Oito

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Violet ainda estava com sérias dificuldades para acreditar em suas últimas descobertas. De algum jeito, ela ainda esperava acordar e perceber que tudo aquilo foi apenas mais um sonho estranho, um daqueles os quais ela já estava acostumada.

Mas se isso era ou não um sonho, ela pensava que aquele estava durando demais, pois três dias já haviam passado desde que ela descobrira o conteúdo daquele estranho livro. Quando acordou no dia seguinte, o livro estava em branco novamente, de modo que ela pensou que houvesse apenas imaginado, efeitos do sono. Mas então ela tinha feito o teste, furou o dedo com uma das agulhas que sua mãe usava para tentar costurar, e deixou que uma gota de seu sangue caísse sobre uma das páginas em branco. E dessa vez ela sabia: não era sua imaginação.

As palavras apareceram rapidamente, como se estivessem ali o tempo todo, ainda que não visíveis. Então ela se dedicou a ler avidamente cada palavra, na tentativa de que houvesse pelo menos algumas respostas para suas perguntas. Mas o que descobriu apenas fez com que ficasse com a cabeça mais confusa ainda.

Ao que parecia, aquele era um diário. Um diário de alguma lunática de nome Dierdre Montgomery, quem acreditava ser uma poderosa feiticeira. Isso porque metade do livro era coberta por prováveis feitiços. E metade deles envolviam sangue, ou sacrifícios. Talvez fosse por isso que ela sentisse que algo sombrio a envolvia quando tocava naquele diário.

Ou talvez... talvez Dierdre fosse apenas uma pobre mulher com a mente insana, e que inventou seu próprio conto de fadas para conseguir sobreviver a difícil vida que levava. Foi no que Violet tentou acreditar. Até... colocar um dos conselhos de Dierdre em prática.

“03 de abril de 1654

Mamãe está um pouco nervosa. Ela diz que não podemos mais ir à cidade. Ela diz que talvez tenhamos que nos mudar. Quando ela sai, é sempre com um manto cobrindo a cabeça para que ninguém a reconheça. E ela não me deixa sair também. Ela diz ser perigoso. Eu não entendo, mas se mamãe diz, eu sei que tenho que fazer, pois não quero que ela se zangue. Mas mamãe diz que eu posso fazer magia. Ela diz que está na hora de aprender. Ela diz que eu tenho que treinar minha mente. Ela diz que eu tenho que me concentrar muito no que quero, e fazer acontecer. Tudo o que consegui fazer foi acender uma vela. Mamãe diz que eu preciso aprender a controlar o fogo. O fogo é um aliado. E mamãe diz que um dia eu serei tão poderosa quanto ela, ou mais. Então eu tenho que continuar tentando.”

As palavras ecoavam na cabeça de Violet, uma voz infantil lhe sussurrando ao ouvido: treinar sua mente, você tem que treinar sua mente. Acender uma vela, era o que Dierdre dizia ser capaz de fazer. Violet não era o tipo que se deixava acreditar em baboseiras daquele tipo, mas... lembrar de fogo, lhe acendeu memórias recentes do incidente com Ethan Hairston. Seria muita coincidência que agora, depois de alguns poucos dias, ela tivesse um diário de uma ‘feiticeira’ em mãos, que relatava que podia acender velas com o poder da mente?

Por que não tentar?, a vozinha a incitou. Violet franziu a testa. Deixou o diário aberto sobre a cama e foi até sua cômoda, revirando as gavetas em busca da pequena caixa de velas que ela guardava para quando a energia faltava.

Com o pacote em mãos, ela hesitou. Ela estava mesmo disposta a acreditar naquilo? Magia, feitiços, poderes da mente? O que mais pode explicar o que aconteceu com Ethan?, ela se perguntou. Suspirando, sentou-se na cama novamente, e pegou uma das velas.

Se concentrar e fazer acontecer. O fogo é um aliado. Então ela se lembrou que esse mesmo fogo podia ter matado uma pessoa, e a mão que segurava a vela tremeu. Sua mãe estava em casa, fazendo um bolo surpresa pra ela na cozinha. E se ela provocasse um incêndio? E se... O fogo é amigo. Ele fará apenas o que você quer que ele faça. Apenas feche os olhos, concentre-se, e depois olhe fixamente para a vela.

Supplicium [Completo]Where stories live. Discover now