Ainda dos Inimigos

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Continuemos?

Sim, acho que estou melhor. Refleti um pouco mais sobre o que falamos na última vez. Não devo ter feito grandes mudanças de rota. Mas já começo a pensar em como fazer...

Outro? Acho que posso falar das minhas deficiências de aprendizado e da irritação que me causa diante daqueles que se propõem a ensinar qualquer coisa que seja em troca de dinheiro...

É, a internet tem estimulado uma enxurrada de saberes ocos. E o povo consumindo avidamente esses conteúdos. Tudo agora é motivo para workshop, tudo é "live", tudo é "pombal" (aqueles aplicativos que colocam as carinhas das pessoas como formando um pombal). E você começa assistir em busca de um conteúdo que agregue saber para o teu viver, e nada. É uma sequência de blá-blá-blá que eu não consigo. Deixo de lado. E, às vezes, uma temática interessante acaba sendo deixada de lado por conta da falta da competência da "produção do conteúdo". E, outra coisa: o maldito do powerpoint-mal-feito!

Se tem uma coisa que me faz abandonar logo no primeiro minuto é aparecer um "slide de powerpoint" que é a imagem de uma folha de uma publicação qualquer e o indivíduo começa a ler o que está escrito (só pode acreditar que todos os que estão assistindo, sejam cegos! )Sim, porque existem mil maneiras de apresentar este mesmo conteúdo de forma inteligente e estimulante. Talvez eu pense e aja assim porque a vida me cobrou e empurrou para o fazer sempre melhor que os outros. Não que eu quisesse mas porque quem mandava queria. E lá ia eu aprender a fazer.

Tenho buscado livros. Apesar da sequencia de letras, palavras e sinais gráficos, eu consigo me administrar melhor porque tenho como fazer minhas marcações de uma forma a me ajudar no aprendizado.

Mas, você acha que todos pensam assim? Ou deveriam pensar?

Claro que não. Somos únicos. Cada um é um cada um. Eu sei disso. Mas como me disse a antiga terapeuta "isso é demanda do outro, não tua!"

O meu trilho tem me trazido nesta forma. Estação após estação. Talvez eu precise mudar no entroncamento. E é o que tenho buscado. Mas, tem que "combinar com os russos", como disse o Garrincha, certa vez.

E como você lida com as tuas coisas pessoais?

Ah, ainda tenho coisas que sou muito apegado, que não gosto de dividir com ninguém. Talvez eu saiba que não deva ser assim. São coisas materiais, são coisas que não consigo carregar com minhas próprias mãos. Eu sei disso. Mas é que as suas conquistas vieram de um desejo muito grande e, em alguns casos, de um investimento financeiro grande para poder tê-las. Outras, nem tão grande soma de dinheiro despendi mas o amor por elas é muito grande.

Já consegui me libertar, por assim dizer, de muitos apegos. Meus livros, por exemplo. Tinha uma enorme biblioteca inútil, por exemplo, pois estavam ali, na estante, acumulando poeira sem uso constante. Muitos foram apenas lidos. Outros, vivi um constante relacionamento. Estão riscados, marcados, ponta das folhas dobradas, papéis de marcação em momentos relevantes. Esses, eu ainda tenho um apego grande pelo muito que me deram. Aos outros já destinei compartilhar com alguém o conhecimento que eles me deram.

Minha mesa de trabalho. Meu espaço onde me sinto à vontade para sentar e escrever. Guardar minhas coisinhas. Um pouco bagunçado para outros olhares, mas está do meu jeito. E já tem coisas para desapegar, com certeza.

Dos meus amados objetos adquiridos para o exercício do aprendizado do fazeres em alimentação, muitos já são compartilhados ou com uso confiscado pelos demais moradores do coletivo. Já tenho poucos que considero de uso exclusivo. Mas mantenho o controle deles nas prateleiras e caixas. Amor maior é a minha Kitchen-Aid. Essa sim, só eu até hoje. Sei que não caberá no meu caixão mas permanecerei com meu ciúme e fiscalização.

E os sentimentos ruins?

Devo ter. Mas devem ter vida temporária. Quando sou contrariado por ser. Só pelo prazer do outro em me ver irritado. Isso me incomoda muito. Mas vamos deixar para outro dia, tá bem?

Até o próximo encontro.

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