Capítulo 8

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Anna Smith

 A semana está se arrastando e ainda é quarta. O tempo ainda está chuvoso, então não me resta nada além de ficar deitada nesse quarto, apenas esperando o próximo dia de trabalho.

 Ultimamente tenho sentido tanta falta de Esmeralda. Faz pouco tempo que me mudei, mas a saudade é enorme. Sinto falta dos meus pais, dos nossos vizinhos – inclusive do Sr. Thomas, o mais rabugento de todos –, dos meus amigos e primos – até mesmo de Rachel, minha prima metida que sonha ser famosa. Passei tantos momentos bons naquele lugar. Lá sempre fazia sol, por isso estávamos sempre tomando banho de rio ou na enorme piscina natural formada pela cachoeira.

 É incrível como minha vida mudou ultimamente. Agora eu vivo na cidade grande, o centro de tudo. Trabalho na loja mais famosa do país como vendedora, aturo uma gerente insuportável, tenho que engolir as maldades daquela OPP – Olivia Palito platinada, como eu e Bruna apelidamos Vanessa – e ainda tenho que lidar com o mau humor de Daniel e com a saudade de casa.

 Depois daquele beijo na sexta passada, nós não trocamos muitas palavras que não fossem sobre o trabalho. Ele está me evitando ao máximo e eu tenho fugido dele nos poucos momentos em que ele se direciona a mim. Depois daquele beijo eu sinto coisas diferentes e confusas por ele. Num instante eu o odeio a ponto de querer matá-lo e, no outro, quero beijá-lo como se nada mais existisse além dele. Eu não sei o que está se passando comigo. Foi só um beijo qualquer. Ok, eu só beijei um cara além dele. Na verdade, esse cara me agarrou numa festa que teve lá em Esmeralda, então não vou contar essa vez.

 Droga, esse beijo foi a melhor coisa que aconteceu desde que cheguei. Mas eu não posso esquecer todas as nossas brigas e todas as coisas que ele me disse. Eu não posso ignorar que ele é arrogante, metido e perfeccionista quando eu sou exatamente o oposto dele. Nós não podemos ficar juntos, não vamos dar certo. Eu nem deveria estar pensando nesse assunto. Essa possibilidade nunca existiu e nem existirá, mesmo que eu esteja sentindo algo diferente por ele agora. Além disso, ele tem namorada. Tenho que me afastar enquanto há tempo, enquanto esse sentimento não se transforma em algo maior.

 Decido levantar de uma vez antes que pense em mais besteiras. Caminho até a sala, mas paro na porta quando ouço minhas amigas conversando.

– Você quer ficar com ele? – Amélia pergunta.

– Eu não sei. Ele é lindo, muito gato mesmo, mas é meio sem cérebro, não sabe conversar – Isa resmunga.

– Ih amiga, melhor cair fora.

– Eu sei, mas é tão bom gostar de alguém...

– Isso é verdade, mas não quer dizer que precisa se apaixonar pelo primeiro cara que você conhece!

– Tá, você tem razão.

 Volto imediatamente para o meu quarto. A última coisa que eu preciso agora é falar sobre meus sentimentos por um cara, ainda que esse cara seja Daniel e que eu não saiba o que eu estou sentindo por ele.

 Tranco a porta e sento na cama com o telefone em mãos. Preciso falar com alguém. Alguém que me entenda sem me julgar ou colocar suas expectativas sobre mim. Alguém que vai me ouvir, apenas isso. Já sei para quem ligar.

– Alô?

– Papai! – soo um pouco mais desesperada do que eu planejava.

– Minha filha, que saudade – posso sentir um pouco de tristeza em sua voz.

– Eu também estou morrendo de saudade pai... – choramingo.

– O que houve?

– Poxa, o senhor me conhece mesmo – dou uma risadinha nervosa.

Tudo de MimWhere stories live. Discover now