Chapter 8 Um beijo real dá asas aos desejos do corpo e da alma

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A verdade de ambos era a mesma.

Mas, ainda era como um golpe de lâmina no meio da face.

Foi tomado tão brutalmente de assalto que socou o peito de Feng Xin, porque queria que ele soltasse aquele maldito espelho.

Que imagem refletida era aquela?

Mu Qing tinha passado a semana toda tentando arrancar isso de sua cabeça, dos sonhos frequentes, dos seus pensamentos que vinham como folhas sopradas ao vento e quando dava por si, aquela imagem refletida no espelho e em si mesmo se repetia em sua mente!

Contudo, agora era mil vezes pior, porque Feng Xin também tinha visto, era o mesmo que ter seus segredos mais íntimos desnudos.

Assim que socou com força desmedida o peitoral de Feng Xin, o espelho caiu em algum canto sendo imediatamente silenciado, tornando-se um palco vazio.

Mas, ao mesmo tempo uma pequena guerra havia sido declarada.

Os dois rolaram naquela cama desferindo golpes um no outro, numa contenda selvagem.

Até que Mu Qing estava quase caindo pelo outro lado e Feng Xin o imobilizou com custo colocando-se sobre ele, detendo-lhe os punhos furiosos, os dois estavam ofegantes, o cabelo de Mu Qing caía pela beira com seu pescoço pendurado, os fios quase tocando o chão.

— Que reação mais fodida foi essa?! Por que saiu me agredindo tão insanamente?

Na verdade, Feng Xin tinha vontade de praguejar muito mais, xingar Mu Qing dos piores nomes que conhecia. Contudo, o que tinha visto no espelho causava-lhe um assombro maior que essa vontade.

E por outro lado, Mu Qing tinha que admitir que Feng Xin não tinha feito nada que merecesse uma sova, o reflexo dele que tinha feito ao beijar o seu. Queria se desculpar, mas apenas conseguia fitar Feng Xin com seus lábios lacrados.

Pensando bem, não estavam mais uma vez tão intensamente próximos um do outro? As sobrancelhas de Feng Xin estavam mais franzidas do que nunca ao encarar profundamente seu olhar.

— A culpa foi sua! — Mu Qing acabou por vociferar, sabendo que eram as palavras erradas. — Trazer esse espelho que só trouxe uma porra de confusão sem tamanho!... Que diabo, não era só para conversarmos?

— Ainda podemos conversar, não percebe? Apenas pare de levantar a voz e cerrar os punhos, merda!

Seu pescoço pendurado estava tenso e Mu Qing suspirou, esquadrinhando a face de Feng Xin com seus olhos negros culpados.

— Eu... Eu não queria ter te acertado daquele jeito... Realmente... Desculpe.

Ao ouvir aquelas desculpas desajeitadas ditas quase num sussurro, Feng Xin assentiu afrouxando levemente o toque. Seus dedos escorregaram pelos pulsos de Mu Qing e com seus dedos abraçando os dele a unir suas mãos, tornaram a se sentar na cama.

Foi em câmera lenta que seu corpo abandonou a beira onde estava pendurado de mau jeito, Mu Qing soltou seus dedos antes entrelaçados aos de Feng Xin e desviou o olhar, pretendendo prender seu cabelo num gesto regido pela inquietação, por um nervosismo anormal que consumia a boca de seu estômago.

Todavia, Mu Qing teve um sobressalto quando Feng Xin segurou seu braço, impedindo que prendesse seu cabelo.

— Por que não deixa solto? Você fica bem assim... Eu gosto.

Eram palavras tão sinceras, diretas. Tinham certa suavidade e calor, Mu Qing parou no meio do gesto, sentindo-se estúpido por conta da indecisão que o pedido de Feng Xin lhe causava.

— Você... Gosta? Nunca ouvi coisa semelhante vinda de você.

Feng Xin atenuou sua expressão e assentiu, os dois baixaram os braços e o cabelo solto de Mu Qing tornou a cair ao longo de suas costas.

— Aliás... — Mu Qing refletiu. — Por muito tempo, achei que não visse nada de bom em mim.

— Isso é tão você! Tirar conclusões precipitadas e ficar remoendo miseravelmente. Não, talvez eu tenha demorado para perceber por conta de antigos ressentimentos... Mas, antes desse espelho ficar entre nós dois, eu já tinha visto em você algo de bom.

Podia imaginar que Feng Xin estava se referindo a situação vivida no Monte Tong Lu, quando Mu Qing estava prestes a morrer sendo consumido por lava e espíritos ressentidos de Wu Yong. Depois de ter sido salvo por Xie Lian, acabou por abrir seu coração sobre uma série de questões do passado e Feng Xin ouvira cada palavra.

— Espera... — Mu Qing tinha uma feição séria, meditativa ao segurar por impulso no braço de Feng Xin. — Isso quer dizer que o espelho mostrou algo que você já sabia? Achei que se tratasse de verdades escondidas.

A atmosfera do quarto tornava-se amena, sem a escuridão ostensiva de antes. Quem diria que em algum momento, depois de oitocentos anos de rixas e mal entendidos ladeados por sarcasmo e agressão mútua, os dois estariam sentados sobre a cama e no quarto de Mu Qing... Tão próximos e envolvidos por uma polo de atração inquebrável?

— Não foi o que eu quis dizer, mesmo que eu tivesse visto algo de bom em você, ainda preferia pensar que éramos rivais e que se trabalhávamos juntos... Era em consideração a Xie Lian.

"Éramos?"

"Trabalhávamos?"

Feng Xin estava insinuando que não eram mais rivais?

— Eu também tinha esse pensamento. Mas, por que isso agora? O espelho mudou tudo tão facilmente para você? Não entendo como pode aceitar isso!

Mu Qing recolheu as pernas para cima da cama, as solas dos pés feridos doendo um pouco menos e fitava Feng Xin, ainda mostrando-se resistente a aceitar as verdades do espelho.

— Você pensa que eu aceitei de cara? Óbvio que não, minha melhor reação depois de tudo foi querer gritar e partir aquele espelho em dois.

Não tinha qualquer outra pessoa no quarto, ninguém que pudesse ouvi-los, mas sem que se dessem conta, estavam usando um tom íntimo e discreto para falarem um com o outro.

Ouvir a sentença de Feng Xin, fez Mu Qing refletir sobre sua própria reação diante do seu confronto com o espelho Zhenxiang.

— Eu também queria quebrar aquela merda! Achei que que te devolver o espelho, deixaria de lado tudo o que o reflexo disse, mas não importa... Tudo aquilo continua me seguindo como o karma mais fodido de todos.

Uma coisa era certa, um dos dois precisava aceitar a verdade para que ela fizesse sentido.

Não bastava ouvirem de seus reflexos, presenciarem suas imagens refletidas trocando um beijo com enlevo.

Mu Qing baixou a cabeça e o seu olhar encabulado com seus pensamentos mais profundos, fechado em si mesmo como de costume. Por isso, estremeceu quando a mão de Feng Xin tocou seu rosto no mesmo instante em que sua voz se pronunciava.

— Mu Qing...

Novamente, pela segunda vez em todo esse tempo, Feng Xin o chamou pelo nome e ele ergueu depressa a face, arregalando por segundos o olhar.

— A sua verdade e a minha são as mesmas, já passamos por tanta coisa juntos... Então, por que depois de tudo deveria ser ruim?

Não era ruim e sabia disso, porque gostava do calor da mão dele em seu rosto, assim como realmente adorava secretamente ouvir a voz de Feng Xin dizer em voz alta o seu nome.

Renegar o que sentia era um fardo difícil demais naquela altura. Fingir que não era nada, até que se fazia suportável estando longe, evitando-o desesperadamente durante a semana toda.

Mas, ali... Naquele momento, com o clima suspenso entre a ponte imaginária que conectava seus olhares, Mu Qing agarrou no tecido do hanfu cor de terra que Feng Xin usava e cobriu sem mais a boca dele com a sua.

Mu Qing e  Feng Xin (Um amor renegado 800 vezes)Where stories live. Discover now