitos motivos para reclamar. Eu ainda estava no meu trabalho, ainda tinha toda a minha herança. Só não estava mais no meu país.

E, apesar de tudo, eu gostava da filial. Ninguém falava comigo na empresa. Não diretamente. Nunca conversava com ninguém a sós dentro da Enterteniment. As raras vezes em que conversava eram apenas pelo telefone.

- Senhor Diego. – era o que eu ouvia cada vez que atendia ao telefone no ramal 114. Sim, era eu que atendia meu telefone. Não gostava da ideia de ter uma secretária. Não gostava da ideia de ver minha sala dividida com ninguém. E gostava menos ainda que alguém controlasse a minha agenda.

Havia ainda os dias de integração. Mas nessas ocasiões eu não falava com ninguém. Eu apenas me apresentava do meu lugar e era apenas isso. Quase ninguém se dirigia a mim.

Isso era engraçado. Mas era bom. E era necessário. Eu realmente não estava precisando de problemas. E qualquer envolvimento com alguém da Enterteniment, seria um grande problema.

Eu só percebi que fiquei tempo demais ali, quando alguém bateu em mim.

- Ei - reclamei, virando para trás e vendo que havia uma garota ali, fechando a bolsa.

- Desculpa. – pediu ela sem cerimônia, olhando para mim.

Ela era uma garota muito bonita. Morena, não muito alta e com os olhos muito castanhos. Usava o uniforme dos escritórios. Então eu a reconheci. Era a garota que havia sentado ao meu lado na última integração.

Acho que ela não me reconheceu, pois agia com toda a naturalidade. Então eu a cumprimentei.

- Oi.

- Oi. – ela disse. – Desculpe. É que eu estava com a cabeça em outro lugar.

Era estranho finalmente falar com alguém da empresa. Geralmente, ninguém da empresa se dirigia a mim. Mas apesar de serem poucas as palavras trocadas ali, gostei disso. Era bom falar com alguém que não soubesse quem eu era.

E então ela ficou vermelha e eu fui obrigado a dar um sorriso. Mas então fui tirado dos meus pensamentos.

- Não sabia que sobrinhos do dono batiam o cartão, Diego. – ela disse.

Ela não devia ter dito isso.

Peguei o queixo dela, virando-o para mim, e disse:

- Eles não batem. Mas o gerente sim. E é senhor Diego.

Fui embora e deixei-a ali.

Eu não queria tê-la assustado. Nem queria tê-la tratado daquela maneira. O fato de não falar com ninguém da Enterteniment, não significava que eu tratava mal os funcionários. Apenas que eu raramente me dirigia a eles. Mas aquele não era o jeito de falar com o chefe dela.

E apesar de saber que não precisava ter falado com ela daquela forma, não pensava em pedir desculpas.

Peguei a chave do carro e fui para meu apartamento.

Justa CausaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora