Treze

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Ela estava de pé em um campo aberto. Atrás de si, podia ver a grama verde se estendendo infinitamente, e à sua frente, um precipício que acabava em águas violentas que batiam contra as pedras. Olhou pra baixo e se sentiu zonza, recuando instintivamente para a segurança do amplo gramado. O céu estava azul, límpido, a ausência de nuvens fazendo o dia parecer tranquilo e agradável. Respirou fundo, sentindo o ar entrar em seus pulmões.

Mas no instante seguinte, começou a sufocar. Ela caiu ajoelhada, lutando pra respirar, enquanto o céu se tornava negro e a grama, morta. Lá embaixo, o barulho das ondas furiosas a aterrorizou. Quando finalmente conseguiu respirar, agradecendo por não ter morrido, uma figura surgiu de pé ao seu lado.

A mulher tinha longos cabelos negros iguais aos dela, o rosto fino e aristocrático, a boca retorcida em um sorriso frio. Seu vestido era comprido e negro, e esvoaçava com o vento que começou a soprar forte. Mas seus olhos... seus olhos eram vermelhos, e ela não conseguiu olhar pra eles por mais do que alguns segundos.

— Vejo que está surpresa em me ver — a mulher começou. — Acaso achou que eu não viria cobrar o que me prometeu?

A moça abaixou a cabeça em sinal de respeito, como uma reverência, mantendo seus olhos baixos.

— Não, senhora. Sabia que viria. Apenas achei que me daria mais tempo.

— Mais tempo? — a voz da mulher se alterou, e a garota se encolheu. — Já lhe dei tempo o suficiente, você foi quem não soube usá-lo com habilidade. – falou ríspida.

— Perdoe-me, senhora, perdoe-me — a garota suplicou. — Eu apenas achei que seria mais fácil.

— Espero que saiba consertar o seu erro e conseguir o que planejamos — sua voz era carente de qualquer emoção.

— Sim, farei o meu melhor, senhora, conseguirei o que quer — a outra falou, confiante.

A mulher permaneceu alguns segundos calada, enquanto a moça continuava prostrada a seus pés, em total humildade, como uma serva.

— Ela é muito mais poderosa do que imaginávamos. Subestimei-a. — voltou a falar. — Confrontei-a hoje. E sabe o que aquela tola fez? Ela me baniu! A mim! — sua voz soou furiosa. — Me deixou fraca. Não posso mais interferir. Tudo depende de você agora.

— Não a decepcionarei — a moça garantiu.

— Sei que não — levou a mão ossuda de dedos compridos aos cabelos da jovem, e os acariciou levemente. — Lembre-se da recompensa que irá ganhar se fizer tudo direito, filha. Ela está esperando por você. — retirou a mão e se afastou. — Faça tudo o que for preciso.

— O farei — concordou.

— E caso ela resista... Só há uma saída.

— Qual? — sua voz tremeu.

— Matá-la — e a mulher riu, uma risada que ecoou na mente da moça até que ela abrisse os olhos assustada, acordando do pesadelo.

Engoliu em seco, a pele molhada de suor e o coração palpitando. Aquele não fora apenas um sonho.

Supplicium [Completo]Where stories live. Discover now