Capítulo XVII - Efeitos Colaterais

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Pros que ainda acompanham esse pobre escritor em hiatus:
MUITO OBRIGADO!
Esse capítulo vai ter uma parte muito romântica, mas tão romântica que vocês vão ter diabetes de tão melosa e seus olhos vão ver seu cérebro de tanto girar.
Porém, aproveitem e, novamente, muito obrigado pela lealdade.

O céu acinzentado não dava condições para o asfalto secar, formando poças de água gelada que eram pisadas impiedosamente pelos pedestres correndo para se abrigar de uma eminente precipitação. Um vento gelado cretino insistia em entrar pelas frestas de casacos e suéteres fazendo os habitantes de Elisia tremerem com o contato inesperado.

Esse vento bagunçava o cabelo de Amora, que penteou seu chanel, irritadiça. Estava em uma missão ainda mais importante que a última e devia manter a discrição. Seu cardigã de gabardine a protegia do frio cortante, mas ainda assim ela estava arrepiada de excitação.

Pegou uma esteira rolante no bairro Martha e desceu em frente a uma canteiro de obras, infestado de robôs operários. Aguardava impaciente, enquanto a cacofonia da construção martelava em sua cabeça. Consultava a hora na interface dos drones a cada dois minutos até que um carro voador planou a sua frente. A porta de carona foi aberta com sutileza e Amora embarcou. Dentro do carro estavam seu Imediato e um cabo, ambos a paisana. Os vidros inteligentes protegeriam sua identidade. Discrição era imprescindível.

Planaram até o fim da cidade, onde apenas fábricas se escondiam atrás de muros muito altos. O carro estacionou em frente a uma construção de cor granito com uma placa escrita "carnosus pomarii". Os três saíram do veículo com óculos escuros no rosto e entraram pelas portas de vidro preto do local. Passaram por uma recepção com extensos balcões de MDF e bancos plásticos a frente destes. Algumas pessoas viraram para olhá-los, mas vendo de quem se tratavam, viraram o rosto com temor.

No canto da sala, uma porta levava a um labirinto de corredores com paredes de vidro muito amplas. Eram salas da Chiqueiria, chamadas porcile, onde a cópula deveria acontecer supervisionada por Purificadores. Em cada janela, um agente da lei observava os casais terem suas relações e anotava possíveis delitos em uma prancheta.

A Chiqueiria era o local perfeito pra armar um complô, pois não tinha câmeras, apenas Purificadores (mancomunados com Amora). Esta andava pelos corredores como uma princesa em meio a sua plebe, de nariz erguido andando a frente de seus capachos. O ar tinha cheiro de sexo e desinfetante, mas com o corpo alterado pelo projeto aniquilação, Bleix podia prender a respiração com tranquilidade pra evitar o mau odor (segundo ela) de penetrar suas narinas santas.

Após muito percorrer pelo lugar, entraram em um comodo com portas vai e vem, que os purificadores usavam como cantina. A coronel se aproximou da mesa longa e sorriu com olhos violeta. Pôs a maleta que carregava em cima da mesa e desbloqueou com sua digital.

- Passamos para a fase 2 do projeto Purificação. Lembrando: todos sem exceções, deve ter passado pela experiência no Dia do Julgamento Final. Vocês terão em sua posse uma cartela com 12 comprimidos de GHB, ou seja, com uma boa administração, pelo menos doze vítimas - Amora falava em um italiano rápido e sorrindo com seu sadismo habitual. As mãos atrás das costas se apertavam quase furando uma a outra com as unhas afiadas - Até o fim do mês, teremos Cornélia em nossas mãos e ela terá o castigo que merece. Mas para que isso aconteça, devemos obedecer á duas regras: não sermos descoberto por civis ou outros Purificadores; e... - a coronel pôs as mãos espalmadas na mesa, as íris púrpura almejando a desgraça; a boca seca sedenta por sangue inocente - instaurar o caos!

O gato acordou de seu cochilo debaixo do pé de hortênsias. As pétalas lilases acumulavam orvalho e o felino as admirou por alguns segundos antes de se espreguiçar e levantar. Seu sexto sentido dizia que algo não estava bem. Decidiu verificar se todos estavam a salvo.
Entrou em casa pela portinhola de barreira digital na porta e foi no quarto da dona procurá-la. Não a encontrou.

ElisiaWhere stories live. Discover now