Doze

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Quando Violet abriu os olhos, seu corpo inteiro doía. Ela imaginava que era assim que uma pessoa atropelada deveria se sentir. Se sentia tão esgotada, que mal conseguia mover seus membros. Os ossos de suas mãos pareceram estalar quando ela moveu os dedos, e só aquilo já bastou pra ela perceber que demoraria um tempo pra conseguir enfim se levantar dali.

Só então se deu conta de que estava em um lugar desconhecido. Estava deitada em uma cama de colchão e travesseiros macios, e a delicada manta que a cobria era feita de retalhos, mas muito bonita, pelo que pôde averiguar. As paredes do quarto eram de um rosa claro, as cortinas de uma cor marfim, que esvoaçavam lentamente com o vento que entrava pela janela. Os móveis eram brancos, e além da cama, havia um pequeno guarda-roupas, um criado-mudo e uma escrivaninha. Quadros contendo flores pintadas decoravam as paredes, mantendo o ambiente agradável.

Suspirou cansada. Ela estava tão exausta! Era como se tivesse corrido quilômetros em uma maratona. Forçou a memória, tentando se lembrar dos últimos acontecimentos, o que a fez perceber que também estava com uma terrível dor de cabeça. Ela não fazia ideia de onde estava, ou como fora parar ali. Mas mesmo antes de se forçar a lembrar, sua atenção foi desviada para a porta entreaberta, de onde saíam vozes.

Apurou os ouvidos, na tentativa de conseguir ouvir algo dali mesmo, devido a sua falta de condição para sair da cama e se aproximar mais da porta. Ela dependia totalmente de sua audição agora. Mas não foi preciso muito esforço, as pessoas que conversavam estavam se aproximando do quarto, suas vozes foram aumentando gradativamente, embora estivessem num tom que poderia ser considerado baixo.

Eu estou dizendo, eu a teria percebido! — uma voz feminina sussurrou.

Mas foi o que ela disse. E todo esse tempo esperando que ela alcançasse a maioridade, quando havia uma irmã — dessa vez foi a voz masculina.

Eu não entendo. Isso não é possível — a mulher fez uma pausa. — Ela deve ter tido ajuda de alguém muito poderosa pra conseguir passar despercebida por mim. Uma jovem feiticeira ainda não está apta pra um feitiço de proteção tão eficiente.

Com todo o respeito Norah, talvez tenha saído algo errado, ou...

Eu nunca erro, rapaz — Norah resmungou. — Nossa convidada acordou. — Violet fechou os olhos imediatamente, ouvindo passos se aproximarem, e a porta se abrir com um leve rangido.

Tudo lhe veio a memória depois de ouvir o pedaço dessa conversa. A corrida por sua vida, o demônio, os símbolos na casa, Leon... Ela gostaria que tudo aquilo tivesse sido um pesadelo, mas havia sido real demais para tal. Não adiantava mais continuar com ceticismo, ela sabia o que tinha visto, o que tinha acontecido. Era a hora de encarar a verdade, mesmo que fosse uma tão absurda.

— Ei — ela abriu os olhos pra encontrar Leon em pé ao lado da cama. — Como você está?

— Fui perseguida e quase morta por um demônio, como você acha que eu estou? — replicou rudemente, fazendo um grande esforço para se sentar na cama, ajeitando os travesseiros em suas costas.

Primeiro, ela viu a surpresa tomar conta de seu rosto, mas depois, os olhos de Leon brilharam e um meio sorriso se delineou em seus lábios.

— Vejo que já está se recuperando muito bem — falou irônico.

Ela reconheceu que não havia motivos pra ter sido tão mal-educada. Afinal, esse era o cara que a havia salvado duas vezes – possivelmente três, ela ainda não sabia como tinha ido parar naquela cama.

— Desculpe — ela o viu assentir com a cabeça. — Eu apenas não estou tendo um bom dia.

— Perdoe-me por ter estragado o seu aniversário — ele disse depois de um tempo.

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