18. lute para que não doa

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temos só algumas cenas adultas, e elas estão em negrito, pule caso não queira ler

18. lute para que não doa

      Gabriela e eu estávamos treinando sequências e era uma tarde como qualquer outra, mas me sentia diferente. Era a primeira vez em anos que eu não tinha um constante peso em cima dos meus ombros com a função inteira das lutas ou de obedecer as ordens de Alli. A primeira vez que eu treinava não pra lutar, mas porque eu gostava. 

     — Já pensou no que tu vai fazer agora? — Ela perguntou, antes de indicar qual sequência queria. Eu dei os dois jabs, um gancho de esquerda e duas joelhadas que ela comandou. 

     — Não. — Respondi, pulando e relaxando meu corpo enquanto trabalhava as posições dos meus pés.

     Eu não tinha que lutar mais, ou apanhar para ganhar o dinheiro e pagar o que minha mãe tinha deixado de dívidas. Parecia fácil demais, e às vezes me pegava olhando demais na minha volta, pensando que de tão fácil significava que Alli estava tramando para alguém me matar. 

     Mas, mesmo que isso fosse uma possibilidade, ele ainda era uma homem de palavra. Manipulador, mas de palavra. 

     — Nem pra onde que tu vai? — Ela perguntou, dando outra ordem. 

     Obedecendo, dei os golpes e um passo para trás, decidindo ir tomar água e encerrar pelo dia. — Nem isso. — Respondendo, peguei a garrafa de água e tomei, passando as mãos nos cabelos, arrumei eles e limpei o suor que escorria da minha testa. 

     A academia estava com os mesmo clientes de sempre e nós estávamos treinando perto de um grupo de gurias que usavam algumas das máquinas que Gabriela tinha trocado de lugar. Elas me olhavam e eu não segurei o sorriso de lado que apareceu. 

     — Nem pra onde eu vou. — Respondi enquanto deixava o sorriso de lado e voltava a olhar pra ela, que tinha sentado no tatame.   

     Me agachando e sentando na sua frente, puxei minha mochila e joguei a água dentro dela, pegando uma maçã de dentro e esticando as pernas pra me alongar. 

     — Pro meio da perna de uma delas, provavelmente. — Ela comentou. Dando risadas e puxando as minhas pernas, colocou suas mãos em cima dos meus pés e pressionou pra baixo, me alongando.

     Eu balancei a cabeça, não sabendo o que responder. A ideia de voltar pros meus hábitos era uma boa, mas eu não sabia quando que tinha parado com eles, ou como que iria me divertir tanto sem que tivesse Aquiles pra ficar falando depois. 

     Não sabia nada disso, nem o porque de que, quando ela falou sobre eu ir mesmo ficar com qualquer uma das que estavam ali, a imagem de Iara veio na minha mente. 

     No dia da minha última luta eu pedi pra eles me deixarem na sua casa. Não perto da cafeteria ou perto da minha casa. Eu pedi porque eu sabia que ela tinha ficado preocupada comigo depois da conversa de Alli, e eu sabia que não tinha ajudado quando não conseguia contar direito o que que tinha acontecido.      

     Lá, eu tentei descobrir o que eu precisava pra saber que, quando eu realmente for embora, ela não fosse uma das pessoas que ia sentir a minha falta ou que iria sofrer. 

     Ela respondeu o que eu perguntei e chorou na minha frente de um jeito que talvez já tinha me acostumado e não me incomodava mais. Ela tinha mostrado que eu achar que ela não tinha sentimentos era algo completamente errado, o que fazia, na verdade, ela ser uma das únicas pessoas que fazia eu perceber que eu podia errar.

Boa tarde, Zeus ✓Where stories live. Discover now