Supplicium [Completo]

Vinte

Violet fazia de novo seu caminho até a casa de Norah. Fazia apenas dois dias desde que saíra do hospital. Custou para conseguir fazer sua mãe mudar de ideia e continuar com os planos de viajar depois do que aconteceu no restaurante, mas no fim, foi bem sucedida. Sua mãe tinha saído naquela manhã, e agora ela tinha total liberdade para ir até Norah. Precisava conversar com a velha senhora, e precisava de um bom tempo pra isso.

Mantinha a mão dentro no bolso, agarrada ao cartão que Nerissa tinha lhe dado pra não perder a coragem. Ela precisava de Norah pra fazer o que tinha decidido. O certo seria chamar a irmã, mas Bryce lhe tinha deixado com a pulga atrás da orelha. Tinha algo realmente muito errado com Nerissa, algo importante que ela estava deixando passar. Talvez Bryce estivesse certo mais uma vez, e toda aquela coisa de se descobrir sendo uma bruxa tenha feito sua inteligência diminuir.

Pensar em Bryce fez seus pensamentos se voltarem para Leon. Da última vez que o tinha visto, ele ainda estava naquele necrotério, com Bryce ajudando-o. Ele prometera a Violet que iria ajudá-lo a sair dali antes que os pegassem. Ela deveria voltar pra cama e recuperar-se. Com alguma insistência de ambos, ela acabou concordando.

Bryce havia assegurado que Leon estava bem, mas Violet ainda não o tinha visto. Perguntava-se por que Bryce estaria ajudando com tanta boa vontade, quando antes ele parecia ter certa desconfiança de Leon. Ela o perguntaria mais tarde.

Chegou à excêntrica casinha cor violeta. Norah estava saindo, trancando a porta, parecia bem arrumada. Violet se aproximou, subindo os degraus da varanda para encontrá-la.

— Oh querida, você já está aí — Norah lhe sorriu ao se virar e encontrá-la, guardando as chaves na bolsinha preta que tinha em mãos.

— A senhora vai sair? Eu precisava pedir um favor — Violet achou melhor ser direta, Norah podia estar com pressa.

— Eu não vou sair, nós vamos. Não foi pra isso que veio até mim hoje? — Norah disse. — E, por favor, não me chame de senhora. Norah está perfeito.

Violet já não se surpreendia. Norah parecia sempre saber de tudo antes de acontecer. Talvez fosse sua habilidade única. Ela não acreditava que podia desenvolver premonições pra tudo desse jeito. Mas bem, ela ainda não sabia muita coisa sobre feiticeiras, afinal.

— Sim, eu preciso que venha comigo até um lugar — retirou o cartão do bolso, examinando-o mais uma vez entre os dedos.

— Ah ah, você está hesitando — Norah percebeu. — Mas não deveria. É normal ir em busca de certas respostas. E somente aí você pode consegui-las — ela apontou para o cartão.

— O problema — Violet murmurou, quase para si mesma. — É que não sei se quero mesmo essas respostas.

Norah estendeu a mão, e Violet deu-lhe o cartão antes que desistisse, embora soubesse que a mulher não precisava de cartão nenhum, ela deveria saber exatamente aonde iriam. Mas provavelmente via aquele gesto como um consentimento para irem em frente.

Norah sorriu abertamente quando Violet entregou o cartão, deu uma rápida olhada nele e devolveu.

— Venha — chamou, indo para a garagem com Violet atrás.

O carro de Norah era um New Beetle alaranjado, totalmente apropriado para sua respectiva dona em quesito de excentricidade. Violet pensou no quanto gostaria de ter um desses, embora não naquela cor. Na verdade, qualquer carro seria melhor do que nenhum, em sua opinião.

No caminho, o silêncio reinou nos primeiros minutos. Violet estava nervosa, inquieta. Não sabia se tinha tomado a decisão certa ao querer ir visitar a mãe, mas precisava saber. Se sua mãe apenas pudesse lhe responder algumas perguntas...