11. cite a amizade

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11. cite a amizade

      Com toda a minha familiaridade com as palavras, sabia exatamente qual usar para me descrever: covarde. E eu não me esforçava a negá-la. 

      Tinha me acovardado atrás do meu posto na livraria, tinha me acovardado por trás do meu computador. Tinha me acovardado atrás do meu caderno repleto de anotações. E mesmo assim, não fugia completamente do que tinha acontecido e do que Zeus era e representava. Eu mesma havia criado a cova que jazia naquele momento. Tinha ele por tudo, criei uma história e rescrevi seu nome diversas vezes que mesmo eu evitando, ele me cercava. 

     Mesmo querendo fugir do que eu estava sentindo, eu ainda permitia. Porque fugir do que se sente, é sentir igual. E eu sabia exatamente o que tinha acontecido quando ele me puxou para o calor do seu corpo somente alguns dias antes. 

      E naquele momento eu estava sentada atrás do meu balcão, olhando Aquiles pela primeira vez passar álcool nas mesas sem reclamar, vendo de vez em quando minha melhor amiga aparecendo para ver se os pedidos estavam todos certos, e simplesmente esperando ele entrar pela porta da livraria. 

     Ia aparecer, eu já sabia. Aimée tinha me avisado que ele e Apolo iam aparecer, e Aquiles não via a hora.

      Aimée tinha ido me falar aquilo, mas ainda parecia irritada comigo. Ela sabia que eu não estava brincando quando disse que eu não queria ser madrinha. Não me imaginava com um vestido e uma flor na mão, igual a outro alguém que ela fosse escolher, ou ajudando a planejar um casamento. Entendia muito bem deles, mas não os queria. 

      Ela insistiu, mesmo assim. Falando que a ideia não era tão ruim, que eu podia ser madrinha dela, e seria um marco. Seria eu com Zeus, já que Apolo não confiava em Aquiles. 

      Aimée tinha chamado Zeus naquele dia por causa disso, mas alguma coisa aconteceu e ela decidiu não contar tudo. E mesmo assim, a cada pergunta com ele lá, sobre como eu conseguia não querer ser madrinha, traduzia-se na minha cabeça "como eu podia não querer ficar do lado de Zeus e apoiar ela e Apolo?". 

      E eu tinha sido covarde em não admitir para ela a admiração que sentia por Zeus, em não falar que eu conseguia imaginar ele do meu lado, mas sem que eu estivesse com um vestido no seu casamento. Porque era errado. Eu tinha um compromisso com Rodrigo, mesmo que este status pudesse mudar à cada minuto que se passava. 

      O barulho da porta abrindo e fechando fez eu olhar. Não eram eles, como não tinha sido nas outras sete vezes que a porta havia aberto. Os clientes que entraram eram sérios, homens de terno que exalavam poder. Sentaram-se nas mesas para o lado da cafeteria, na divisão dos livros e da fome.

     Eles não levantaram os cardápios, ou conversaram entre si. Quando um dos nossos funcionários foi atender, um deles pediu dois cafés e que tirassem o pote com os açúcares. Encarei tentando lembrar se eles já tinham passado por ali. 

     Não conseguia encontrar na minha mente algum deles dois, mas fiquei interessada pelo modo como eles eram centrados e com o fato de eles não conversarem. 

     Todas as pessoas que frequentavam nosso espaço conversavam entre si, liam alguma coisa com o outro na sua frente. No último exemplo era perceptível o desconforto da outra pessoa, que ficava entre olhar o outro ler e não saber o que fazer. Alguns clientes vinham para estudar, sempre ocupando as mentes... mas aqueles dois não. 

     Eles sentaram de costas retas nas cadeiras, e olhavam um para o outro a maioria do tempo, só quando existia um movimento fora do padrão, um riso mais alto, eles se mexiam para ver. 

Boa tarde, Zeus ✓Where stories live. Discover now