SETE

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Danna: Quando os Pássaros Pousam

Condado de Tulare, Califórnia

— Que inferno! — disse o homem furioso, jogando Antonella desacordada escadaria abaixo, pelo barulho, imaginou que ela tivesse quebrado algo ao se chocar com o chão duro do porão.

"Melhor mesmo que quebre o pescoço!" Pensou, pois seria um problema a menos para resolver, aliás, se não tomasse providências logo, teria muitos problemas dali para frente.

Aquela imbecil não devia estar ali, era uma boa moça, mal fizera vinte e cinco, muito trabalhadora, e pelo que sabia, arcava sozinha com as despesas da casa onde morava com a mãe e seus dois irmãos mais novos, mas o que ela vira não lhe deixava outra opção, Antonella descobrira o seu segredo. Não dava pra agir como se nada tivesse acontecido.

Se ao menos Antonella fosse analfabeta, bastaria lhe cortar a língua que estava tudo resolvido, mas ela sabia ler e escrever, tinha certeza disso. Cogitou dar-lhe uma prensa e até ameaçá-la com um aviso, caso ela resolvesse falar o que viu para alguém, mas era arriscado demais.

Viva, Antonella seria um problema, ela precisava morrer.

Ele chegou a ir até o celeiro, onde guardava a sua espingarda, mas mudou de ideia logo que a carregou.

Se a moça precisava morrer, não precisava ser rápido, por que lhe poupar a diversão? A sua diversão, é claro!

Se negou a buscar outra solução, decidiu que a pobre teria o mesmo fim daqueles que tentaram enganá-lo, embora soubesse que Antonella não o merecia, não via ali qualquer saída, ao menos, desfrutaria de alguns dias tranquilos, enquanto ela espantasse as aves do milharal.

Resolveu descer ao porão para checar se estava mesmo viva após o seu empurrão, apenas depois disso poderia planejar com cautela o destino da pobre empregada. Ele desceu as escadas devagar, havia pouca luz ali, mas viu logo que o corpo dela já não estava no chão.

— Antonella, que bom que não se feriu muito — falou sério, mas levemente debochado. — Onde você está, pequena? — disse referenciando a baixa estatura dela, enquanto caminhava devagar contornando a escada. — Entendo que queira brincar, mas... — Não concluiu a frase, pois a moça se jogou para cima dele derrubando-o no chão, mas ele a puxou, de forma que Antonella caiu sobre seu corpo. Estava apavorada, não sabia se o segurava ou o estapeava, a indecisão não durou muito, logo ele estava por cima dela, rindo alto da sua fraqueza, irritado por sua ousadia e excitado por aquela repentina coragem.

O gesto inesperado de Antonella o fez lembrar de Heloisa, das suas teimosias, do seu calor, da sua feminilidade e de todo o prazer que ela lhe proporcionou, de tudo de bom que a esposa tinha para lhe oferecer, mas que alguém lhe roubou, transformando sua querida numa mulher frígida, ávida pelo toque de outro homem.

Com raiva se lembrou de que, mesmo sabendo da traição da sua esposa, e ciente de seus direitos de marido, nunca a tocou à força, até porque depois que descobrira tudo sobre o romance pecaminoso de Heloisa, o que mais sentia por ela era asco, como se todo o amor que sentiu um dia se transformasse em pura repugnância.

Tais lembranças fizeram-no perceber que há mais de dez anos não possuía uma mulher, chegou a acreditar que isso não lhe fazia qualquer falta, afinal nunca fora um homem fogoso, eram tantos afazeres na fazenda, que o sexo sempre pôde esperar. Mas agora, sua libido parecia despertar de um sono profundo, de tal forma que não via meios para controlar, apesar de que não via motivos para isso. O que estava à sua frente não passava de um pedaço de carne com prazo de validade, logo não restaria nada dela que desse para aproveitar, o momento de tê-la como bem entendesse era aquele.

Nunca antes sentira qualquer atração por aquela mulher, nem nunca percebera nela qualquer ponto de beleza, mas aquilo parecia não importar, pois o contato com seu corpo frágil abaixo do seu, fê-lo sentir viril como há muito não se sentia, ele a queria... queria o seu sexo.

Antonella percebeu de imediato as intenções do seu patrão, sem conter as lágrimas e as súplicas por piedade, ela foi despida às pressas e com violência.

Na manhã seguinte, a mãe de Antonella foi à fazenda acompanhada de um garoto para ter notícias da filha que não retornara no dia anterior, imaginou que ela dormiu ali por alguma necessidade do seu bondoso patrão.

A pobre senhora se alarmou ao ouvir que sua filha saíra da fazenda normalmente no dia anterior e que seu patrão não imaginava qual fosse o seu paradeiro. Ele até pediu que a mandasse urgente para a fazenda assim que a encontrasse, já que tinha sérias dificuldades em desempenhar os afazeres da casa por causa da sua deficiência, avisou ainda que, caso Antonella não retornasse logo ao trabalho, contrataria outra empregada, o que desesperou ainda mais aquela mãe. O dinheiro de Antonella era tudo que garantia a sua sobrevivência e a dos seus filhos.

Ao entardecer, ele foi ao porão, onde encontrou Antonella encolhida num canto, choramingando. Precisava hasteá-la logo, mas precisava se precaver de futuros transtornos, tinha que ter certeza que ninguém a encontraria no milharal.

Ele jogou no chão um pedaço de pão, ao que ela o encarou, nos seus olhos havia um misto de horror, desprezo e medo, o que para seu agressor pareceu pura condenação. Aquele olhar soou como uma apunhalada, pois somente depois do ato é que caíra em si, lamentando profundamente sua última ação. Nunca violentara uma mulher, jamais imaginou ser capaz desse ato medonho.

Não sabia quantos dias iria mantê-la escondida no porão, o que sabia é que não conseguiria encarar aquele olhar novamente, não precisava disso, não precisava de mais ninguém o culpando por algo.

Para lidar com o remorso que lhe corroía por dentro, culpava Antonella por tê-lo atacado, tê-lo confrontado e ser a causadora do que se sucedeu, mas como não era o suficiente, então naquela mesma noite cuidou de manter Antonella às escuras, após perfurar os seus olhos.


Quando os Pássaros Pousam e Outros Contos PsicopáticosWhere stories live. Discover now