SEIS

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Danna: Dente de Leão

Los Angeles, Califórnia

Belinda não via a hora de chegar em sua casa, embora chateada pelo namorado não poder lhe fazer companhia na noite fria, as responsabilidades que lhe eram atribuídas pelo cargo de gerência a esgotavam diariamente, assim, sabia que logo iria deitar e dormir. Talvez não fosse de todo ruim a viagem que o namorado fizera, pois teria algumas noites para descansar.

Aos vinte e oito anos, Belinda há muito conquistara sua independência, tinha uma bela e confortável casa num bairro nobre de Los Angeles, além de ganhar razoavelmente bem. Como trabalhava apenas no período da tarde e começo da noite, tinha as manhãs livres para cuidar da casa e do seu corpo, fazendo suas caminhadas matinais, onde aproveitava para ir à padaria ou no mercado quando fosse preciso, sempre a pé. Tais cuidados evitavam que ela passasse horas numa academia, o que não suportava.

Belinda estacionou o carro na garagem e entrou pela porta dos fundos, ao passar pela cozinha tomou um copo de água, como havia lanchado há pouco na empresa, não sentia fome, então subiu para se banhar e em seguida deitar para dormir.

Belinda se despiu de frente ao espelho que mantinha na porta do closet, como de praxe, analisou suas curvas avantajadas, o que segundo ela mesmo notara, estava mais bonita encorpada do que quando tinha seus vinte anos, certamente o tempo lhe fizera muito bem. Os cabelos loiros recentemente cortados, caíam-lhe até os ombros lisíssimos, a cabeleira era pouca, mas muito bem cuidada. O rosto de Belinda conservara as sardas de quando ainda era uma menina, o que sempre ouvira dizer que um dia iriam desaparecer, mas não desapareceu, de qualquer forma, elas não a incomodavam, não eram feias. Os olhos verdes miúdos ainda se mostravam bem maquiados, seus lábios pequenos e finos exibiam sua cor natural, mas com um brilho proporcionado pelo gloss que costumava usar apenas para mantê-los sempre molhados.

Enquanto Belinda contemplava o próprio reflexo no espelho, voltou a atenção para o seu pescoço, onde estava pendurado o único adorno que usava naquele momento: uma correntinha de cor prata, que o joalheiro garantiu se tratar de ouro branco, de onde pendia um delicado dente de leão, que o mesmo joalheiro disse ser realmente o de um animal. Belinda tocou-o mais uma vez analisando-o, fora um presente peculiar com certeza, ela o recebera dois dias depois de ir à uma festa proporcionada pela empresa, que contou com convidados milionários.

Apenas um homem rico, de gosto peculiar e fino poderia presentar daquela forma, mas ela não sabia quem de fato a presenteou, mas acreditava piamente que a pessoa generosa estava naquela festa. No mesmo dia que recebeu o pequeno embrulho anonimamente, que lhe fora deixado sobre a sua mesa na empresa, questionou entre as colegas de trabalho se alguém mais recebera, mas não, ninguém mais ali havia ganhado qualquer lembrança pós-festa.

Antes de entrar no box para se banhar, retirou a corrente e deixou-a sobre a pia do banheiro, se perguntando mais uma vez quem fora a pessoa misteriosa que a presenteou.

Belinda tomou um banho rápido, se secou e vestiu uma camisola longa de seda azul, como era alta, o traje para dormir lhe caíra muito bem. Lá fora fazia muito frio, mas dentro do seu quarto, a temperatura estava bem agradável.

Depositou o fino presente sobre o criado-mudo, apagou as luzes, deitou e dormiu.

Belinda não desconfiava que estava sendo seguida há mais de um mês, ele a vigiava constantemente, a seguira em todos os seus compromissos, já conhecia toda sua rotina e sabia seus horários.

Ele sabia que Belinda namorava, mas o pobre infeliz não seria um impedimento para que ela fosse sua... para que fosse sua leoa.

Belinda não ouviu a porta dos fundos ser aberta, não ouviu os passos subindo os degraus da escada, e nem a porta do seu quarto se abrir.

Agora ele estava ali à sua frente, contemplando-a com um olhar faminto.

A camisola havia subido permitindo-lhe ver suas pernas, uma das coxas estava à mostra também, a alça do traje caído sobre o braço pareceu-lhe um convite promíscuo. Sua mente doentia acreditou que ela o esperava.

Logo percebera o presente que ele havia enviado, cuidadosamente colocado num móvel ao lado da cama. Sim, ele marcou o território antes mesmo de atacar.

Belinda seria sua essa noite... seria sua leoa!

Ele a escolhera tal qual escolhera outras mulheres em Los Angeles, todas elas eram mulheres fortes, determinadas e independentes... eram verdadeiras leoas, eram suas leoas.

Ele, um leão, um predador por natureza, um predador de carne, um predador de sexo, um predador social... um psicopata!

Belinda continuava sem perceber qualquer aproximação, não se movera desde a chegada do invasor, apenas ao sentir uma forte pressão sobre seu corpo, é que ela despertou, mas já era tarde demais.

O terror tomou conta do seu ser ao se deparar com aquele homem mascarado, em seu rosto se via a face de um leão com os dentes à mostra, seu corpo musculoso vinha trajado de preto. Ele segurava com força os seus pulsos acima da cabeça com apenas uma mão, enquanto que com a outra segurava um punhal rente à garganta de Belinda.

Ela não podia gritar, não podia nem sequer se mover. Durante alguns segundos ficou totalmente sem reação, questionando a si mesma se aquilo era real ou se estava de alguma forma alucinando.

Mas era real, ela despertara para viver seu pior pesadelo!

— Q-quem é você? — Foi tudo que ela conseguiu dizer.

— O seu leão! — respondeu com voz rouca, enquanto seus olhos pareceram brilhar de excitação. — E você agora é minha leoa!

O coração de Belinda disparou, o ar faltou e o desespero a fez engolir em seco, ela já sabia o que estava prestes a acontecer.

Belinda sabia o inferno que estava prestes a viver.


Quando os Pássaros Pousam e Outros Contos PsicopáticosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora