five

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Louis chega em seu apartamento completamente esgotado. Seu corpo e mente estão cansados, seu estado físico não é um dos melhores. Ele tem olheiras profundas, está muito magro e seus olhos beiram o desespero por uma boa noite de sono. Soltando um suspiro pesado, ele entra em seu apartamento, deixa suas chaves em cima da mesinha de entrada perto do jarro de flores e sua bolsa no sofá, olha para todos os lados em busca de seu noivo, mas não o acha, indo até a cozinha ele vê um bilhete colado à geladeira.

"Saí e não sei que horas volto. Não me espere para o jantar. Mark."

Essa era sua rotina. Chegar em casa cansado depois de um longo dia de trabalho, procurar por seu noivo e nunca o encontrar, nem ser recebido por beijos e abraços, Louis apenas sente saudades dos tempos em que ainda eram dois adolescentes apaixonados, onde a paixão e o amor emanavam de seus corpos, onde toda fonte de felicidade era a companhia um do outro e os planos para a faculdade. Mesmo Mark sendo seis anos mais novo que ele, Louis não se importa, apenas quer carinho e atenção, e ele encontrou tudo isso em seu noivo, que o apoiou quando toda a família o rejeitou por sua sexualidade, menos sua mãe, que mesmo não concordando de tudo, não quis o mal do filho, mas não pode fazer absolutamente nada quando seu padrasto o expulsou de casa, e foi morando na rua por longos e terríveis quatro meses que ele encontrou Mark. Louis sente seu coração se partindo em pedaços com as atitudes sem explicação de seu noivo, afinal, para onde foi todo aquele amor?

Louis pega o pedaço de papel em mãos e o amaça, jogando na lata de lixo e seguindo para o banheiro, ele se despe e encara sua figura nua por alguns minutos, ele sempre procurou cuidar de seu corpo, mas ultimamente o trabalho tem sugado tanto suas horas de lazer que ele ao menos vai a academia ou cuida de sua alimentação, Louis está visivelmente mais magro, é possível ver os ossos profundos em sua clavícula, bochechas e cintura. Tentando deixar esses pensamentos de lado ele liga o chuveiro e se enfia na água morna, espantando qualquer vestígio de hospital e tristeza. As gotícula de água passeiam por sua pele bronzeada, indo de seus cabelos ao seu peitoral e outras seguem outros caminhos, pega o sabonete líquido e coloca uma quantidade generosa na palma da mão, deslizando a mão por todo seu corpo, faz a mesma coisa com o shampoo, que vai para seus cabelos. Depois de vinte minutos ele sai, pegando uma toalha e enrolando na cintura, o banheiro está tomado por fumaça do chuveiro e o vidro do espelho está embaçado, mesmo não tento comido nada desde a hora do almoço, que já fazem nove horas, eles escova os dentes e vai para seu quarto, pondo uma calça de moletom confortável e uma regata. Seu corpo está tão cansado que ele só se deita na cama e em questão de segundos seu sono chega.

Seu sono não dura muito, já que um som mesmo que baixinho está perturbando seus ouvidos. Ele reconhece como o toque de seu celular, que está na sala, dentro de sua bolsa, ele tenta ignorar, mas então se lembra que o trabalho é mais importante, por mais que ele esteja muito frustrado agora, é seu dever atender o celular a qualquer hora do dia ou noite. Afastando as cobertas de seu corpo, ele caminha a passos lentos até a sala, está tudo escuro, a única luz é a dos prédios a sua volta, que entram por sua janela e dão um pouco de claridade a sacada. Ele abre a bolsa e revira um pouco, até achar o aparelho que está vibrando e na tela o nome "Niall" aparece. Louis desliza o dedão e atende. Um Niall exasperado fala.

— Louis? Oh meu Deus, me perdoe por isso! Sei que está muito cansado, mas nós já não sabemos o que fazer com ele. Ele... Ele está tendo uma crise séria e ninguém conseguiu o acal-

— Niall, está tudo bem. Respire e me diga o que está acontecendo. — o sono foi totalmente para fora de seu corpo e Louis está em alerta.

— É Harry. O paciente do 450. Ele tentou suicídio após nós o tirarmos das correntes. Liam o pegou se debruçando na janela tentando puxar as grades, depois disso ele começou a chorar e gritar, ninguém conseguiu o acalmar e sei o quão ele se deu bem com você. Só... Venha nos ajudar. Ajudar Harry. — ele termina com um longo suspiro.

— Eu chego em vinte minutos. — Louis diz indo para seu quarto apressado e pega um casaco.

— Muito obrigado. — Niall diz e a ligação se encerra.

O coração de Louis está agitado, ele mal pode acreditar que Harry tentou suicídio. Aquele menino tem vários demônios internos, mas ele não achava que chegaria a esse ponto. Ele ao menos sabe como se sente em relação a Harry, já que o mesmo não se abre, Louis quer pegar o caso de Harry e procurar da melhor forma possível ajudar o menino. Pegando suas chaves ele sai do apartamento trancando as porta e indo em direção as escadas, pelo elevador demoraria tempo demais, e tempo é algo que ele não tem. Vai até o subsolo onde está seu carro e o tira do alarme, abrindo a porta do motorista e saindo. Sua mente está a mil, ele pensa várias coisas ao mesmo tempo e não consegue se focar em uma.  Pelo relógio do rádio ele vê que são 1a.m., seus dedos se apertam no volante, Louis está nervoso.

Em menos de vinte minutos ele chega a clínica, vai até a garagem e deixa seu carro, pegando o elevador até o andar onde Harry se encontra. As portas do elevador se abrem e ele corre pelo imenso corredor, o suor brotando em sua testa e o coração acelerado, quando ele chega a frente do quarto, é possível ouvir vários murmúrios, mas nenhum é de Harry. Louis entra de supetão e os olhares são atraídos para si, há pelo menos cinco pessoas naquele quarto, e passando por todas essas pessoas, Louis vê o pequeno Harry encolhido no canto do quarto como uma bolinha, seu coração se aperta e ele quase se deixa levar pelas emoções, mas não poderia chorar ali. É politicamente incorreto. Ele se abaixa de frente para o menino, ainda sente os olhares em cima de si e todo o falatório cessou.

— Harry? Sou eu, Louis. — ele fala baixo, tem medo de que qualquer palavra machuque ainda mais o menino. — Ei, olhe para mim, sou só eu, não irei te machucar.

Harry parece irredutível. Seu corpo treme por inteiro, e assim que sua cabeça se levanta, Louis vê como seus lindos olhos verdes estão vermelhos, assim como seu nariz e bochecha, as lágrimas grossas caem de seus olhos e traçam um caminho por suas bochechas.

— L-Loui...

— Sim, doce, sou eu. Você pode me contar o que está acontecendo? — as palavras são proferidas de forma calma e suave.

— E-eu q-quero m-morrer. Eles... Eles não g-gostam de m-mim. E-eu... E-eu...

— Shh, tudo bem, doce, tudo bem. Você não precisa me falar agora. Está tudo bem.

Louis lhe dá um sorriso sem dentes e com a ponta dos dedos acaricia suas bochechas tomadas por lágrimas, secando-as com seus dedos, Harry funga baixinho e para o espanto de todos ele se acalma.

— Você consegue ficar bem por mim? — Louis pergunta e não obtém uma resposta. — Hein, Harry? Promete para o Louis que vai para de chorar e me sorrir?

Harry funga e assente, Louis sorri e pede para que todos se retirem do quarto, mesmo relutante eles vão, mas Liam ainda está lá, parado, observando o olhar carinhosa que Louis tem para com Harry.

— Enfermeira Jade? — Liam a chama.

— Sim?

— Aplique um tranquilizante no paciente.

A mulher assente e automaticamente Harry agarra a blusa de Louis, com os olhos já marejados e ele lança um olhar
suplicante.

— Está tudo bem, Harry. Shh, relaxe, querido. — Louis o tranquiliza para então se levantar e ficar frente à frente com Liam. — Sei que não sou um doutor tão experiente como você, mas creio que não será preciso remédios Liam. Olhe para ele — Louis aponta. —, está tudo bem agora.

— Depois de tudo o que ele tentou fazer? Louis, você está louco! Não se pode-

— Eu sei o que estou fazendo. Peço que se retire, fui chamado aqui e quero ajudar, deixe-me fazer meu trabalho.

Um pouco relutante, Liam assente e sai, deixando Harry e Louis sozinhos. Louis levanta o menino e o deita na cama, em silêncio, para então o mesmo dormir e Louis velar seu sono. Ele conversaria com Harry depois.

Não muito longe dali, Liam estava com um cigarro na boca, o olhar perdido e seus pensamentos mais perdidos ainda, ele lembrava de como sua vida era feliz com Olivia. E de como ela foi arrancada de sua vida da forma mais cruel possível. Assim como Harry, Olivia era uma paciente e Liam se envolveu, se apaixonou e no final, ela morreu, o deixando amargo e rude.




@sincerelycut

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