four

1.5K 185 56
                                    

Muitas pessoas não entendem o significado de liberdade. Ou simplesmente não sabem como usá-la, mas acontece, que precisamos usar aquilo que nos é de direito. Todos somos livres para fazer o que quisermos, mas Harry não é. Harry é prisioneiro de si mesmo, de sua mente, de seus medos, de tudo que o cerca. Aqueles olhos verdes já viram coisas que outras pessoas não aguentariam, por mais que ele não sabia, ele é forte. Forte ao ponto de aguentar tudo sozinho, forte por ficar calado e chorar sozinho, sem o apoio de ninguém ( por escolha própria), sem amor, sem atenção.

As paredes brancas são assustadoras, o ambiente gélido e silencioso é assustador, não há nenhuma luz vinda da janela, não há vida naquele quarto, e o menino preso à cama também está sem vida. Sua alma indo aos poucos, se despedindo de seu corpo, dando adeus a todo esse enorme sofrimento. Ele já não aguenta nada disso.

Faz uma semana que está ali, preso na cama como um animal, os enfermeiros são recebidos a gritos e soluços, mas eles não ligam, não é como se nunca tivesse visto um paciente reagindo como Harry reage, mas mal sabem os demônios que rondam sua mente. Os homens de branco não tem paciência, não tem cuidado, o braço do menino está todo colorido por roxo, há furos por todo seu braço, seus pulsos e tornozelos estão cortados, eles não dão a mínima, nem fazem um curativo.

Pelo corredor dois homens de branco conversam entre si sobre a visita matinal ao próximo paciente. Harry chegou a uma semana, mas já causou estresse em quase todos os enfermeiros.

— Niall, eu estou dizendo, não aguento mais aquele paciente! Ele simplesmente não reage ao tratamento, grita, chora e todos vão começar a pensar que estamos o torturando. — o moreno diz passando as mãos pelo rosto em sinal de frustração.

— Desde quando você faz esse tipo de comentário? Onde está o Liam que sonhava pra entrar aqui? Não reclame do Styles, todos nós temos problemas e se você não percebeu, ele também.

Niall seguiu em direção ao quarto 540 sem dar atenção ao amigo que só estava reclamando. Ele não culpava Liam, ser filho do diretor da clínica poderia ser estressante as vezes, mas tratar mal um paciente é inadmissível. Parando em frente à porta de cor branca, coloca a mão sobre a maçaneta e a gira com cuidado, o local está totalmente sem iluminação e o menino dorme em um sonho perturbado. Sua expressão não é serena, tem dor e raiva, mesmo de olhos fechados sua face transmite tudo isso. Niall então verifica a prancheta em sua mão e vê todos os dados do menino, é apenas um adolescente atormentado, sem carinho dos pais ou algum familiar. Com um suspiro frustrado, ele troca a medicação que está no cateter preso a veia de Harry e para mais alguns minutos para o observar, ele estava acordando.

— Bom dia, Harry. - ele diz com um sorriso sem dentes. — Vim trocar sua medicação, espero que estava se sentindo melhor.

— Estaria melhor longe desse lugar. — ele murmura e fecha os olhos.

— Eu sei. Mas é necessário. — Niall caminha até uma poltrona perto da cama pequena e se senta. — Você... Acha que está pronto para ter uma conversa?

— Por que... Por que acha que eu vou conversar... Com você?

— Eu não sei. Talvez para se sentir melhor, ou confortável. Eu não sou igual aos outros, eu juro.

— Pessoas são iguais, elas são ruins, e quando percebem que as outras pessoas ao redor não estão sendo suficiente, elas as descartam, tiram de suas vidas, como se fossemos um peso. Eu sou um peso. — seus olhos estavam marejados, mas ele não choraria ali.

— Harry... Entenda que só quero lhe ajudar, e-

— Eu não preciso da sua ajuda!

— Como não? Vamos, me diga algo.

— Eu não gosto de falar.

— Qual é, Harry! Estamos jogando no mesmo time, você sabe que pode confiar em mim, eu sou o único aqui que cuida de você, é só faz uma semana. Vamos, fale comigo.

— NAO ENTENDE? EU NAO QUERO FALAR! EU NÃO GOSTO DE VOCÊ E NÃO IREI FALAR NADA! NADA!

Harry começou a se debater na cama, a agulha indo cada vez mais fundo em sua veia, os olhos arregalados, as bochechas vermelhas e tomadas por grossa lágrimas, Niall estava assustado, já havia ouvido falar das crises de raiva do garoto, mas nunca presenciou uma. Ele sabia o que deveria fazer, ele deveria pegar um sedativo e sair dali, mas ao invés disso, ele apenas ficou no canto da parede vendo o sangue jorrando os pulsos e tornozelos de Harry, os gritos podiam ser ouvidos pelo corredor, onde enfermeiros vinham correndo até o quarto. A porta foi aberta com força e três homens entraram ali para conter Harry, dois deles seguraram em seus braços e outro vinha com uma seringa.

— O que diabos estão fazendo?!

Uma voz diferente soa no ambiente tomado por gritos. Os enfermeiros se entreolham e depois voltam a atenção a Harry.

— Ele está irredutível, doutor Tomlinson. Precisamos fazer nosso trabalho. — um deles disse.

— Isso não é seu trabalho! Não veem que estão o machucando? Se afastem! — eles permanecem no mesmo lugar. — Agora! — e então se afastam, Tomlinson não sabia nada sobre o menino, mas queria o ajudar, esse era seu dever. Se aproximando da cama vê os olhos verdes suplicantes e seu coração dói. — Ei, ei, está tudo bem, está tudo bem agora... Shh, não se preocupe, querido. — Ele coloca sua mão sobre a de Harry e o mais novo a puxa de volta com medo. — Eu não vou te machucar, eu prometo.

Eu prometo.

Eu prometo.

Eu prometo.

Harry não sabia de onde aquele pequeno homem de jaleco branco veio, mas ele o ajudou a ficar calmo, ele fez todo o seu interior se aquietar com apenas palavras.

Eu prometo.

— Niall, saia. Nós nos falamos depois. Levem esses três com você.

Niall assentiu ainda meio estático e se retirou levando os três rapazes ali presente, deixando somente o médico e o paciente.

— O-obrigado...

— Não precisa me agradecer. - Louis sorri, mas então seu sorriso se desfaz quando percebe seus machucados. — Precisamos cuidar disso... — ele não sabia o nome do menino.

— H-harry...

— Hazzy? — sua voz saiu duvidosa enquanto ele se levantava e abria um dos armários ali, encontrando álcool, gaze e o que precisava.

— Meu nome é Harry.

— Ok, Hazzy.





@sincerelycut

Philophobia - l.s Where stories live. Discover now