Capítulo VI - Que Ieowana tenha piedade de sua alma

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A viagem ao lado do senhor Jain fora rápida, mas nesse meio tempo, Primo demonstrou aptidão para conversar sobre qualquer assunto. Conversaram sobre jogos de football, sobre os assassinatos, culinária, a situação econômica da cidade, entre outros.

Apesar da conversa ininterrupta, Fabian nem sempre prestava atenção. Se perdia naqueles lábios bem desenhados.
O mesmo acontecia com o professor.
Uma felicidade inexplicável enchendo o peito de ambos.

- Bem, a conversa está muito boa, senhor Ja... Digo, Primo, mas eu desço na próxima estação. - o rapaz levantou e estendeu a mão para se despedir. O professor fechou a mão de Fabe, e negou com a cabeça.

- A cidade anda movimentada á noite. É melhor ter uma companhia - disse, levantando também. A ideia de ter um guarda-costas incomodou Fabe um pouco, mas se tratando de alguém que o deixava com àquela sensação esquisita e gostosa no peito, ele relevou.

Saíram da estação e andaram alguns metros, sempre rindo e conversando, até pararem em frente á uma casa com cerca viva. As luzes estavam todas apagadas, mas na sala a TV iluminava o cômodo.

-É aqui que eu fico. Foi um prazer estar em sua companhia - disse o garoto, formalmente. Estava parados um próximo do outro.

- Que nada, não fiz mais que meu dever. Você é uma boa pessoa, senhor SanTiago, meu dever é garantir a segurança dessas boas pessoas. - replicou Primo. Estavam mais próximos.

- Você fala coisas confusas, Primo. As vezes tenho que pensar um tempo até entender bem. - Estavam muito próximos

- Eu admito que sou um pouco confuso. Até eu me perco nos meus próprios pensamentos confusos - Estavam tão próximos que Fabe sentiu o hálito de laranja e drops de mentol na boca do professor.

Tão próximos que Primo sentia o calor emanando do corpo do rapaz...

Tão próximos que Fabian podia ouvir o coração de Primo batendo...

Tão próximos que...

Um drone passou voando por cima dos dois e estacou no ar ao ver a cena. Seu zumbido baixo produzido pelas hélices de acrílico transparente puderam ser ouvidos graças ao silêncio na rua.

Jain pensou rápido e abraçou o rapaz. A sensação foi diferente, uma euforia ebulindo por dentro. Se desprendeu do abraço com dificuldade, se despediu e foi andando de volta pra o subterrâneo.

Sem mais nada para filmar, o drone voltou á sua ronda.

Fabe ainda estava estático. Os braços e pescoço quentes. Passou pelo pequeno portão de acesso ao jardim e entrou em casa.

Patrícia roncava em sua poltrona verde, o gato também roncando em seus pés com pantufas. O rapaz riu consigo mesmo e subiu correndo as escadas para seu quarto.

Não se deu o trabalho de ver se Ioana ligara. Só queria entender o que acabara de acontecer.

Ficara á centímetros do corpo de seu professor de educação física. Como diziam seus ancestrais, "Que diabos foi isso?"

E àquele abraço? Ieowana, como vivera tanto tempo sem sentir um abraço daqueles?

Não.

Isso não estava certo! É errado, é impuro, pecaminoso, sujo. Tentou se desligar desses pensamentos enquanto tomava banho e escovava os dentes, mas ao deitar na cama os pensamentos voltavam.

- Não posso te amar, Primo Jain. - um lágrima de medo escorreu pelo canto do olho arregalado.

Seu joelho tremia descontroladamente, suas mãos suavam mesmo no frio do metrô. Á toda hora as passava no rosto. Tinha que se afastar dele. Ele é um professor e Fabian um aluno. Viver é mais importante que amar.

Ioana saiu do cinema cuspindo fogo pelas ventas. Durante todo o filme o capitão do time de futebol passara a mão em seu joelho.
NO JOELHO! Tantos lugares mais interessantes para se passar a mão e ele deixou a mão no joelho? Ora! Tudo bem que o maldito lanterninha não dava sossego também, mas não custava nada tentar fazer uma coisinha mais ousada.

- Io, você está bem? - perguntou Joun, apertando o passo para acompanhar a moça.

-Sim, Joun, tudo bem - respondeu ela, sem muita convicção, andando em direção á estação de metrô. O rapaz pegou em sua mão e confessou:

- Olha, eu sei que não nos conhecemos muito bem, mas eu queria que soubesse que... - ele parou um pouco para pensar e disse de maneira quase inaudível - Eu gosto de você. Muito. Não consigo parar de pensar você um só segundo e...

- Joun, Joun, eu estou muito lisonjeada, você foi incrível e tal, puxou minha cadeira para eu sentar, comeu o mesmo prato que eu mesmo achando horrível, quase me bateu quando opinei sobre dividir a conta - começou ela, enrolando a ponta dos cabelos soltos. - mas eu estou te conhecendo ainda, não posso afirmar que sinto o mesmo entende?
A moça segurou ambas as mãos do rapaz é continuou:
- Vamos continuar nos vendo e conversando, okay?

O rapaz, meio hesitante e suando na camisa social lilás, confirmou com um meio sorriso. Beijou a bochecha de Ioana e desceram as escadas do metrô. Após esperarem nos bancos de banco de plásticos da estações com as mãos dadas, os últimos trens da noite pararam. Ioana se despediu com um beijo na bochecha de Vérd se dirigiu para o trem que ia para as periferias da cidade. Este abriu as portas, liberando ar gelado fazendo a moça se encolher no seu casa de pele falsa de coelho.

Joun entrou no trem para a parte central e encontrou seu professor ali sentado com as mãos em garra. Uma expressão de dor tomava seu rosto. Vérd se aproximou lentamente da figura e tocou seu ombro.

Com os olhos arregalados o treinador olha para o aluno como se não o visse ali. De repente, como se estivesse com raiva, mostra seus dentes para o rapaz.

Joun se afasta e senta em um banco ao fundo do trem, mas de olho em Primo.

Jain também olha pra onde ele está, mas suas pupilas dilatadas não vêem o senhor Vérd.

Tá aí o capítulo completo. Ficou curto, eu sei, tá horrível, eu sei, mas são partes importantes e eu não quero deixar vocês esperando tanto pela história. Enfim, tá aí, rapeize, um capítulo "beim romantiku".

"Que a paz de Ieowana esteja até o fim dos tempos covosco"

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"Que a paz de Ieowana esteja até o fim dos tempos covosco"

ElisiaWhere stories live. Discover now