Como é tua relação com o invisível? (religiões, crenças etc)

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Essa era a pergunta que eu vim para cá apostando que ela me faria hoje...

Me sentei no gostoso sofá, tirei os sapatos e cruzei as pernas quase na posição de lótus. Tenho tentado me manter mais tempo sentado assim, cada vez que dá.

Baixei a cabeça, pigarreei, olhei para ela, e ela estava relaxada certamente me esperando começar.

Bem, eu nem sei quando exatamente começou esta relação de forma consciente. Me lembro, de menino, ainda, meus pais tinham o hábito da frequência de uma instituição espírita que agregava um educandário interno para crianças. Já digo logo que não sei até que idade elas poderiam ficar. Só sei (ou lembro) que algumas das pessoas que cuidavam de todos eram egressas dos tempos em que viveram internadas.

Semanalmente eu ia com um dos dois (ou os dois) à reunião espírita. Aquela visão das pessoas que sentavam à mesa e depois davam passes, vestidas de branco, me deixavam atento aos movimentos. Formavam filas diante de cada um deles. Tudo controlado pela dirigente da reunião e da instituição toda. Controlava tudo com pulso firme.

O tempo passou e dividia minhas relações com o invisível nas missas dominicais na igreja perto de casa, onde fiz a Primeira Comunhão.

O tempo passou na janela e só Carolina não via, como cantava o Chico. O Buarque de Holanda.

Cresci estudando e dividindo o tempo de estudos com o ocioso no comércio de meu pai.

Quando ele virou invisível, precisei ir trabalhar.

Nesses tempos conheci pessoas que frequentavam casas espíritas. Fui convidado a ir. Passei a frequentar uma onde um colega de trabalho frequentava e ajudava. Assistia as reuniões e tomava passe.

Tinha a sensação de que deveria me aprofundar mais. Estudar. Alguma coisa dentro de mim me empurrava para aquele caminho. Mas, precisava ser "chamado" pela dirigente dessas reuniões. E nada!... rs

Um belo dia me deparei com uma cena, que a princípio me assustou. Num momento que não me lembro mais o porque de ter acontecido, minha filha, vira-se para mim e solta essa: "não gosto de você. Saia daqui!" Foi assustador. Fiquei perdido por um tempo. Mas, a vida seguiu naquele dia.

Falei para minha mãe, dias depois: "Mãe, quero ir ao Centro da Mãezinha (que é como a gente se referia àquela Instituição que eles me levavam quando criança)". O que houve, Carlos? Contei o que a Carol me falou. Acertamos de ir lá.

Era uma terça-feira. A reunião começava às 15 horas. Chegamos um pouco mais cedo. A pessoa que estava recebendo a assistência disse para minha mãe: "conheço a senhora. A senhora não é a esposa do sr Lima, da loja de ferragens?" Sim. Mas ele já faleceu. Ainda trocaram algumas frases e fomos sentar à espera do início.

Girava a cabeça reconhecendo aquele ambiente dos tempos de menino. Tudo muito igual até aquela data. Percebi uma mudança apenas num cantinho que chamavam de cantina, onde vendiam guloseimas antes da reunião começar.

A dirigente, nas preparações, chamou-nos para sentarmos à mesa, junto com os demais. Pouco depois, colocou diante de nós, papel e lápis. Pouco depois completou "se sentires vontade de escrever alguma coisa, escreva". Na minha cabeça, apenas interrogações... (ela não sabia de nada que havia acontecido. Nem o motivo de estarmos ali depois de muito tempo sem frequentar a casa. Nem era mais a Mãezinha: também ficara invisível. E um quadro com sua foto emoldurada na parede.

A reunião prosseguiu. (E nada da vontade de escrever). (E a doutora, ali, com uma prancheta não mão, de vez enquanto escrevia alguma coisa. Mas eu estava completamente (?) mergulhado em viver aquelas palavras. Ela, em silêncio.

Na hora dos passes na assistência ela nos orientou a a sentarmos na assistência para tomarmos o passe. E ficamos ali até o término.

Ao final, nos dirigimos à mesa para nos despedirmos. A dirigente, antes que pudéssemos dizer qualquer coisa, vira-se para mim e diz: "te vejo cercado de livros. Você já leu algum livro das Obras Básicas da Doutrina Espírita?" Eu simplesmente balbuciei "não senhora". Então compre: são cinco. Leia primeiro o Livro dos Espíritas.

Agradecemos diante de um sorriso dela. E foi assim que tudo começou. Ou recomeçou.

Nesse ponto , ainda longe mentalmente do sofá que havia sentado, ouvi a terapeuta: "Carlos, hoje ficamos por aqui. Na próxima continuamos daqui onde paramos. Acho que ainda tens coisas para falar"

Sim. Isso foi o começo da caminhada.

E ela me acompanhou até a porta e nos despedimos. Até a próxima...

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