Quinze

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Violet estava embrenhada no meio das várias prateleiras da biblioteca. Tinha vários livros num dos braços, enquanto com o outro ela tentava organizar uma fileira. Ela tinha feito de tudo pra que a Sra. Hamblet a deixasse quieta em meio aos livros. Precisava ficar a sós com seus pensamentos, sem ter que se preocupar em sorrir demais pra David. Ele sempre interpretava esses sinais como se ela estivesse retribuindo seus flertes, e tudo o que menos precisava agora era de um cara caindo de amores por ela.

— Vejo que não está se arriscando nas escadas hoje — Leon interrompeu seus pensamentos, e com o susto ela quase deixou que os livros escorregassem de seus braços. — Desculpe, não queria assustá-la. — pareceu ter ouvido culpa na voz dele.

— Mas assustou — resmungou Violet, pela primeira vez olhando pra ele.

Ela não devia ter feito isso. Leon estava encostado em uma das estantes, com os braços cruzados. Mesmo sem estar em cima de uma escada, ela sabia que poderia perder o equilíbrio só de olhar pra ele. Tinha qualquer coisa nele que a fazia ficar tonta, e ela ainda não sabia o quê. Ele era bonito, claro, mas ela não sentia atração por ele. Ou sentia?

Voltou-se para os livros rapidamente, sacudindo a cabeça pra espantar esses pensamentos. Ele é perigoso, lembrou-se de Nerissa dizendo. Mas ela não acreditava que ele pudesse lhe fazer mal, afinal, já tinha salvado sua vida um par de vezes. Não fazia nenhum sentido.

— Precisamos conversar — anunciou ela, ainda ajeitando as prateleiras.

— O que você quer saber? — ele perguntou cansado.

— O que eu quero saber? — repetiu, confusa.

— Sobre a maldição — Leon explicou. — É sobre isso que você quer conversar, não é?

Ela pensou em pedir pra que ele falasse baixo. Qualquer um que ouvisse aquela conversa acharia que ambos estavam loucos. Mas percebeu que estavam em um lugar bem reservado. Esse era o motivo pelo qual ela resolveu organizar aquela estante, era bem no fundo da biblioteca, quase ninguém se arriscava por aqueles lados, por medo de se perder.

— Sim, é sobre isso — confirmou ela.

— Não acho prudente conversarmos sobre isso aqui — ponderou ele. — E é exatamente por isso eu estou aqui. Vim lhe pedir permissão para recompensá-la pelo 'estrago' no seu aniversário — ele estava nitidamente embaraçado.

— Eu não te culpo pelo que aconteceu aquela noite — ela murmurou. — Mas como assim? Recompensar? — Violet largou os livros de qualquer jeito na prateleira mais próxima e o encarou.

— Deixe-me levá-la para jantar — ele convidou. — Contarei tudo o que desejar saber.

Violet ficou surpresa com o convite. Mas ao mesmo tempo, lisonjeada. Claro que deveria ser um jantar de 'negócios', mas ainda assim, um jantar. E essa ideia a agradava mais do que ela queria admitir.

— Tudo bem — concordou na mesma hora. — Mas só porque precisamos mesmo ter essa conversa, e é melhor que seja em um ambiente adequado.

Ele sorriu largamente, e ela gostou muito de vê-lo sorrindo daquele modo, embora, ela tenha percebido, o sorriso não chegou aos olhos dessa vez. O fardo que ele carregava, a maldição que pesava em suas costas, aquilo era cruel demais. Ele estava sofrendo, e ela reconheceu isso aquela noite quando ele praticamente a implorou pra que o ajudasse. Agora ela era capaz de ver isso em seus olhos toda vez que olhava pra eles.

Violet se virou novamente para os livros, retomando suas tarefas. Ele deveria ter partido e deixado-a sozinha, mas não o fez. Ela sabia que ele continuava de pé atrás de si, sentia sua presença. Mas tentou fingir que ele não estava lá. Ela estava trabalhando, e não poderia haver distrações.

Supplicium [Completo]Where stories live. Discover now