Como você se sente diante da negativa de tuas certezas?

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Nem todas as certezas da gente são verdades absolutas como tem me dito dona Diva, a minha responsável.

Sempre me fala assim: "isso é o que você pensa mas não o outro!" E tem me dado muito trabalho para administrar isto desde quando em outras vidas acostumei-me à leitura por conta da necessidade de subir ao púlpito nas manhãs de domingo para passar aquelas verdades para o povo que lotava os templos na missa dominical.

Dali, do alto, fui me acostumando a uma posição soberana diante do silêncio dos que me ouviam por mais longe que estivessem de mim pois a acústica favorecia que o vozeirão se propagasse.

Na realidade nem todas as verdades eram minhas. Na sua maior parte eram apenas repetições dos textos escritos por outros. Mas elas ressoavam como sendo minhas. E, posso até concluir, hoje, que assim fosse porque eram frutos de estudos durante uma semana.

Hoje em dia, permaneço fiel ao costume aprendido naquelas épocas de ler muito, absorver conhecimentos no que me dedico. Horas de pesquisa e leitura vai formando minhas certezas, mesmo que baseadas nos escritos de outros.

Isso incomoda a alguns, eu sei. Dario me disse, certa vez, que eu era muito polêmico. E eu tinha certeza, como disse a ele que meu defeito era pensar! Ficou brabo comigo mas naquele momento não sei o que possa ter ficado na sua cabeça. Pelos olhos, fiquei com a certeza que não eram bons pensamentos.

Talvez essa possa ser uma das grandes dificuldades de muitas pessoas na mesma situação que eu. Imagino.

Tenho muita dificuldade, apesar dos extenuantes exercícios diários de convencimento de que preciso aprender a conviver com as diferenças de pensamentos que naturalmente existe entre as pessoas pois J F Kennedy tinha razão ao dizer "quando duas pessoas pensam igual tenha a certeza de que uma está pensando pelas duas". Aprendizado lendo a Seleções do Readers Digest, que nem sei se ainda existe, na minha infância/adolescência.

Quando me defronto com uma situação caseira de, por exemplo, repetir exaustivamente a maneira mais adequada de fazer certa atividade (por segurança de todos, por exemplo) e a turma do coletivo insiste em colocar as lâminas das facas para cima, no secador de talheres (objeto criado para beneficiar preguiçosos que não querem se dar ao trabalho de enxugar a louça e acessórios após lavar). No começo isso me deixava extremamente irritado ao ponto de aumentar o tom de voz para repetir a maneira adequada. Hoje, olho para as facas e digo para mim "não adianta, vira ou seca e guarda!" E já não me maltrata tanto. Mas ainda não estou livre.
Poderia ficar desfilando um rosário de situações mas, na realidade, são tudo frutos da mesma árvore.

Mas tem uma coisa que é de outra árvore. Foi criada nesta pandemia. O isolamento e o silêncio (acho que vou querer um dia só pra falar disso. Mas vamos em frente, agora.

O isolamento imposto (e racionalmente aceito pelas minhas certezas e pelas minhas dúvidas) tem me levado há horas de silêncio quase absoluto. Tem horas que apenas ouço o barulho das hélices do ventilador de teto, companhia para suportar o calor seco que tem feito. Horas e horas assim. Ai aproveito para estudos e escritas. E acho que fico bem. E tudo isso acaba invariavelmente com a chegada de um tsunami.

O barulho que fazem ao chegar dói muito nos meus ouvidos e não há cristão que os convença a baixarem o tom de voz. É preciso respirar profunda e lentamente para acalmar as batidas do coração que aumentam muito.

Já sei que meu tempo acabou. Até a próxima.

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