QUATORZE

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O Ceifador de Anjos: A Coleção de Fetos

Los Angeles, Califórnia

A semana mal começou para Vincent Hughes, e apesar da tranquilidade no hospital, sua cabeça latejava como se suas incumbências o sobrecarregassem.

Assim, apesar da calmaria aparente ao desempenhar junto dos seus colegas, o turbilhão de pensamentos roubava a sua paz mental, o que ele sabia se tratar de um aviso com ares de exigência de que precisava sair dali e então colocar suas ideias no lugar. Caso não fizesse isso logo, iria surtar.

Após dar as ordens necessárias, Vincent se despediu dos colegas, saindo mais cedo do hospital e seguindo para sua casa. Por sorte teria algum tempo para ficar no porão antes de sua esposa chegar e requerer a sua atenção.

Mentalmente, Vincent reprisava os acontecimentos do final de semana em sua casa, onde o almoço para comemorar a promoção da melhor amiga Adelle resultou em mais surpresas que o esperado por ele.

Enquanto dirigia, as palavras da amiga ecoavam em sua cabeça, como uma gravação sem pausa, impossível de conter.

"Meus queridos, essa advogada bonitona aqui vai ser mamãe!" Foi o que Adelle disse com os olhos brilhando de alegria, o que fez o estômago de Vincent revirar em desagrado ao ouvir tal notícia. "Como o médico me garantiu, o resultado veio logo no primeiro ciclo. Fiz o teste há dois dias, imaginem minha alegria, não via a hora de contar para vocês."

Aquela era, sem sombra de dúvidas para o biomédico, a maior besteira que Adelle queria fazer, não bastasse a incapacidade da amiga de sustentar um relacionamento amoroso, agora estava decidida a ser mãe independente. A amiga sempre teve seus caprichos, mas esse era demasiado insano.

Sua esposa, Donna, foi a primeira pessoa a se levantar da mesa para abraçar a amiga após ouvir a novidade, Vincent seguiu o seu gesto com o lindo sorriso que costumava exibir.

"Parabéns, Ade, fico muito feliz por você!" Foi o que ele disse ao abraçá-la e beijar o seu rosto, mas agora esmurrava o volante sem conter a irritação e a frustração por não poder, naquele momento, chacoalhar a amiga, até estapeá-la se fosse preciso, para que Adelle caísse em si sobre a loucura que queria fazer.

Loucura que ela fez.

Adelle estava grávida.

Era oficial.

"Que bom que você está realizando os seus sonhos, Ade. Fico feliz que esteja aumentando nossa família!". O que mais ele poderia dizer? O que ele poderia fazer? Ade sempre foi sua amiga, sua melhor amiga, era como se fosse da família.

Não havia mais nada que ele pudesse fazer.

Vincent estacionou o carro, não se incomodou em guardá-lo na garagem, estava ansioso e aflito, tudo que precisava era entrar em sua casa e descer até o porão. Ele seguiu apressado.

"Obrigada, Vince, seu apoio é muito importante para mim, sabia? Você sempre fez parte da minha família e depois que todos se foram, apenas me sobrou você... e essa fofa da Donna! Obrigada por ficar do meu lado, estava receosa de que você ainda não aprovasse minha decisão."

Não, Vincent não a apoiaria naquela decisão, não poderia apoiá-la, mas de que valeria a sua opinião agora?

Adelle estava feliz, Donna estava feliz e ele também tinha que estar feliz.

"Não pense nisso, Ade, você tem todo direito de tomar as suas decisões, é independente e madura para isso. Quanto a mim, vou te apoiar sempre!" Vincent a abraçou apertado, soltando-a logo para que seus amigos e vizinhos, Pamela e Alex, também pudessem parabenizá-la.

Quando os Pássaros Pousam e Outros Contos PsicopáticosWhere stories live. Discover now