Focused Attention

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Meditação.

Era esse o hábito que precisava desenvolver.

Era isso.

Estando com Camila naquele momento conseguia perceber claramente.

Era esse o efeito que a mulher tinha nela.

Agora tentaria garantir um mínimo dessa paz na sua vida em forma independente.

Não era saudável se apoiar em alguém para ter algo tão essencial.

Iria atrás disso de verdade.

Havia tempo que não conseguia definir a sensação que tinha perto da mulher.

Mas agora a lógica se revelara num insight tranquilo.

Quando estava perto de Camila, inspirava tudo que era ela.

E expirava tudo que era desgaste...

Voluntária, tranquila e singularmente.

Os sons dos arredores eram percebidos, mas educadamente dispensados.

A constelação de pensamentos que costumava apostar corrida em sua mente se relaxava numa dispersão macia.

E quando algo surgia pedindo atenção, como o esbarrão de alguém ou a performance de um artista de rua londrino, o estímulo era suavemente descartado.

Respirava a harmonia de Camila e conseguia sentir seu corpo relaxando ao ouvir aquele ritmo.

Reparou a sobrancelha levemente divertida que preenchia o seu panorama de visão.

Contente.

Camila estava com ares de contente hoje.

Notou a definição aumentada do seu queixo, que sempre acontecia quando a restauradora sorria de um jeito mais largo.

Aquele queixo com sinais de simpatia restaurava sua endorfina.

Ela amara o croissant .

Depois da primeira mordida havia lhe encarado num misto de gratidão e encantamento.

Aquele olhar pintava seu pulmão na aquarela do mais esplendoroso quadro impressionista de paisagem ensolarada e árvores resfolegando pelo suspiro do ar rural.

Percebia suas veias trocando as batidas estressadas da rotina caótica pelo balançar de uma música cantada por alguém que realmente amava o processo de viver.

Gentil.

Acolhedora.

Carregada da nostalgia de se estar com alguém cuja companhia você realmente adora.

Aquela nostalgia antecipada.

Nostalgia pelo seu eu futuro que vai sempre querer voltar pro segundo que acabou de passar.

Enquanto olhava a mancha de tinta cobrindo alguns centímetros do seu braço preferido, que chances tinham as ansiedades da vida?

Podia ficar minutos reparando aqueles contornos.

Ai ai...

‘Quem um dia irá dizer que existe razão

Nas coisas feitas pelo coração

E quem me irá dizer que não existe razão’

Seria menos embaraçoso talvez fingir que tudo que sentia era uma determinação aleatória do universo.

Mas não era.

Conseguia identificar claramente todos os fundamentos.

Camila era toda bom coração e altruísmo e gentileza.

Modulação PolicromáticaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora