5. cite o amor

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5. cite o amor

Em uma mesa de oito lugares, Aimée sentou em uma das pontas, acompanhada de Apolo que sentou à sua esquerda, e a cada arrastar das cadeiras pelas crianças que decidiam o seu lugar e Rodrigo que abria espaço para colocar as panelas, minhas mãos vacilavam um tanto a mais.

Eu tremia, com vontade de arrancar minhas unhas e arregalar meus olhos, respirar o mais fundo que conseguia. Gostaria de mostrar ali todos os sentimentos que passavam pelo meu corpo. Massagear meus ombros para tentar aliviar o que minha cabeça deixava tenso e, assim, investigar um dentro de um cérebro vazio e tranquilo alguma coisa para falar que não a vida de Zeus. Ou como queria xingar Rodrigo por sequer ter rido de Zeus, de uma pergunta genuína.

Ajudando os gêmeos a realmente sentarem corretos nas cadeiras, fui em busca de uma almofada para cada um para eles colocarem no encosto da cadeira, deixando assim as pernas mais livres. Eu queria fazer com que eles sentissem o bem estar de estar ali dentro do meu apartamento, o meu lar, ao mesmo tempo que estava buscando alguma ocupação.

Eu ajeitei os quadrados recheados de estofamento nas costas de cada um, os empurrei para a mesa e arrumei melhor as panelas que Rodrigo já estava colocando para que os outros se servissem. O vermelho dos metais contrastava bem com o verde dos pratos e o colorido dos sousplat.

Não conseguia pensar em um tempo onde não me importava com a apresentação de uma mesa de jantar. Mesmo que fosse uma janta somente para eu comer, enfeitaria do mesmo jeito. Um sentimento de tranquilidade me acobertava ao ver aquela mesma mesa, a qual eu jantava e almoçava a maioria dos dias quando criança, arrumada do meu jeito, algo que deixaria minha mãe orgulhosa do capricho.

Dando uma última revisada, apoiei-me na cadeira onde Martina tivera sentado. Os olhos como o mar examinavam a comida cheios de fome. Conseguia imaginar ela e seus irmãos na casa deles com o dobro de comida, rindo enquanto comiam vegetais e algum peru em algum Natal o qual eu não participei e talvez nunca fosse participar. Rindo, eles falariam sobre alguma brincadeira na escola e o irmão mais velho, sorrindo e com seu peito repleto de orgulho, pensaria em como eles eram um presente do deus o qual era seu nome.

Então, a mão de Martina tocou a minha que estava na sua cadeira, e olhando para cima, a garota examinou o meu rosto, querendo saber o que eu estava pensando. Piscando algumas vezes, balancei a cabeça e apertei sua mão, notando que Zeus já havia voltado do banheiro e estava me olhando da onde tinha sentado ao lado de Vinícius.

Rodrigo conversava com Apolo alheio a como eu e o homem nos olhávamos. Em como eu me perdia na ideia de que, de uma maneira controversa, nos entendíamos sem precisar conversar.

Sem me desprendendo do seu olhar, caminhei até o único lugar que tinha sobrado ao lado de Rodrigo, na frente de Zeus.

— A gente vai comer ou não? — Perguntou Martina, chamando atenção dos outros adultos da conversa deles.

— Com certeza, minha cara. O que preferes primeiro? — Respondi. Naquela tarde, no inesperado, Martina e Vinícius gostaram do jeito que eu falava, e quiseram saber mais sobre português, literatura, Libras. Isso somente depois de dificultarem muito o meu humor e não aceitar nenhuma comida ou atividade que eu oferecia. Mas era um assunto na aula deles e queriam saber mais que os outros colegas ao conversar com a professora no português correto.

Segundo Vinícius isso era fácil, já que os outros não estudavam.

— Eu nem sei que que teu namoradinho fez. — Martina continuou. Na sua voz alegria e piada, usufruindo do deboche ao falar sobre Rodrigo. Ao escutar aquilo, Rodrigo deu uma risada e colocou uma de suas mãos atrás da minha cadeira, tocando o meu ombro.

Boa tarde, Zeus ✓Where stories live. Discover now