Capítulo 3

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ENQUANTO ANDAVA pelos corredores do colégio, indo para o jogo, Aguinaldo pensava no que tinha acontecido muito tempo antes de ser rejeitado por Emê de Martnália. Ele se lembrava claramente das últimas coisas que disse:

— "Mamãe, eu amo você."

Então, ela foi embora. Porque ele não foi o suficiente para fazer com que ela ficasse. E agora, aconteceu de novo.

— "Gosto de você, Martnália."

Por que, por que tinha sido tão burro? Ele sabia exatamente os efeitos de contar o que sentia. Ver Emê de Martnália correndo para fora da sala foi quase tão ruim quanto entender que tinha sido rejeitado. Isso só deixou mais claro que tudo o que, hipoteticamente, poderia acontecer entre eles estava acabado. E o pior é que ele não fazia ideia de onde tinha tirado tanta coragem para se confessar.

— Aguinaldo! — Alguém o chamou. 

Foi nesse momento em que ele se deu conta de que já estava no ginásio onde iria acontecer o jogo.

Quem o chamava era Beltassamo. E imediatamente Aguinaldo quis abrir um buraco no chão ao pensar que em todo o tempo que passaram juntos, os outros alunos da escola estavam pensando que eles tinham um relacionamento amoroso.

— Está tudo bem? — Beltassamo se levantou e ficou ao lado de Aguinaldo.

— Sim... — ele respondeu sem fazer contato visual.

— Você é quem sabe... — Beltassamo deu de ombros. — Vem, vamos nos sentar logo que minhas pernas já estão doendo.

Aguinaldo concordou com a cabeça e foram até o lugar estratégico que tinham combinado de ficar nas arquibancadas, e se sentaram lado a lado em silêncio. Se Beltassamo estranhou o comportamento do amigo, não comentou, apenas continuou observando o movimento que estava acontecendo na quadra.

— Ei, aquela é a Martnália! — Apontou o dedo na direção onde a garota estava.

Ao seguir o dedo de Beltassamo com os olhos, não demorou muito para Aguinaldo encontrá-la conversando com as outras garotas de seu time. Rolavam alguns rumores de que elas eram ótimas jogando vôlei juntas, mas que fora das quadras não se davam muito bem, os motivos eram um mistério. O que não fazia muito sentido para Aguinaldo, já que ele pensava que para serem um bom time, deveriam confiar umas nas outras.

— Onde você estava? — Beltassamo resolveu perguntar.

— Na sala — Aguinaldo contou sem tirar os olhos de Martnália.

— Você estava fazendo aquilo de novo?

— Aquilo o quê?

— Você sabe, ficar ansioso, ouvir música, essas coisas.

— Ah! Estava.

Então se lembrou outra vez da conversa com Martnália e sobre como todos na escola pensavam que ele e seu melhor amigo eram um casal e quis que um buraco se abrisse no chão para que pudesse fugir.

Com isso em mente, soltou um suspiro alto e olhou ao redor do ginásio, viu que o time adversário estava no canto direito do espaço, elas estavam conversando entre si e de repente soltaram um grito de guerra bem alto. Todos os que estavam presentes olharam para elas, mas as garotas não se abalaram e continuaram agindo normalmente.

Aguinaldo voltou seu olhar para o time de seu colégio e quase teve um AVC ao perceber que Martnália estava olhando em sua direção, mais especificamente, para ele. Ela nunca havia olhado para ele durante qualquer outro momento, muito menos antes de começar a jogar. Ambos ficaram surpresos ao encontrar seus olhares e Martnália logo desviou sua atenção para outra pessoa.

Todos Nós Que Estamos VivosWhere stories live. Discover now