Parte 3 - Andréia

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- Vai ficar quanto tempo grudada nesse telefone esperando ele atender? – perguntou a Su, tirando o celular da minha mão

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- Vai ficar quanto tempo grudada nesse telefone esperando ele atender? – perguntou a Su, tirando o celular da minha mão. – Dez vezes, Déia? Dez vezes? Eu não acredito nisso. Quando você vai perceber que o Lucas não quer mais nada com você?

A Suzana podia pegar mais leve comigo. Quem era ela para querer dar lições de moral? Não foi ela quem fugiu de casa com o primeiro namorado e depois voltou toda arrependida para a casa de mamãe? E agora queria dar lição de moral. Fala sério! O que eu podia fazer? Tudo bem, o Lucas tinha agido como um cretino. Mas e se ele estivesse arrependido? Quero dizer, todo mundo faz bobagens. E a gente se arrepende depois.

- Déia, por favor. O Lucas não está arrependido. Se estivesse, já teria vindo falar com você. Já faz quatro meses que vocês terminaram. – tentava me convencer Suzana.

- Mas os homens são todos meio devagar. Talvez ele ainda não saiba que está arrependido.

Eu sei que o Lucas tinha pisado feio na bola comigo. Mas eu era apaixonada por ele. Aquela pele, aquele jeito bobo de falar, de me fazer rir. Não dá para esquecer quatro anos em quatro meses. Além disso, eu tinha certeza que ele também não tinha me esquecido. Ele só estava confuso.

Tirei o telefone da mão da Su e voltei a ligar. Mais quinze ligações que caíram na caixa de mensagem. Talvez ele estivesse tomando banho. Fui jantar. Nada de ligação no meu telefone.

- Quando você vai parar de ficar verificando esse celular de cinco em cinco minutos? Ele não vai te ligar. Se nem atender ele não atende, imagina se vai ligar. – Essa já era a minha mãe, também se intrometendo na minha vida amorosa.

- Ele devia estar tomando banho quando liguei. Depois, ele deve ter achado que ficou tarde e não quis ligar para não me acordar. – respondi.

- É, e Papai Noel nunca aparece porque aqui em casa não tem chaminé. Ô minha filha, larga de mão esse moleque. Tem tanto homem bom dando sopa por aí. – disse ela, dando um beijo na minha cabeça. – Dorme bem. Amanhã não quero te ver grudada nesse celular.

***

- Eu vou ir e ponto final. – falava ele.

- Não amor, por favor. Fica comigo. É nosso aniversário. – pedi.

- Deixa de ser chata, Andréia. A gente faz aniversário todo ano. Essa festa só acontece uma vez na vida. – argumentou Lucas.

Droga. Por que o Lucas queria ir à merda daquela festa? Era nosso aniversário. A gente já tinha tudo combinado. A gente já tinha reservado mesa naquele restaurante romântico da cidade e tudo. Aquele sim, só conseguia uma vez na vida.

- Mas amor, e a nossa reserva? Você sabe como é difícil conseguir uma mesa lá. – implorei.

- Já te disse para parar de ser chata, Andréia. Só porque você não tem amigos, não quer dizer que eu não possa me divertir com os meus. Você não tem nenhuma amiga porque é uma chata com C maiúsculo. E nem adianta chorar. Porque eu vou de qualquer jeito.

E assim, o Lucas terminou um namoro de quase meia década.

- Nossa, Déia. Ele era um cretino mesmo. Por que você ainda fica correndo atrás dele? – perguntou a Bel, que tinha a mesa do lado da minha.

- Porque a gente era feliz. Eu acho... Eu era. E porque eu não consigo acreditar que uma pessoa possa simplesmente acabar tudo desse jeito.

Tentei explicar para as meninas do trabalho.

- Porque você é uma estúpida. – falou a Cláudia, que se achava superior a todo mundo.

- E você é o que? Oh, Diego, meu amor, fique comigo. Oh, meu amor, não fique longe de mim. Oh, meu amor, Diego, me leve para Paris. Me leve com você para a Espanha. Oh, Oh! – debochou Carmem.

Cláudia ficou vermelha. Todo mundo sabia que ela nutria uma paixão secreta pelo senhor multinacional. A verdade é que agora não era mais tão secreta. Depois da imitação à la Carmem da Silva, o escritório sete todo ficou sabendo.

***

- Cadê a Cláudia? – perguntei para a Carmem quando cheguei segunda-feira e não a vi.

Carmem pediu para que eu me abaixasse mais para falar com ela que estava sentada.

- Pois é. Não sei se é verdade. Mas o Flávio, do escritório cinco, disse que ela foi demitida porque era apaixonada pelo senhor Diego.

Não. Isso não era possível. Quem é que demite alguém por paixonite?

- Mas quem mandou demitir? O Diego?

Carmem balançou a cabeça me reprovando. Ela odiava que eu chamasse o senhor multinacional pelo nome.

- Não vou chamá-lo de senhor. Ele vai fazer o quê? Me demitir?

Carmem ficou muito branca. O que era difícil, devido à cor morena. Mas ela conseguiu ficar.

- Demitir por que, senhorita Rodriguez? – perguntou uma voz irônica atrás de mim. Virei para trás. Ah, não. De novo não. Na terceira dá justa causa, pensei.

- Senhor Diego, a Andréia só estava dizendo que... – tentou me ajudar Carmem, mas foi interrompida. Diego ergueu uma mão para ela como a mandar se calar e olhou para mim.

- Então, senhorita. Ainda não respondeu a pergunta que eu te fiz.

Que cara tão chato. Meu último chefe, o bebê da vizinha, era menos irritante.

- Então, Diego... – comecei a explicar. Mas ele também me interrompeu.

- Senhor Diego. E da próxima vez que quiser falar sobre demissão, o RH fica na terceira porta à esquerda.

Merda! Com certeza, na terceira dá justa causa. O tal senhor multinacional deu uma volta pelo escritório sete, fazendo perguntas aqui, perguntas ali, até que saiu.

- Ufa. Essa foi por pouco. – suspirou aliviada Carmem.

- O que deu no seu Diego, hein? Ele nunca desce aqui. – comentou Bel.

Eu é que não queria saber. Credo. Toda vez que a gente se encontrava, eu tinha a sensação de que ficaria sem emprego. Era melhor ficar longe. O cara até podia ser um gato, mas era um mala, com M grande.

***

- Ainda pendurada nesse telefone?

Não acredito. Até meu pai ia ficar vigiando minhas ligações agora? Isso era constrangedor demais.

- Filha, - disse sentando ao meu lado – os homens não gostam de mulheres que ficam implorando atenção.

- Mas eu amo ele pai. – choraminguei.

- Eu sei. E talvez ele também te ame, mas você não dá tempo para ele perceber isso.

Acho que meu pai só disse isso para me consolar. Mas a esperança é a última que morre.

- Você acha mesmo pai? – perguntei.

Ele levantou, deu um beijo na minha cabeça e saiu do quarto. Sim, ele só tinha dito isso para me consolar.

Justa CausaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora