TREZE

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Danna: Quando os Pássaros Pousam

Condado de Tulare, Califórnia

Lentamente Charles recobrava sua consciência. Seu corpo doía como se tivesse levado uma surra e tudo que sentia era dor.

Seus olhos logo se habituaram à pouca luz do ambiente, permitindo-o reconhecer aos poucos onde estava. As dores musculares e o fato dele estar desconfortavelmente caído aos pés daquela escadaria o fez deduzir que havia rolado lá de cima.

Charles sentou com dificuldade, moveu suas pernas e braços para verificar se havia algum ferimento que merecesse sua atenção. Suspirou aliviado ao perceber que não sofrera nada grave, em dois ou três dias aquela dor iria passar.

Enquanto se levantava com certa dificuldade, Charles tentava se lembrar como chegara até ali, sabia que aquele era o porão da casa de seu patrão, pois conhecia-o bem, já que era ele mesmo o encarregado de empilhar os pertences do fazendeiro naquele espaço apertado.

A luz escassa e a certeza de se encontrar praticamente debaixo de uma casa, o fez sufocar, causando-lhe um leve desconforto, pois sentia falta de ar, não que ali de fato faltasse algum, mas lugares fechados — e escuros — não era algo com que Charles pudesse lidar.

Desnorteado e com fortes dores de cabeça, ainda tentando se lembrar do que o levara até ali, procurou pelo interruptor. Em instantes, a luz amarelada tomou conta do lugar, e com ela, vieram os primeiros lampejos do que o fez perceber que estava com sérios problemas.

A situação em que se encontrava, somada às lembranças do último jantar, onde vira seu patrão inexplicavelmente se levantar e caminhar até ele, não deixavam mais margens à qualquer incredulidade, pois não tinha quaisquer dúvidas sobre ter sido real. Com pesar, Charles se deu conta que cada desconfiança sua estava certa, cada pensamento ruim que tivera sobre seu patrão, pelos quais se martirizava, estava correto.

Charles se lembrava de ter perdido o controle do próprio corpo, da tontura que sentira e de ter sido colocado numa cadeira de rodas, a mesma que seu patrão usara por anos. Lembrava do assovio fúnebre cantarolado pelo velho Craig, e embora já tivesse perdido a consciência ao chegar na porta do porão, imaginou seu patrão abrindo-a e simplesmente inclinando a cadeira de rodas, fazendo com que seu corpo pesasse para frente e rolasse até chegar ao chão.

Apesar da sua estatura grande e da força aparente, Charles nunca foi um homem que se impusesse perante os demais, que desse medo ou algo assim. Todos sabiam do quanto ele era uma pessoa boa e humilde, mas imaginá-lo amedrontado como estava naquele momento, isso ninguém poderia imaginar.

Charles chorava pela infeliz descoberta, não somente pela situação em que chegara, mas por ter sido enganado por quem ele serviu cegamente por longos anos, em quem ele confiava. As lágrimas redobraram a intensidade ao lembrar da doce Heloisa, de como a encontrara desfalecida no milharal.

Só agora ele se dava conta do mal que fez à sua querida patroa, pois a devolvera, debilitada e indefesa, ao homem que lhe machucava. Lembrou que teria feito o mesmo com a pobre Antonella, pelo menos a culpa de levá-la de volta ao patrão ele não carregaria consigo, não que tivesse feito alguma diferença nos últimos momentos da falecida empregada.

Logo ele se lembrou do filho do fazendeiro vizinho de seu patrão, Jacob, o jovem que se apaixonara pela sua patroa e que desaparecera, fazendo a todos pensarem que ele fugira com a amante, deixando o seu pai desolado por não ter nenhuma notícia do filho.

Agora, Charles tinha certeza que nem Heloisa e nem Jacob fugiram, ambos foram mortos por Craig. Deduziu que seus corpos estavam enterrados em algum buraco naquelas terras, depois de tantos anos, haveriam apenas ossos e... nenhuma justiça, porque a lei naquelas terras era Craig quem fazia!

Quando os Pássaros Pousam e Outros Contos PsicopáticosWhere stories live. Discover now