Capítulo 21

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O suor escorregou na pele como se estivesse em um tobogã antes de ser absorvido pela meia. Brotou no pescoço e desceu até o pé. Não passou despercebido, mas ninguém impediu.

Emê de Martnália não tinha tempo para isso.

O time de vôlei estava no meio de uma partida. Era apenas um treinamento, mas qualquer partida é importante para Emê que sempre foi competitiva.

Ainda mais quando sua principal adversária é Elcione.

Ultimamente, as coisas estavam boas entre elas. Já fazia duas semanas que Emê estava com Aguinaldo, e eles ainda não tinham contado para os outros dois amigos. Mesmo assim, ainda se reuniam e aparentemente ela tinha sido perdoada por Beltassamo. Não que  se importasse muito com isso.

E foi no segundo em que a bola passou voando por diante dos seus olhos e caiu diretamente no chão, sem nenhum impedimento, que Emê de Martnália ouviu o apito anunciando sua derrota.

As garotas que estavam do outro lado da rede comemoraram com um grito de vitória, e Emê soltou um resmungo. Aproveitou para secar o suor irritante em seu rosto e bufou.

Era só um treinamento, mas ao mesmo tempo não era. Emê estava decepcionada com seu desempenho.

Olhou para o treinador e logo percebeu que compartilhavam do mesmo sentimento: decepção.

Ela se afastou da quadra e se sentou em uma das arquibancadas. Pegou sua garrafa de água e, enquanto bebia, refletiu no que poderia estar acontecendo. Essa não tinha sido sua primeira derrota da semana nos treinos, e esse tipo de situação era incomum.

Emê nunca tinha se gabado disso antes, mas ela se considerava uma ótima levantadora. Independentemente de qual lado estivesse durante os treinos, sempre ganhava. Sempre.

Mas naquela semana... Algo estava errado.

— Martnália! — O treinador anunciou sua presença antes de se sentar ao lado dela.

Emê apenas acenou com a cabeça antes de voltar a beber mais água. Sua respiração ainda estava acelerada pelas últimas duas partidas em que perdeu.

— Está tudo bem contigo, filha? — Ele perguntou.

Algo que Martnália gostava nele era essa sua mania estranha de chamar todas as integrantes do time de filhas. Parecia ser uma forma de deixar bem claro como ele as via. E ela o admirava por isso.

— Acho que sim — Emê respondeu sem muito ânimo.

— O que está acontecendo?

Ela sabia ao quê ele se referiu ao perguntar. Mas na verdade, não sabia o que responder. Sua vida nunca esteve tão tranquila, não tinha motivos para reclamar de nada.

Fiona tinha finalmente conseguido um trabalho como modelo e precisou viajar com sua mãe e seu pai continuava preso no trabalho, como sempre. Quando Emê não estava treinando, estava com Aguinaldo ou seus amigos.

Realmente, não havia do que reclamar.

— Não está acontecendo nada de mais... Acho que é má sorte. — Emê tentou rir, mas não via graça.

— Filha, você sabe que não existe sorte no jogo. — O treinador não sorriu, apenas a olhou com pena. — Você está cansada, é isso?

Emê refletiu na pergunta por alguns instantes e balançou a cabeça, negando.

Não tinha nada que gostava de fazer mais do que jogar vôlei. Os professores até estavam pegando leve com suas tarefas para apoiá-la em seu esporte. Aguinaldo era sempre compreensivo. E o resto não importava.

Todos Nós Que Estamos VivosWhere stories live. Discover now