Capítulo 14

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Todos se sentaram no auditório e, surpreendentemente, ficaram em silêncio. Os olhos bem arregalados, olhando uns para os outros, tentando se lembrar o motivo de estarem ali. Porque poderiam ter ficado em casa, e teria sido melhor.

Cada um havia recebido sua própria ligação, pedindo que comparecessem naquele dia. Agora seriam alunos do segundo ano do ensino médio e portanto, tinham um dia a menos de férias que os do primeiro ano. Quando estivessem no terceiro, seriam menos dois dias.

A desculpa era que os professores precisavam falar com cada série especificamente, para que o processo fosse simplificado. Só se fosse para eles. Os alunos em si, que estavam presentes, não estavam vendo a menor necessidade de todo aquele sofrimento.

— São mais de trezentos alunos, se todos viessem no mesmo dia, não poderiam ter o tempo necessário para conhecer outros colegas da mesma série — A diretora explicou com seus dentes de coelho, que só não fazia os alunos da primeira fileira rir porque estavam com raiva.

Então pediu que afastassem as cadeiras e formassem um círculo. A maioria dos alunos tinha faltado, e dos cento e vinte esperados, apenas quarenta estavam presentes. Eles se entreolharam, com sono, tédio e raiva mútua por terem sido enganados.

— Agora deem as mãos — a diretora pediu com um sorriso enorme para esconder o nervosismo de quem não fazia a menor ideia do que estava fazendo.

Deram suas mãos a contra gosto e a mulher começou a ditar um mantra especial, pedindo todo o tipo de coisa que ninguém prestava atenção.

Mas no meio de tanta coisa sem sentido, algo chamou a atenção de alguns alunos, em específico a de Muriel e Abel, duas melhores amigas que tinham a grande sorte de terem nomes parecidos e que já apareceram antes nesta história. Aquele era um ótimo momento para descobrir vários segredos que mais ninguém percebia.

Notaram, por exemplo, que a todo instante, os olhos de Emê de Martnália estavam em Aguinaldo. Eles estavam em lados opostos da sala e enquanto ele tomava um Milk shake em embalagem de sorvete, Emê parecia muito interessada em tudo o que ele fazia. Como se estivesse com uma leve obsessão por cada detalhe. Na verdade, era mais como se estivesse apaixonada.

••♪••

Depois da tortura, os alunos ganharam macarrão com carne moída naquele dia quente por terem compadecido. E no refeitório, Emê tentou não deixar muito na cara que estava nervosa quando se sentou na mesa junto com Aguinaldo. Ainda bem que ele parecia mais interessado em comer do que em prestar atenção nesse tipo de coisa.

Aguinaldo levantou seus olhos, e sorriu gentilmente para Martnália. Ela sentiu uma pontada no estômago e não pôde devolver o gesto. Não sabia o que mais incomodava, sentir tudo aquilo como uma avalanche ou perceber que ele estava muito tranquilo, como se nem estivesse afetado com sua presença.

— Você não vai comer? — Ele perguntou quando reparou que ela estava parada como uma pedra de gelo.

Emê não respondeu, apenas começou a comer como se de repente tivesse se dado conta do prato.

— O macarrão está gostoso, mas tá muito quente — Aguinaldo comentou e riu.

Ela continuou em silêncio. Ele engoliu em seco. Seu coração estava desregulado desde que ela havia se sentado ali. Estavam sozinhos, sem Elcione ou Beltassamo, pela primeira vez em meses. E Aguinaldo estava muito preocupado com o nível de suor que seu corpo produzia com todo o calor e a agitação que Emê causava em seu interior.

— Escuta… — ouvir a voz de Emê aliviou um pouco a tensão dele. — Eu preciso te contar uma coisa.

Ela parecia estar nervosa e isso o deixou surpreso. O assunto deveria ser muito sério para deixá-la assim, pois Emê de Martnália não era uma pessoa de demonstrar fortes emoções.

— Pode falar — Aguinaldo sorriu levemente.

— Como eu disse, é sobre nós, e… — ela respirou fundo —, sendo bem sincera, não importa quantas vezes eu tenha que fazer isso, nunca fica mais fácil.

O coração de Aguinaldo deu um salto. Pensou que ela iria lhe dar outro fora, antes que ele tivesse a chance de se declarar outra vez. Só poderia ser isso. Mas ele decidiu escutar até o fim antes de dizer sua opinião.

— Eu já gostei de uma pessoa, antes… E foi bem difícil admitir isso, até pra mim mesma, eu tenho essas dificuldades. Então, me desculpe por demorar quase um ano para descobrir que…

Aguinaldo mordeu o lábio inferior e completou a frase dela mentalmente: “nunca poderei gostar de você”.

— Acho que estou gostando de você.

— Ah, tudo bem, eu entendo que você… — ele parou. Sentiu tudo ao seu redor congelar outra vez, como quando ela disse que pensava que ele era gay.

Levantou os olhos e encarou todas as emoções de Emê que tinham sido reveladas. Não teve reação por alguns instantes, mas ela não se incomodou, já esperava por isso.

— Espera, o que você acabou de dizer? — Ele cobriu o rosto com as mãos e soltou um suspiro bem alto.

— Acabei de dizer que posso estar gostando de você. — Emê sorriu ao ver a reação dele.

— Isso é algum tipo de piada? — Aguinaldo olhou ao redor e todos estavam concentrados em suas próprias vidas. Ele sentiu como se fosse o único a presenciar uma explosão de uma bomba atômica. — É sério?

— É.

Olharam fixamente para o rosto um do outro, e Emê notou o quão adorável era observar enquanto olhos dele se arregalavam e seus cílios ganhavam mais destaque. Estava louca para tocar cada fiozinho.

— Ah meu Deus. — Aguinaldo levou a mão ao peito.

— Eu entendo que para você pode ter parecido um pouco repentino, mas…

— Um pouco? — Ele tinha sido ignorado por dois meses, esperava tudo, menos isso quando a encontrasse.

— Nesses dois meses em que me afastei, aproveitei para clarear minhas ideias e percebi que tenho sentimentos por você e que quero mesmo tentar algo.

Aguinaldo olhou para o teto do refeitório e piscou várias vezes, para ter certeza de que não estava em mais um dos seus sonhos malucos. Mas tudo isso era realidade, o calor era de castigar e o teto muito sólido. Não poderia estar mais feliz por Emê revelar que tinha sentimentos por ele, porém também estava muito confuso. Sabia que se Beltassamo estivesse ali, ficaria bravo por ele estar duvidando tanto de que ela pudesse retribuir o que sentia.

— Martnália, não quero que pense por um só segundo que estou rejeitando seus sentimentos, eu só… tenho autoestima em falta e preciso entender — olhou para ela —, o que te fez gostar de mim?

Martnália sorriu com a pergunta, e com a maneira como foi feita, por ele ter sido delicado e não ter deixado espaço para dúvidas indesejadas. Às vezes Aguinaldo era muito inocente, e até mesmo sem ação, mas em outros momentos, ele conseguia ser muito maduro.

E Emê até iria responder, se outra vez não tivessem sido interrompidos pela buzina do colégio.

— Vamos fazer o seguinte, que tal nós dois almoçarmos juntos depois da aula? — Ela sugeriu.

Aguinaldo prontamente aceitou e depois disso, durante o resto da manhã, ficou visualizando repetidas vezes a cena de Emê dizendo que gostava dele. E o melhor de tudo é que quando olhava para ela, descobria que ela já estava olhando para ele antes, e isso o fazia literalmente se derreter, no sentido bom da palavra.

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Oiê, tudo bem? 🤠

Martnália super direta, quem diria ein?
Vcs acham que o Aguinaldo vai aceitar os sentimentos dela, ou vai ficar com essa insegurança absurda? 👀

E agora, estou muuuito feliz! Estava reparando, antes de postar esse capítulo, que essa história está quase com 500 visualizações, e já tem 1K de comentários 😱😱😱

Muito obrigada 💖
É por coisas como essas que não me canso de agradecer vcs! ♥️♥️

Por hoje é só pessoal,
Até o próximo capítulo 😘😘

Todos Nós Que Estamos VivosWhere stories live. Discover now