Capítulo XVIII - Óculos cor de rosa quebrado

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Fabian deixou o talker cair na grama junto com seu mundo. Não queria acreditar no que acabara de ouvir. Aquilo não podia estar acontecendo.

Sua avó...

A pessoa que cuidou dele desde que os pais o abandonaram...

A velha mais sem noção de toda a Elisia e, talvez, toda a Napoli...

Estava morta.

Seus joelhos bamboleavam, então o rapaz os enterrou no chão. Os pulmões pareciam estar com defeito, pois estava sem ar. Conseguia sentir o coração se esforçando para mandar sangue para o cérebro e perceber se aquilo era real ou um pesadelo. Mesmo o toque de Primo segurando seu ombro e perguntando o que acontecera não causou a costumeira sensação boa e reconfortante

Ele queria gritar, berrar e fazer toda a cidade saber o quanto aquilo doía nele, queria chorar para tentar lavar a angústia que sentia. Queria bater em algo ou alguém para descontar a frustração de saber que estava sozinho de novo.

Seu único parente vivo e que o amava, nesse momento devia estar jazendo em algum lugar do Palazzo di Ferro sendo analisado por legistas.

- Minha vó... A Patrícia... Está... - ele não conseguia dizer para não tornar ainda mais assustador. Primo a priori, não entendeu, mas o olhar desesperado e perdido de seu amado fez com que toda a culpa do mundo fosse jogada em seus ombros: A avó do seu novo amor havia sido assassinada e a culpa era dele.

O professor se agachou e segurou seu queixo com força.

- Vamos tirar essa história a limpo AGORA! - e saiu puxando a mão de Fabian, que apenas o seguia, letárgico.

Amora sabia quem era Patrícia. Sabia o impacto que isso teria para o garoto e consequentemente para ele. Ela estava começando um jogo muito perigoso e Jain estava começando a perceber a proporção que iria tomar.

Tomaram um carro de aluguel em frente ao colégio e rumaram para o Palazzo di Ferro. Mal conseguiram chegar a rua da construção pois todas as ruas estavam um lotadas em uma balbúrdia sem fim.

Pessoas subindo nos carros, tentando escalar casas, brigando ou simplesmente vagando com um olhar perdido no meio da rua. Um trânsito infernal, Purificadores correndo para acudir a todos, ambulâncias em cada esquina.

O caos estava instaurado.

Primo temeu pela segurança de todos sabendo que ele era um dos culpados por aquilo tudo. Seu conhecimento foi a maldição da cidade e agora não podia fazer mais nada. Conseguia ouvir o choro de pessoas que acabaram de perder amigos e parentes e isso o fez sentir-se ainda pior.

- Não vamos conseguir chegar ao Palazzo assim. Venha! - disse ele puxando o catatônico Fabian pela mão e saindo do carro - Pode finalizar a corrida, por favor - ele ordenou ao automóvel.

Andaram por sobre corpos de olhar vidrados jogados nas calçadas e cidadãos de pupilas dilatadas em seus mundos pessoais. Purificadores trombavam em Jain e SanTiago sem se atentar que estavam de mãos dadas. O desespero de salvar vidas era maior que as diretrizes de Pureza, e tempo era algo precioso naquele momento. A cacofonia de sirenes fazia a adrenalina de todos ficar à pico. Haviam pessoas se jogando e caindo de cima de prédios, mas nem os drones conseguiam notificar ou evitar todas.

O professor e seu aluno conseguiram chegar as portas do Palazzo di Ferro passando por uma multidão de civis. Primo puxava Fabe como se o garoto não soubesse mais andar. Este apenas o seguia em silêncio com o cérebro funcionando no piloto automático.
Passaram pelas catracas da entrada que os identificaram mas não travaram seu acesso, algo muito suspeito.

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