13. cite o que se passa

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13. cite o que se passa

Ainda conseguia sentir as palavras e a sua respiração que rasparam minha orelha. E quando um por um, os arrepios cobriram o meu corpo inteiro, a junção do frio do ar e o quente dele atrás de mim. Ele era como uma brisa de verão, mas não era passageiro. Claramente não.

Tive aquela sensação da sua pele contra a minha por dias adentro. Depois que ele se afastou de mim e voltou a sentar no banco, depois que nós comemos, após ele acabar caindo no sono no meu sofá enquanto eu contava coisas da minha história literária e outras tantas coisas que só saíam da boca para fora... eu continuei sentindo.

Ele ficou impressionado no início, e até eu admitiria que não era o meu usual. Mas eu precisava falar, porque se parasse ia me botar em cima dele. Era só o que eu queria. Sentir a pele dele inteira e nua contra a minha.

Não estaria fazendo nada de errado, por mais que tivesse certeza que era isso que ele pensava. Se controlava, afinal eu tinha um relacionamento sério com alguém. Mas eu não tinha mais, o que me custou panelas, cobertores e até mesmo um baralho completo de cartas.

Rodrigo tinha levado tudo o que ele tinha comprado para o meu apartamento e os presentes que tinha me dado. Alguns presentes deixou por descuido mas eu logo fui entregando-lhe todos os que eu me lembrei. Se fazia questão em levar tudo, eu não tinha porque não ajudar.

Realmente pensei que nada de errado ia ser visto na minha ação, mas foi a confirmação de que eu não funcionava como a maioria.

E, assim, se resumia o meu motivo de não querer sentir na minha língua o gosto de todo o corpo de Zeus, especialmente a parte que ele tinha me pressionado contra o balcão da minha cozinha.

Eu não funcionava como a maioria, e eu sabia que não teria mais volta o momento em que eu decidisse ter algo com ele. Pois este algo não seria definido, e a ansiedade já batia dentro do meu peito mostrando que ainda existia.

Até mesmo na posição que eu estava, sentada no balcão da livraria olhando Aquiles encantando mais uma das nossas funcionárias, sentia o arder do desconhecido que era um possível relacionamento com Zeus, e me xingando por estar tão investida em um mundo completamente paralelo baseado em subjetivismo.

Meus dias não estavam sendo os mesmos desde que ele tinha entrado na minha vida, e muito menos à partir do momento em que me desprendi de Rodrigo. Como conseguia fazer isso? Sentir-me tão presa a alguém que não era certo, e largar quem queria ter algo comigo?

Logo que eu comecei a pensar nisso, Aimée veio até o meu balcão. Seu rosto brilhava, o nariz de botão estava coberto com pequenos sinais a mais e me perguntei quando que ela teve o tempo de ficar com o rosto no sol durante aqueles dias de inverno e chuva que estavam sobrevoando Porto Alegre.

— Oi, oi. - Ela falou, batendo as mãos em um ritmo com a fala e as colocando em cima do balcão.

Em resposta eu somente levante as sobrancelhas, esperando ela me encher de perguntas as quais sabia que iria responder.

— Então, notícia é que o Rodrigo tá salgando a comida com lágrimas porque tu terminou com ele.

— Terminei, sim. Porém não pensei que ele fosse ficar chorando... - Minhas sobrancelhas se juntaram, mas então eu percebi que ela estava exagerando. — Ah...

— Pensei que tu ia me contar quando terminasse. — Ela disse. Dentro dos seus olhos via a decepção que estava sentindo.

— Desculpe-me, eu realmente não sei porque não contei antes. — Falei, enquanto balançava os cachos do meu cabelo com os dedos. Olhando para ela, respirei fundo antes de continuar. Ela não falava nada porque aguardava alguma deixa minha que significasse que ela podia falar. — Zeus dormiu lá em casa. — Comecei. Seus olhos arregalaram e ela logo foi endireitando a postura em surpresa. Mas não disse nada e ficou como quem quer mais informações.

Boa tarde, Zeus ✓On viuen les histories. Descobreix ara