Danna: Quando os Pássaros Pousam
Condado de Tulare, Califórnia
— Nãoooooooooooooooooooooooooo... — O grito desesperado de Vivien foi abafado pelas trovoadas, enquanto suas lágrimas se misturavam às gotas pesadas da chuva que o corpo magro da pobre mulher parecia nem sentir.
Ajoelhada no chão lamacento, Vivien encarava incrédula o corpo do homem com quem conviveu por quase trinta anos, hasteado, tal qual um mísero espantalho, cujas vestes encharcadas denunciavam os maus tratos aos quais ele fora submetido.
— Você não merecia isso... — disse a mulher antes de deixar sua face se chocar com o chão, enquanto suas mãos seguravam com força a terra barrenta formada de baixo dela. — Maldito seja quem fez essa maldade com você! — praguejou entre soluços enquanto um raio riscou o céu em meio às trovoadas da chuva que estava longe de cessar.
4 dias antes
— Com licença, senhor Craig! O chá já está pronto, posso trazer? — indagou a empregada ao entrar na sala, onde o xerife tentava relaxar no sofá, mas sem conseguir disfarçar sua expressão cansada e carregada de preocupação.
— Faça esse favor, Aracy! Sirva nosso homem da lei — respondeu, ao que a empregada gesticulou com a cabeça.
— Agradecido, senhor Craig! Só mesmo um chá pra acalmar os ânimos! — disse com um sorriso amarelo, deixando transparecer o seu desânimo. — Mas me diga, em que posso ser útil ao senhor? Vim o mais rápido que pude, perdoe se demorei, mas como o senhor pode imaginar, dias turbulentos esses que passaram!
— O chamei exatamente por isso, por causa da investigação.
— Acaso sabe algo que possa me ajudar? — indagou o xerife com expectativas.
— Não — disse balançando a cabeça. — Infelizmente sei o que todos já sabem, e suponho que menos que o senhor, xerife.
— Na verdade, senhor Craig... — disse dando um suspiro. — Não temos nada! Só que...
— Esperam pelo pior? — Interrompeu o fazendeiro, ao que o xerife concordou com a cabeça. — Confesso, xerife, que também espero pelo pior, e é por isso que o chamei até aqui.
— Pois sou todo ouvidos, senhor Craig! — disse ao mesmo tempo em que Aracy adentrou o ambiente segurando uma bandeja.
— Deixe isso aí, que nós vamos nos servir, Aracy! — ordenou o patrão, ao que a mulher obedeceu deixando a bandeja na mesa de canto, se retirando em seguida. — Se importa? — perguntou o fazendeiro para o xerife, apontando para a bandeja.
— De forma alguma! — respondeu se levantando para servir a si e ao seu anfitrião. — O senhor estava me dizendo? — retomou a conversa ao lhe entregar uma xícara.
— Sim, obrigado! — agradeceu o fazendeiro tomando o primeiro gole do seu chá. — Quero que façam o quanto mais antes uma busca em minha plantação, que removam cada pedra do lugar se for para encontrarem meu melhor homem!
— O senhor também acha suspeito esse sumiço dele, né? — perguntou, embora já soubesse a resposta.
— Muito! Charles jamais deixaria mulher e filhos, ouso dizer que jamais me deixaria... Era como um filho pra mim! Desaparecer assim, sem motivos, não é coisa do Charles, e eu o conheço suficientemente para afirmar isso.
— Acha que quem o pegou foi a mesma pessoa que cometeu aquelas atrocidades com a pobre Antonella?
— Isso eu não sei dizer, xerife, o que o senhor acha? — perguntou curioso.
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Quando os Pássaros Pousam e Outros Contos Psicopáticos
Short StoryO vento sopra as folhas do milharal levando para longe o fedor da carne pútrida, enquanto alguns pássaros sobrevoam baixo a triste figura hasteada em meio à plantação. O corpo cadavérico encoberto por sacos de estopa, cuja face deformada é escondida...