OITO

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Danna: Publicidade Sangrenta

Los Angeles, Califórnia


Os anos difíceis há muito ficaram para trás, agora, a vida finalmente lhe sorria, recompensando-o pelo trabalho árduo e por todas as dificuldades que encontrara em sua jornada.

A carreira estável como escritor era tudo que o brasileiro Adriano Léo Araújo almejava, e depois de algumas decepções ao fechar um contrato editorial no êxtase pela oportunidade de realizar seu sonho, agora, ao lançar seu sexto livro, podia comemorar a sua vitória, já que os últimos três deles fora lançado por uma das maiores editoras americanas.

Tão logo surgiu a proposta de lançamento, A.L. Araújo como se tornou conhecido, vulgo Drico, se mudou para Los Angeles com o seu companheiro, ávidos por uma vida nova em um novo país.

Fosse pelo sucesso no Brasil, ou por ser lançado pela poderosa Coleman Publisher, seus livros logo fizeram sucesso, estando vez ou outra entre os mais vendidos da editora.

Há quatro anos Drico e Nando residiam em Los Angeles, viajando para o Brasil esporadicamente para visitar seus familiares ou à trabalho, já que o escritor dificilmente recusava os convites que recebia dos antigos amigos envolvidos nos mais variados eventos literários, além das entrevistas que concedia aos programas de TV brasileira.

— Drico, não dá para terminar isso depois? — Connie falou sem esconder o tom urgente em sua voz ao colocar a mão sobre a mesa que o escritor ocupava, atento ao texto que digitava em seu notebook. — Vamos chegar atrasados!

— Ainda faltam duas horas, Connie! — respondeu olhando-a com um sorriso. — Toma um café, relaxa! — disse voltando sua atenção ao notebook.

— Precisamos chegar à livraria com antecedência, antes que se forme a fila...

— Vamos chegar com antecedência, Connie! Vou só terminar esse parágrafo — concluiu ele.

— Você disse isso há mais de meia hora, Drico!

— Não, eu disse que ia escrever só até "ele" morrer, e "ele" morre nesse último parágrafo — explicou retirando os óculos e limpando-os com um lenço.

— Não pode matar ele depois? — insistiu Connie ao vê-lo voltar a digitar.

— Por que matar depois, se posso matar ele... agora!? — falou ao digitar o ponto final, ao que Connie balançou a cabeça fazendo careta.

— Agradeço por apenas te assessorar, se fosse para ler os seus livros, eu...

— Um dia escrevo algo especialmente para você! — disse ele sorrindo ao se levantar da cadeira.

— Não, obrigada! Sei que alguém de quem irei gostar vai morrer, então não se dê ao trabalho! — retrucou Connie.

— Sou um escritor de thriller, e minha própria agente não lê thrillers, que sorte a minha! — brincou se afastando. — Vou trocar a camisa, já volto — avisou.

— Não demore, Drico! — disse alto para que ele ouvisse após perdê-lo de vista, enquanto apanhava a bolsa e retirava as chaves do carro, como se seu gesto fosse apressar o autor.

Connie tinha pouco mais de vinte e cinco anos, loira de corte Chanel, estatura mediana e um corpo magro, era uma mulher bonita e de expressão séria, o que denotava a sua postura sempre profissional. Por ser filha de uma brasileira e um americano, tinha fluência em ambas línguas, por isso ela foi indicada para agenciar o escritor logo que ele assinou o contrato com a atual editora.

Aos poucos, Connie conquistou a confiança e a amizade de Drico e Nando, se tornando a melhor amiga do casal. Assim, logo desenvolveram o hábito de se encontrarem sempre antes de qualquer evento, onde Connie se incumbia de levar e trazer o amigo escritor para os destinos necessários, não que ele não tivesse meios próprios de se locomover, já que dispunha de uma potente moto, na qual a amiga agente se recusava a andar.

Quando os Pássaros Pousam e Outros Contos PsicopáticosWhere stories live. Discover now