XXII - A Semente de Merko

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Enquanto a Star Hunter se dirigia para o planeta Vida, sob o comando de Z8, Merko tentava descansar. Mas sua mente não conseguia relaxar e ele era assolado por diversas lembranças de momentos que passara ao lado de Silion.

Uma aventura que ia e voltava em meio a tantas outras, havia acontecido há cinco anos. Um meteoro gigantesco estava em rota de colisão com o planeta Vida. Todas as alternativas para intercepta-lo e destruí-lo já haviam sido descartadas pelo Conselho Real. Havia apenas uma chance de desviar o asteroide: usar um poderoso feixe de raios laser que pudesse bombardeá-lo e desviá-lo do planeta Vida, enquanto ainda estivesse a milhares de quilômetros de distância do encontro fatal.

A nave Star Hunter, onde estava acoplada a arma laser, entretanto, estava avariada e os engenheiros trabalhavam incessantemente para consertá-la. Não havia tempo para resolver o problema do conserto da nave e a arma não podia ser removida ou transportada para outro veículo em tempo hábil. Como todos estavam fadados à morte com a iminente destruição do planeta, Merko, impetuosamente, entrou na sua nave Star Hunter e resolveu partir para a viagem com o intuito de se projetar contra o meteoro.

Ele tentaria usar a própria nave indo de encontro ao corpo celestial, tangenciando uma de suas extremidades com o intuito de tirá-lo de sua rota. Seu computador Z8 havia calculado o tempo e o ponto exatos de impacto que conseguiriam a maior porcentagem de sucesso na missão de salvamento. O comandante não se despediu de ninguém, pois sabia que muitos tentariam impedi-lo de levar adiante sua missão suicida.

Entrou em sua nave e partiu em uma velocidade extraordinária em direção ao asteroide, que ainda se encontrava a uma distância segura para alterar seu curso.

Silion observava seu amigo nos seus últimos momentos, pensativo e distante. Conhecia muito bem Merko e sabia que algo estranho estava para acontecer. Antes de ele partir, conversaram:

— Merko, por que você quase não tem mais conversado com ninguém? O que se passa em sua mente, amigo?

— Estou preocupado com a chegada do meteoro X26. Creio que será impossível detê-lo e todos morreremos. Preciso pensar em uma saída.

— Os nossos engenheiros vão conseguir recuperar a Star Hunter a tempo. As armas já estão prontas e falta somente reparar os reatores.

— Caro amigo, quando eles consertarem a nave será tarde demais. Não há mais tempo, pois, o X26 está próximo de um ponto onde não será mais possível detê-lo. Nós dois sabemos disso muito bem! Não precisamos nos enganar com falsas esperanças. Não há tempo para que a Star Hunter seja reparada. Há muitas vidas em jogo!

Silion abaixou a cabeça triste e deixou-o sozinho. Ele sabia que o comandante nas situações limítrofes costumava tomar decisões sábias e que acharia uma saída. Passadas algumas horas, voltou a procurá-lo e verificou que sua nave havia partido. Teve um mau pressentimento; imaginou que o comandante partira para a morte.

A uma velocidade inacreditável, Merko programara sua nave para um curso de encontro ao grande asteroide. O comandante viajava com lágrimas nos olhos quando pensava em tudo o que ficara para trás. Ao mesmo tempo, torcia para que o impacto fosse o suficiente para salvar os habitantes do seu planeta.

Silion rapidamente foi ao encontro dos engenheiros, que recuperavam os reatores da nave. Pediu urgência no reparo e acelerou todas as etapas do processo de manutenção.

Merko já conseguia de longe ver o monstro que parecia voraz em seu objetivo. Em silêncio, despedia-se de sua vida. Quando a nave se aproximava, a poucos quilômetros de distância, ouviu uma voz gritar em uma holografia que se projetava à sua frente:

— Meu amigo, abra caminho, vou disparar com tudo que tenho nesse meteoro!

Só teve tempo de observar o raio vermelho ultra potente passar perto de sua nave e atingir X26 com uma precisão cirúrgica. O asteroide passou próximo do Capitão e ele sentiu uma turbulência com o efeito de sua passagem. Sua nave trepidou. O meteoro se afastou do planeta Vida e todos estavam salvos, inclusive o comandante, que estivera tão próximo de dar a sua vida pelos seus conterrâneos.

— Você é louco! Iria se sacrificar pela humanidade. Sentiria muito a sua falta, amigo.

— Mais uma vez obrigado, Silion. Você sempre aparece na hora em que eu mais preciso. Estava mesmo disposto a dar a vida pela continuação da raça humana, porém confesso que estou feliz por estar vivo. Vamos para casa comemorar o retorno.

Depois de recordar aquela aventura que vivera junto com seu amigo Silion, em um tempo remoto no planeta Terra, Merko voltou a si, dentro da nave Star Hunter, continuando a perseguição à Science que estava no fundo do oceano. Com as coordenadas que havia recebido de Mirov, seguia o seu caminho em busca de informações que o levassem ao garoto, cuja captura era a sua missão. Mais uma vez, a figura de Lorena aparecia em sua retina apesar de tê-la conhecido há 23 anos. A beleza de seu sorriso emoldurado pelos cachos dourados a tornavam inesquecível e ele se lembrou da mulher que visitara em Los Angeles quando procurava Nícolas e sentiu um arrepio no peito ao reconhecer nela, a mesma mulher com quem havia estado no passado, quando vivera os melhores momentos de sua vida. De fato, as duas mulheres eram a mesma e ele sentiu isso naquele momento.

"Por isso, eu me senti tão estranho ao vê-la, com a sensação de que a conhecia de algum lugar. Ela é a mulher com quem passei aquela noite memorável. Mas será possível? E o garoto tem a idade certa do tempo em que fiquei com a mãe dele. Será que ele é meu filho? Não, não pode ser. Seria coincidência demais..."

***

Lorena se preparava para dormir mais uma noite sem a presença de seu filho. Ela colocou a pequena na cama e a cobriu com um cobertor. Ficou olhando para Sophia por alguns minutos até que sua filha fechou os olhos. A mãe encostou a porta e foi para o quarto dela. Lá, ela chorou sentindo a falta do filho. Com lágrimas, começou a relembrar de tudo o que acontecera com seu marido que também desaparecera sem deixar vestígios. Não entendia o que havia acontecido com John, depois daquela noite inesquecível que passaram juntos. Na manhã seguinte, ele fora trabalhar com o mistério de sempre. Ela não imaginava o que exatamente faziam naquela base militar, de onde ele nunca mais voltou. O exército não tinha notícias concretas e apenas havia dito que seu marido estava desaparecido. Ela passou a receber uma ajuda financeira do governo, mas carecia bastante do homem que perdera. Sentia muita falta também de não ter sido possível fazer um enterro e dar um adeus decente ao marido que tinha amado tanto, o pai de seu único filho.

Ficou muito triste, mas continuou a criar Nícolas. Com muito custo conseguiu educá-lo e atualmente pagava a Universidade que ele cursava. Alguns anos depois, nasceu Sophia, fruto do casamento com seu segundo marido. A menina era uma benção, a quem também se esforçava para dar uma boa criação. Tinha muito orgulho de seus filhos, pois ambos eram ótimos alunos; não se envolviam com más companhias e tinham metas claras de vencer na vida: Nícolas queria ser um grande físico e Sophia, apesar de ainda ser uma criança, sonhava em ser engenheira ambiental. Apesar de toda a carência que sentia do marido, Lorena havia conseguido vencer seus temores. Educara bem os filhos, que cresciam saudáveis e com bom caráter.

Ela se deitou em sua cama. Fixou os olhos no teto enquanto procurava o sono pensando naquele investigador da polícia que a fitou profundamente. Lorena não conseguira se desviar daquele olhar e de algum modo, ele mexera com algo dentro dela, como se fosse alguém conhecido. Nesta noite de lembranças tristes, ela não conseguia pegar no sono e começou a pensar também no pai de Sophia.

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