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PATRICK VITELLO

Com a última passada de gel, me afastei do espelho cumprido do meu quarto. Puxei as mangas da minha blusa — a qual tinha usado no dia anterior — olhando-me profundamente no espelho. As marcas de expressões me deixavam um pouco irritado, porém, se eu focasse nisso, mau conseguirei seguir meu dia! Lembrando dele, enquanto girava com minha mão no relógio de pulso, dei uma leve avaliada no amanhecer pela varanda. Achei até estranho que os outros da casa não estivessem acordados — ou provavelmente, eu que havia dormindo demais.

Avaliei o espaço, a procura dos meus óculos, era bem espaçoso e ótimo para dias que queremos ficar sozinhos. O enorme tapete branco estava debaixo da cama de casal. Sorridente, o rosto para minhas duas criaturas deitadas sobre o colchão, num sono lento. Benício dormia profundamente, com sua postura reta e mãos sobre o cobertor que está cobrindo-o, enquanto sua irmã estava no meio com um de seus braços agarrado ao seu urso que é um dos poucos que eram menores. Caminhei até a beirada da cama deixando meus dedos deslizarem sobre às mechas avermelhadas do cabelo do menino, me relembrando de sua mãe. Benício tem mais características minhas do que sua genitora, o que faz a lembrança dela ser menos dolorosa. Mas já a sua irmã, nasceu pra fazer a diferença.

Quando Benício nasceu eu e sua mãe éramos bem jovens. Realmente, a paternidade me trouxe uma maturidade gigante! O querer, cuidar iam aumentando cada dia mais e mais. E depois que sua irmã nasceu?. Meu Deus.

Mariana pôde até não ter nascido de forma idêntica a sua mãe, mas a personalidade forte e produtividade é incrivelmente igual. Fui tirado dos meus pensamentos com a voz sonolenta e doce da minha menina.

— Bom dia, papai... — disse assim que terminou seu bocejo.

— Bom dia meu amor, dormiu bem? — ela assentiu enquanto assim que seu bocejo acabou. A menina deu uma olhada para o irmão enquanto fazia pequenos movimentos. Seu rosto inchado me fez beijar sua bochecha, e ela, me olhar.

— Vai trabalhar hoje?

— Vou ter que ir, mas prometo não demorar...

— Mesmo?

— Sim!

— Não demora, por favor... — franziu o cenho — Eu estou falando sério!

— Pode deixar — fiz uma postura de soldado com a mão a fazendo rir — Vai descer agora?

— Acho que sim...

— Se quiser pode continuar dormindo.

— De jeito nenhum — suspirei.

— Queria entender do porquê de vocês gostarem tanto de acordar cedo.

— Genética, bobão!

— Do que você me chamou mocinha? — ela repetiu e assim iniciei uma cessão de cócegas eu seu corpo.

— Dá pra parar, vocês dois? — perguntou o garoto ruivo. Rimos com sua voz e expressão.

— Cócegas no Benício! — anunciei.

A menininha pulou, enquanto com passos curtos, me pus próximo do menino. Logo sua risada inundou cada espaço do quarto.

ÂNGELO VITELLO

Me aconcheguei na coberta sentindo seu conforto envolver meu corpo e alma. Só pelo simples fato do frio correr pela casa pude sentir que a manhã seria fria, permiti-me sorrir quando a lembrança que minha família — incluindo crianças — levantavam cedo. Quando ainda era pequeno aderi a idéia de fazer isso para que minhas células e neurônios tivessem uma boa evolução.

Um suspiro escapou da minha garganta quando a imagem de Paola voltou junto com os nossos momentos, desde quando íamos ao cinema até as corridas de manhã.

De olhos fechados, consegui reviver a primeira vez que viemos para essa casa...

Paola sorria alegre me deixando intrigado e tentando entender se estava assim pela música, clima ou o fato de estarmos indo para a nossa futura moradia. Seus olhos castanhos pararam de se mexer fixando na imagem da casa escolhida, pelo vidro.

— Ela é linda!

— Muito mais do que nas fotos — falei enquanto me desprendia do banco — Vamos? — perguntei ainda com minha mão esquerda no volante.

— Vamos!

Maravilhada, a mulher subiu os degraus indo diretamente para a varanda. Não precisou soar nenhuma palavra de sua boca para eu saber que estava encantada.

— Pode entrar, a porta está destrancada. — informei enquanto subia os níveis, meus óculos escuros foram ajeitados pelo curto movimento que fiz com meu nariz me deixando acomodado com o objeto.

Paola andou até o meio da casa com a palma das mãos juntas enquanto seus olhos deslizavam por cada cômodo, preenchendo meu peito.

— Meu amor, esse lugar é perfeito! — falou enquanto se aproximava de mim. — Já pensou nossos filhinhos correndo por toda essa sala? — questionou de forma doce, levantando seus braços.

— Eles iam se cansar rapidamente... — ela riu e seguiu para escadaria. Minutos depois voltou ainda esbanjando um sorriso no rosto. Fixei meu olhar em sua expressão marcando não somente ela mas como o momento em meu coração.

As lágrimas quentes rolaram de meus olhos inundando minha visão, a dor corroeu meu peito me deixando totalmente incapaz de segurar mais uma lágrima. Quis ir para aquela casa por ser um dos lugares em que a memória dela, ainda viva, estava por cada canto. Esse pensamento veio como um soco em meu cérebro me fazendo contrair e cerrar meus punhos junto com os meus lábios.

Todos os planos — incluindo essa casa — sonhos que sonhamos, projetos e futuro que tínhamos... Todos estes foram miseravelmente interrompidos por aquele maldito acidente!

Eu que deveria estar em seu lugar e não ela, não ela...

A Verdadeira Felicidade | Livro IWhere stories live. Discover now