Modulação Policromática

Trdelník

Notas:

Um minuto para pegarem seus cachecóis! E, se quiserem, os fones de ouvido. A playlist da fic está aqui: 

https://open.spotify.com/user/3ygs58snotwtga4mlsh58fip7/playlist/4GXZGg8TMxHz9EUauHnqUi

Esse capítulo tem várias imagens, achei que seria até deslealdade se eu descrevesse as obras de arte que vão aparecer ao invés de deixar elas se apresentarem como quiserem.

Uma delas, por exemplo, é (esteticamente) a coisa mais bonita que eu já vi. Então seria impossível fazer justiça.

Boa leitura!

De todos os limbos do mundo, o aeroporto era o preferido de Lauren Jauregui.

Possibilitava uma pausa essencial na transição entre realidades, um momento de respiro antes do novo.

Quando do rito de passagem entre o desejar chegar ao alheio e o conseguir, formava intervalo recoberto de anseio pelo que segue.

Espaçamento entre as linhas e distância entre os quadros.

Costumeiramente padronizados, com pisos lisos para os deslizes das rodinhas que carregam pequenos universos pessoais e a iluminação que se assemelha a uma tela em branco convidando o viajante a lhe preencher, os aeroportos formam um organismo constituído por todas suas unidades.

Uma entidade em si mesmo, constelação terrena intrinsecamente internacional.

Camila e Sofia, desbravando o protocolo do desembarque, experimentavam da deliciosa expectativa de se estar prestes a conhecer um universo, mas ainda não ter vislumbrado nenhum contato com ele.

Estarem tão longe de casa e tão próximas de outro mundo, mas ainda na transição entre ambos.

Camila recebia a todo momento investidas dos olhares de Sofia, que quando atingiam o alvo, brilhavam com mais energia e se emendavam em um sorriso largo, buscando cumplicidade na empolgação.

O gorro de rena que agora aquecia sua cabecinha saltitante tornava a visão ainda mais adorável.

Rindo da pequena, ela comenta:

"Sofi, há tempos que não te via tão inquieta e agitada"

"Desculpa Mila, vou me comportar"

Juntando as sobrancelhas em espirituosa indignação, sem perder o sorriso, Camila continua:

"Não foi uma reprimenda, querida. Adoro te ver assim, me fez lembrar uma citação..."

"Qual?"

"'Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço da felicidade!' "

[Si tu viens, par exemple, à quatre heures de l'après-midi, dès trois heures je commencerai d'être heureux. Plus l'heure avancera, plus je me sentirai heureux. À quatre heures, déjà, je m'agiterai et m'inquiéterai: jê découvrirai le prix du bonheur!]

Arregalando olhinhos contentes, Sofi afirma, taxativa:

"Essa eu conheço Mila! É do Pequeno Príncipe"

Orgulhosa pelo arcabouço literário já em formação da irmã, a restauradora tenta distraí-la conversando mais sobre o livro. Desejava amortecer o golpe do processo burocrático nos ânimos nas alturas de Sofi.

Manteve-se fiel à missão durante todo o percurso até a acomodação no hotel que havia reservado, e ainda ao longo  da nova viagem de metrô que se fizera necessária para que alcançassem o centro histórico da cidade.