Um pouco do passado de Filipe

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**Atenção: Teor de violência familiar e estupro. Se tiver gatilhos, não leia.

Antes de se tornar órfão...


Ele sempre foi o garoto mais cobiçado do bairro — uma obra-prima, assim o chamavam. Sua aparência deslumbrante já prenunciava que ele se tornaria um belo cisne quando crescesse. No entanto, havia algo que ele não conseguia compreender quando recebia elogios e privilégios. Será que a aparência importava tanto assim?

Bem, essa questão o intrigava, especialmente porque ele despertava repugnância nos olhos de seu pai, embora o homem nunca tivesse feito nada diretamente contra ele.As pessoas diziam o quanto ele era bonito, nunca recebia olhares de nojo ou repulsa, exceto daquele homem.

Francisco trabalhava incansavelmente, nunca deixando faltar nada em casa. Saía cedo e chegava tarde. A vizinhança já sabia do quão odioso aquela personificação humana era. Tratava a esposa com frieza, culpando-a constantemente pela morte do filho mais velho. Filipe não se lembrava muito bem do irmão, mas soube que ele foi vítima de um atropelamento quando tinha apenas cinco anos. Desde então, o casamento de seus pais se tornou uma linha tênue, mantida apenas pelo fato de que a mãe iria herdar uma bela fortuna de seu pai, que estava prestes a falecer.

E ele não via sentido em terminar um relacionamento de longa data e acabar em desvantagem financeira. As brigas entre eles se tornaram cada vez mais frequentes e insuportáveis, para a criança e para todos que moravam perto.

— Se você tivesse prestado atenção, Micael não teria morrido — foi uma das discussões que Filipe testemunhou pela primeira vez.

Os dois já não se importavam em esconder o ódio que sentiam um pelo outro.— Agora a culpa é minha, né? Se você não tivesse me deixado para trás, ocupado em comer a bunda daquela pu**, Micael nunca teria soltado minha mão — retrucou ela de forma amarga.

Filipe cresceu ouvindo essas palavras e, sempre que cruzava o caminho de seu pai, era alvo de insultos desnecessários. Francisco era considerado rude e grosseiro, constantemente insistindo que ele precisava se tornar um homem e sair das "barras da saia da mãe"; expressão sempre usada por ele.

Esses "conselhos" de nada valiam já que era ausente, preferindo a companhia de estranhos a passar tempo com a própria família.

O menino tornou-se retraído e taciturno. Um alvo fácil para os valentões da escola. Inicialmente, ele ignorava as provocações e piadas, mas sua raiva acabou transbordando quando recebeu um empurrão no corredor após o recreio terminar. As crianças precisavam fazer filas para entrar na sala. E em uma dessas ocasiões, um dos valentões aproveitou o ensejo.

Instantaneamente, Filipe tentou se equilibrar, apoiando as mãos na parede mais próxima. Sua respiração ficou desregulada ao ouvir risos cruéis se formando atrás dele. As vozes ecoavam irritantemente altas. Algo dentro dele ferveu, o sangue subindo rapidamente para o cérebro, deixando-o momentaneamente fora da razão.

O que se seguiu foi um grito de guerra. Outras crianças incentivavam a briga quando ele se virou e acertou o primeiro soco em cheio no nariz de seu colega. Mas o alvoroço diminuiu quando o sangue começou a jorrar e alguém tentou separá-los.

— Alguém chame os professores! Ele vai matar o Carlos! — uma menina gritou, enquanto murmúrios assustados se espalhavam pela multidão.

Filipe estava focado no garoto à sua frente, agora sem forças, com os olhos inchados e quase desmaiando. Parecia que o mundo ao seu redor havia desaparecido, até que mãos fortes o puxaram para longe da cena.

Rendido ao amor ✓ (VERSÃO NOVA)Where stories live. Discover now