Deixe ir

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"Eu estive sem dormir à noite, porque eu não sei como me sinto
Eu estava esperando por você, só para dizer algo verdadeiro
Há uma luz na estrada e eu acho que você sabe
A manhã chegou e eu tenho que ir

Eu não sei por que, eu não sei por que
Nós precisamos nos magoar tão duramente
Eu não sei por que, nós nos magoamos tão duramente

Mas se somos fortes o suficiente para deixá-lo entrar
Nós somos fortes o suficiente para deixá-lo ir"

*

Perdoem os erros.

Pov – Claire

Bem devagar abri os olhos, piscando algumas vezes graças a luz florescente que ficava posicionada a cima da minha cama ofuscando minha visão.

Fixei os olhos no arranjo de flores que estava disposto num móvel à frente da cama, esperando que o foco da minha visão se normaliza.

Devo ter encarando aquele vaso por um tempo fora do comum, num estado catatônico em que eu gostaria de ter permanecido.

Não ter ciência do que acontecia a minha volta me parecia um bom plano.

A voz conhecida de Jane soou pelo quarto me tirando do transe, me fazendo voltar para a minha realidade.

- Claire. – Chamou.

Com o rosto vazio de expressão, virei na sua direção e a encarei por alguns minutos.

Meu consciente rapidamente fez uma leitura corporal, chegando à conclusão de que ela esperava alguma reação minha.

Eu não a recriminava por isso. Se a situação fosse inversa talvez eu ansiasse por uma reação dela, miséria que fosse.

Na vida, é sempre mais fácil quando sabemos como o que estávamos lhe dando. O desconhecido nos causa um certo pânico.

Contudo que reação eu poderia ter? Eu não conseguia sentir nada.

A não ser o vazio. Se é que o vazio, o oco, poderiam ser sentidos.

Um vazio, no peito, no ventre, na vida.

De certo a única vontade que eu tinha era ficar no meu adorado, amado e atraente estado catatônico.

- Você pode desligar as luzes? – Pedi. A luz incomodava e o escuro me parecia muito mais aconchegante.

- Claro. – Levantou indo até o painel de controles e fazendo o que eu pedi. Caminhou de volta até a borda direita da cama. - Posso deitar do seu lado? - Perguntou com a voz suave.

Jane nunca usava voz suave.

Acenei positivamente.

Tentei me mover na cama, mas a careta se formou no meu rosto ao sentir pequenas fisgadas no que eu achava ser minha cirurgia.

- Não faça esforço. Eu arrumo um cantinho para mim. - Deu um sorriso doce.

Jane não sorria docemente.

- Não faça isso. - Falei.

- Fazer o que?

- Agir como está agindo. Você não é assim Jane. - Pausei. - Gentil, doce e serena. Não aja assim por mim. Agindo assim me faz lembrar do que aconteceu e eu não preciso que me lembre, porque agora eu tenho uma cicatriz no corpo e na alma para fazer esse trabalho.

- Eu só quero seu bem. - Se aconchegou na cama ao meu lado. Passando a mão no meu rosto e nos meus cabelos. – Por favor Claire, não se afunde, não vá por esse caminho. Eu não consigo ter ideia do que você está passando. Mas pelo seu próprio bem e nosso, não mergulhe nessa escuridão. Eu não aguentaria ver minha amiga, minha única irmã desse jeito.

Blue OceanWhere stories live. Discover now