Reencontro In(desejado)

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Só é lutador quem sabe lutar consigo mesmo.
Carlos Drummond de Andrade

Dedicado à: Pamyfofa, KahGui8, MarcelaSantos888

O ar noturno era gélido, com apenas algumas estrelas a pontilhar o céu cinzento. Os sons das buzinas e motores, em diferentes frequências, enchiam os ouvidos de Valentina. Um dia antes do "evento," ela tomou a decisão de representar a empresa e ignorar por completo o passado que ressurgiu diante dela. Sabia que não podia fugir eternamente, mas estava determinada a evitar possíveis confrontos.

Assim que estacionou em frente ao hotel, desligou o carro e começou a batucar os dedos levemente no volante, mordiscando o lábio inferior de nervosismo. Embora relutante, não podia ignorar os batimentos acelerados do coração, sinal de sua ansiedade para o reencontro iminente. Ela se repreendia, lembrando a si mesma de que não podia passar a vida evitando essa situação.

Era certo que esse momento chegaria mais cedo ou mais tarde, mesmo que quase quatro anos já tivessem passado. Respirando fundo, olhou para si mesma no espelho retrovisor, tentando afastar qualquer sinal de afobação. Theo já não significava mais nada em sua vida. Ela estava determinada a não fitar seus olhos por muito tempo, a não sorrir demais e, acima de tudo, a não permitir que pensamentos indesejados surgissem, mesmo se ele tivesse mudado.

Antes que desistisse ali mesmo e inventasse alguma desculpa esfarrapada: "desculpe, Pedro, Guilherme, ontem tive enxaqueca ao pensar no meu ex marido" ela pegou a bolsa no banco e saiu do carro, ativando o alarme. Na entrada do hotel, Valentina deparou-se com um hall opulento, movimentado por diversas pessoas. Ela logo alcançou o elevador e apertou o botão para o vigésimo andar.

O relógio indicava que estava cinco minutos adiantada, o que ela considerou uma vantagem. Talvez Theo chegasse depois dos outros. Porém, o primeiro impacto não foi encontrar um restaurante vazio, mas uma mesa quase ocupada por quatro pessoas envolvidas em uma conversa.

Sua atenção voltou-se para o garoto elegantemente vestido com um terno. Lembrou-se das conversas das meninas sobre o filho adotivo de Theo, que, de acordo com elas, havia sido a influência positiva na vida do homem. Valentina ficou sinceramente feliz com a notícia e desejou que ele continuasse nesse caminho. Por outro lado, uma ponta de preocupação surgiu ao lembrar do diagnóstico crônico dele.

Ainda tinha pesadelos?

Ela também pensou em Ana, imaginando o quão bom irmão o menino poderia ser, o que trouxe uma leve melancolia ao seu coração, relembrando da bebê que havia perdido.

Despertando desse lapso repentino, ela recordou a si mesma que estava ali a trabalho, não para reviver as fúnebres memórias. Guilherme a cumprimentou, e ela repetia mentalmente que deveria se comportar como uma profissional. Forçando um sorriso educado, aproximou-se da mesa, notando que a única cadeira vaga era a que ficava de frente para ele. Guilherme foi gentil o bastante para puxar a cadeira para ela e elogiar de maneira um tanto clichê, mas que conseguiu arrancar um sorriso da moça.

— Boa noite — disse após pigarrear, ajustando-se na cadeira e fingindo ajeitar o vestido. — Peço desculpas, mas por que esse andar está vazio?

— Theo reservou esse andar. — explicou Pedro. — Para evitar ruídos externos.

Seus olhos encontraram os de Theo, e por um instante, o tempo pareceu parar. Ela não pôde evitar o olhar penetrante que ele lhe lançou, e seus corações pareciam bater em descompasso. As feições esculpidas de Theo a fizeram relembrar do dia em que o viu pela primeira vez, quando seus olhares se cruzaram em um corredor silencioso, primeiro com raiva e, em seguida, com desejo.

Rendido ao amor ✓ (VERSÃO NOVA)Место, где живут истории. Откройте их для себя