Parte 2: Quatro anos depois do fim

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❝Já faz dois anos, mas num piscar de olhos
Minha mente ainda me faz voltar
...
Oh, nós éramos um desastre
Mas não era ótimo?
Achei que já tinha acabado, mas acho que nunca acaba de verdade

- Katy Perry, Never really over

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Emê, você precisa voltar.

As muriçocas embaixo da cama foram testemunhas das lágrimas de Emê de Martnália naquela manhã. Não ficaram tão surpresas, pois a dona da cama onde elas viviam parecia estar sempre prestes a surtar todas as manhãs.

Ela simplesmente não conseguia acreditar que ele tinha morrido. Era tão estranho, parecia que o tinha conhecido apenas alguns meses atrás, mesmo que já tivessem se passado anos. E então, ele estava morto. E ela não esteve lá para se despedir. Por isso estava chorando tanto.

Como se soubesse a reação de Emê, sua irmã acabou ligando por chamada de voz. Martnália até pensou em recusar, mas sabia que não iria adiantar muita coisa, então atendeu.

— Oi... — sua voz estava muito mais fanha do que imaginava, por conta do nariz entupido.

Eu sabia que você ia chorar, sabia! — A outra começou a tagarelar do outro lado. — Eu sempre bati nessa tecla de que você não é de ferro, por mais que queira ser, você ainda tem sentimentos. Meu deus... Que idiotice essa da mamãe de deixar você ir embora, eu falei, você tinha que ter ficado, ficado!

— Tá bom, tá bom, eu já entendi Fiona, você estava certa desde o começo. — Martnália suspirou, porque também sabia desde antes de atender a ligação que sua irmã começaria com um monólogo interminável sobre como estava certa.

Ah Emê! Você não sabe o quão chocada eu fiquei! Quer dizer, parece que foi ontem que esse menino veio aqui em casa! E de repente, morreu atropelado!

— Pois é... — Martnália fungou.

E então, você vai voltar? Como vai ser?

— Eu não sei Fiona, acho que essa não é uma boa ideia.

Como não? Todo mundo vai estar, todos aqueles seus amigos de antes, bom... Menos o que morreu... Mas enfim, você não quer ver eles?

Antes de responder, Martnália parou para pensar em como explicaria para Fiona que provavelmente seriam eles que não iriam querer vê-la. Sua irmã não sabia de quase nada do que havia acontecido quatro anos antes, quando ela deixou a cidade o mais rápido possível, e ela também não sentia a menor vontade de explicar isso agora.

— Claro que eu quero ver todo mundo, mas não é tão simples assim.

Olha, sinceramente, parece que é você quem está complicando tudo! Até hoje eu não entendo porque vocês pararam de se ver, tinham uma amizade tão bonita!

Sim, a amizade deles era bonita mesmo. E tinha surgido de uma maneira completamente inusitada. Ao se lembrar disso, Martnália sorriu instintivamente.

Enfim, na minha opinião, você deveria voltar Fiona concluiu.

— É, você já deixou isso bem claro...

Elas ficaram em silêncio por alguns instantes, e Martnália ficou surpresa ao descobrir que Fiona era capaz de não falar a sua opinião por tanto tempo.

Você vai voltar?

Dessa vez, Martnália respirou fundo e aproveitou a espera de Fiona para calcular rapidamente se deveria ou não ir. Se ela queria voltar? Ainda não. Mas será que realmente precisava voltar? E se voltasse, como seria recebida? Pior, como se sentiria ao vê-lo em um caixão? Só de pensar, um vazio enorme tomava seu peito. Lágrimas surgiram e ela voltou a chorar, sabendo que apesar de tantas questões, lá no fundo, já tinha sua resposta.

Emê? Você está aí?

— Sim... eu vou voltar.

Todos Nós Que Estamos VivosWhere stories live. Discover now