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Segredos de Origami Guardados em Porcelana

Tóquio, Japão

Cara Valentine, escrevo-lhe essa carta com certo receio, eu confesso, mas espero que a mesma chegue até ti... o que imagino que não aconteceu com a anterior que enviei.

Bem, minha amiga, saiba que respondi sua carta anterior assim que a li, há mais de dois meses atrás, e como sua resposta tardou a chegar, considerei que talvez fossem reais os boatos sobre a greve nos serviços de entrega de correspondências no seu país.

Não sei dizer se a confirmação de tal greve me trouxe mais alívio ou pesar, pois a mesma extinguiu minha preocupação sobre o que poderia ter lhe acontecido, minha amiga... mas lamento que isso nos atrapalhe!

Não sei se irá receber a carta anterior, também não sei se esta que agora escrevo lhe será entregue, pois o que sei, segundo o que li na internet, a greve está para acabar... Espero que acabe logo!

Em meio às minhas preocupações, Valentine — tenho muitas, acredite! — está você! A falta de notícias me preocupa, sinto como se eu estivesse perdendo algo importante da sua vida, como se algo estivesse acontecendo agora e eu estou aqui de mãos atadas sem saber...

Bem sabes que me faz falta, Valentine...

Tenho tanto a confidenciar e anseio pelos últimos acontecimentos de sua vida!

Janet a tem perturbado? E a misteriosa Phoebe, tem ocupado sua mente nas noites de insônia? Tina tem feito muita falta?

São tantas perguntas, e espero ávido pela resposta de cada uma delas, Valentine!

Mas o que mais me intriga — me pergunto se você já saberia me dizer —, é quem está desafiando-a, quem ousou invadir sua casa, Valentine? E com que propósito tirou de você parte da sua encantadora coleção...

Quais as intenções desse ladrão infeliz? Sim, eu sei que não se trata de um mero ladrão, mas me faltaram melhores termos para me referir a esse indivíduo que tem lhe roubado a paz — e garantido ainda mais emoção na sua vida, eu sei!

Na carta anterior que enviei, contei-lhe mais sobre a garota do píer, minha linda Yoko, tão pequena, tão jovem e feminina...

Como já sabe... falhei!

Falhei porque já estive com ela duas vezes depois das que havia confidenciado a você, e não, não consegui jogá-la ao mar.

Yoko não é como minhas outras sereias, Valentine, como deve ter percebido pelo que relatei nas cartas anteriores. Minha pequena sereia acende em mim algo diferente, algo que ainda não sei explicar.

Sim, também a levei para outra pescaria...

Sei o que pensa e que não aprova, mas aquele olhar e aquele sorriso...

Os mesmos que vi naquela noite no píer... me fascinam!

Talvez a sensação de ter meus métodos aprovados e até aplaudidos...

Não sei ao certo!

Me desculpe, Valentine, acho que estou me prolongando sobre ela, imagino que esteja revirando os olhos em desaprovação, desculpe!

Deixe-me contar sobre a última vez em que fui pescar — foi depois que enviei a última carta, nessa noite não levei Yoko comigo.

Kira acabara de completar quinze anos — estava justamente comemorando o seu aniversário com cinco amigas quando a vi num pub que acabou de ser inaugurado próximo ao clube que trabalhei —, a cumprimentei sorrateiro sem que as outras meninas notassem, pois dentre elas, além de Kira, haviam outras duas que também foram minhas alunas de natação.

Quando os Pássaros Pousam e Outros Contos PsicopáticosWhere stories live. Discover now